sábado, 31 de janeiro de 2009


V Série

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VÍCIOS PRIVADOS, PÚBLICAS VIRTUDES
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Aqui vai um presente para consolar o Jaime desejoso de Irish coffee:

http://www.youtube.com/watch?v=eeEbsttGCi8


Agora a história fica por tua conta, só sei que é sobre uma jovem menina que conta ao seu pai a sua adoração por café, trocando tudo por esta bebida incluindo namorados!

MB



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Amada Minha,

EXPIRAÇÃO

Eu não sou libretista nem estudioso de libretos!


Sei que, por alto, a Cantata do Café conta a história de um pai que tem uma filha em idade casadoira, viciada em café e que não o troca por nada deste mundo:

Nem pela varanda, nem pelos passeios, nem pelos namorados e que então, entre pai e filha se desenvolve um braço de ferro onde, final feliz (!) e a contento da filha, esta acaba por conseguir conciliar a sua sofreguidão por tão deliciosa bebida com um namorado à altura de os aceitar aos dois e que o pai se acaba por conformar com tal situação ...

Às vezes, parece que nos esquecemos mas o vício vem de longe ...!

A própria vida é um vício, agarramo-nos a ela e de que maneira (!), de tal maneira que, mesmo quando há um suicídio ele se dá também e eventualmente para que, aos que cá ficam, por aquela vida se sintam, finalmente, marcados, julgada justa ou injustamente por quem o pratica, não suficientemente notada, valorizada, acarinhada muito menos.

A vida, tal como o vício, mata!

Vive-se porém e hoje, numa tal paranóia do que se deve ou não publicamente fazer que o espaço público invadiu o privado num tal sufoco que, por vezes, mal se consegue respirar.

Há causas para que tal aconteça e muitas delas, convenhamos, prendem-se com o que se fazia e ainda faz dentro de portas e que fugia como muitas vezes continua a fugir para um território que parece estar ao abrigo do domínio como da condenação públicas, dando azo a todos os inomináveis.

Posta esta ressalva nada dispicienda, conto um episódio:

Há uns tempos, encontrando-me a fumar no passeio público, cruzo-me com um médico meu amigo que logo exercendo, extremoso, os seus cuidados, vira-se para mim e diz-me:

- Melhor seria se o meu amigo não estivesse a fumar!

Respondi-lhe então e prontamente:

- Sabe doutor, eu só gostava era que um dia fosse possível fazer um estudo onde se conseguisse determinar a importância da variável prazer que é tão subjectiva (!) na saúde e longevidade de cada qual. É que, só assim se percebe que haja centenários que morrem com a beata na boca!

- Tem razão meu amigo, respondeu-me o médico sem saber como retorquir.

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INSPIRAÇÃO

Foi preciso entrar em vigor a lei restritiva do tabaco em locais públicos para me dar conta de até que ponto, antes, imperava a ditadura do fumador.

Ajustei-me sem grandes dificuldades às novas regras e com elas tenho convivido sem por isso me passar a sentir, particularmente, discriminado.

Mas, conto agora um outro episódio:

Estando na fila, ao ar livre e à porta da Repartição de Finanças à espera que esta abrisse, puxo de uma cigarrilha e acendo-a com o cuidado, como sempre tenho, de não bafurar para cima de terceiros.

Atrás de mim, uma senhora aborda-me e diz-me com ar lastimoso:

- Não se importava de sair da fila e ir fumar afastado já que o fumo me incomoda!?

- Minha Senhora, respondi-lhe e também aqui prontamente, eu não estou a fumar para cima de Si e além disso estou na rua e ao ar livre, por isso, neste contexto, discrimine-se a Senhora se quiser porque eu não faço tensões de sair daqui!

E lá foi a senhora, resignada, discriminando-se e de castigo, aguardar a sua vez fora da fila e eu, pacatamente e diante do silêncio gélido e expectante que se instalou, continuei a saborear o fumo a que tinha direito.

Que saudades de um futuro em que imperassem as regras da boa educação:

- Importa-se que fume!?

E já desanuviado o ambiente e sem os constrangimentos de antigamente onde raramente alguém se atreveria a dizer sim, importo-me (!), estas então, fizessem o seu percurso sem tanto não, é proibido ou faz mal à saúde!

Como num salão russo em Nova Iorque ...!

Num sótão dos avós como o é e no melhor sentido o Hermitage onde Aleksandr Sokurov e num único dia realizou a Arca Russa percorrendo séculos de História da alma russa que é também, é bom não esquecer (!), a europeia.

E onde se dança e rodopia pelos salões respirando longamente ou na roda dos amigos se desafia:

- Vai uma pitada de rapé!?

Esse, ao menos, não tem a ele o fumo associado!

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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Janeiro de 2009

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009


V Série
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COM A SERENIDADE POSSÍVEL
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( ... )

Calma Jaime, que o café deve saborear-se gota a gota, grão a grão, como se vivessemos todas as vidas que com ele se cruzam ou cruzaram, como se com ele bebessemos a nossa própria vida.


( ... )
Ana Cristina, Nini
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ANA CRISTINA

Querida Nini,

Cito-a da reflexão por Si produzida em O Sótão dos Avós e onde, com palavras sensatas e alegorias sábias como as que encabeçam o que aqui Lhe escrevo, me aconselha calma pelo sorver da vida nas suas múltiplas texturas ...

Como Lhe agradeço o conselho!

Texturas de muitas vidas como é a vida de cada um de nós.

Eu como todos nós, sou eu e muitos eus com toda a profundidade do tempo acumulado desde os primórdios ...!

Gota e mais gota, grão e outro grão que na ampulheta se depositam em sedimentos contando o tempo e vindos de onde mais, do Passado ou historial que nos molda e do Futuro tornados em um só apenas, dos grãos que ainda estão por gotejar e que a própria ampulheta, tão bem visualiza na serenidade com que, com todo o contimento, ao passar das horas as torna mesuráveis ...

Tenho a calma, a serenidade possíveis, minha querida Nini!

Mas é bom que me alerte para o facto e pese embora e como noutro passo o escreve, a minha pedalada ...

Tranquilizo-A deste modo:

Em Turner se amansam as tempestades e se avistam na bonança, bucólicas paisagens num impressionismo precoce de extasiar as almas;

Em Ravel e pelas mãos de Michelangeli e na batuta sábia de Celibidache interiorizando o andamento a que o primeiro evolui a solo se imprime o andamento em que resulta, pela fusão das partes, este segundo andamento do concerto, suficientemente cómodo ...

Tem razão, Minha Amiga, ajustemos pois os ritmos a que, confesso-Lhe, ainda não me habituei ou ajustei neste contexto dos blogues e para o qual, tão sabiamente me alerta como também minha mulher o havia dito e escrito já.

Vou tentar e sem que seja também em prejuízo dos meus timings, acertar os passos.

Muito obrigado, Seu e sempre

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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Janeiro de 2009

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009



V Série

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VARIAÇÕES

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Esperei só, com o meu bloco de notas, rabiscando à maneira de Pollock, sugestionado pela Google em busca de uma chave, de um link que me desse acesso ao passo subsequente.

Como se fechado num estúdio e encurvado sobre mim mesmo, fechado nas minhas tramitações, saltando variante e sem aparente continuidade, longe do público e das gentes até que o café ficou vazio e me convidaram a sair ...

Como um Gould dispensando os espectadores mas convicto de deixar ali, em laboratório, não apenas uma interpretação ímpar mas também um fio de voz extra, condutora do que os dedos no teclado digitavam, pensamento vagamente audível que à dança dos seus membros interligava em sublime interpretação que se se bastava a si mesma, também para a posteridade ficava registada.

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Aquela ária ...

Abertura e final das Variações Goldberg pontuada, como chave ou solução enigmática do que, pelo meio, se sucede, a abrir e a fechar o ciclo antes da retirada de cena, nuns bastidores que, deles ciente, se perpetuam.

Despida de ruído desnecessário na pureza possível, viril e intimista que os seus dedos tocam e a voz, em improviso harmónico os encaminha sem a porosidade recalcitrante do imprevisto.

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Tenho ainda tempo de cantar em murmúrio um pouco mais.

Na penumbra que se faz e que, como num estúdio a sublinha, absorve o silêncio as minhas mágoas e a luz que sobra, de uma brancura crua e fria, pontuada de laivos de um azul celeste que se derramam dos espelhos que o ambiente vazio transporta e o próprio piano reflecte na sua superfície negra que pela fusão das cores em musicalidade só, paradoxalmente, logo se expande, olho o artista e com ele me identifico nesta trilogia que se apresta a concluir.

Acaricio a cadeira em que me sentei como se essa fosse a de Glenn Gould, na heterodoxia da sua forma de tocar e dando-me a esse luxo como ele sabendo que o que importa é o que fica e independentemente de um percurso mais ou menos de acordo com qualquer norma estabelecida.

E toco cada vez mais convencido ser uma incontornável verdade artística aquela que diz que se a interpretação é boa, se a Obra tem valor intrínseco, por mais que ela fique fechada na gaveta, escondida num estúdio dos olhares públicos ou votada ao aparente esquecimento ela há-de-se impor e tanto mais quanta a vergonha que acompanhará e esmagará aqueles que a tentaram, em vão, obliterar.

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Jaime Latino Ferreira

Estoril, 28 de Janeiro de 2009

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terça-feira, 27 de janeiro de 2009



V Série
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O PAÍS DAS PRAXES
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Ressequida mas resistente, no cume rochoso e exposto, agreste, persistia em manter-se de pé a árvore a lembrar um bonsai, a erguer-se quase nua e furando o nevoeiro.
Contava para quem a ouvisse uma história:
Nasci no país das praxes e por isso me vedes agora retirada no mais alto desta montanha onde ninguém, quase viva alma me chega e onde desfruto da mais ampla vista que me alimenta e por sobre o nevoeiro que tolda, cega os caminhantes que por atalhos se perdem desencorajados por tanta arrogância.
No país das praxes cultiva-se, à falta de lugares ao Sol e pequenino que é, a convicção implícita de ser esta, a praxe, a melhor forma de integrar quem quer que seja.
Canto-vos como um clarinete que toca e faz tremer os tiranetes, que afasta o nevoeiro e que replica ecoante cumes fora amplificando-se por todas as cordilheiras ressoando deslizante pela terra e até ao mar sonante e profundo.
Fui sujeita a todas as praxes:
Na escola e por repetidas vezes, pura e simplesmente por nunca ter abdicado das minhas fidelidades ou por na minha indignação delas não ter jamais prescindido;
Na minha tribo onde das minhas diferenças nunca me dispus a abdicar também;
Profissionalmente porque por mais precários que tenham sido sempre os meus vínculos laborais, tal nunca me impediu de dizer de minha justiça e mesmo que tal significasse, como significou e amiúde, a dispensa dos meus serviços;
De há vinte anos a esta parte durante os quais, praxado sistematicamente pelo silêncio este apenas e sempre me interpelou e fez crescer em Obra o que, ao invés e calando me teria remetido ao oblivion ...
No país das praxes entende-se que o desenvolvimento e a aprendizagem, o crescimento, em suma, não se concluem sem a aceitação da humilhação e essa sim, faculta as habilitações sem as quais se é pouco mais do que ninguém.
Muitos se atiram então a um canudo como se diz, a um grau ou título de doutor ou engenheiro e fazem tudo para o obter.
Cristalina, esta liturgia replica-se e a Democracia teima em não vingar senão pelo formalismo sufragista onde é práxis seguir-se a romaria do beija mão dos dignitários, embora nele, nesse país se viva em República.
Arruinada como uma velha abadia, a coisa pública, não espanta, tarda em ser identificada e reconhecida e tanto mais quanto assumida assim, com desassombro e para quem a queira ver.
Por isso e neste país, aqui me refugio como um bonsai ou árvore só no cume da montanha, repelindo messianismos, sebastianismos como entre nós os chamamos, que permanecem e que teimam em nublar os céus, na cegueira de tanto nevoeiro que aos seus lhes persiste em toldar as faces e a vista.
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Janeiro de 2009




V Série

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O SÓTÃO DOS AVÓS

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No sótão dos avós cabe tudo

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Cabe um majestoso café
Com uma ópera lá dentro
O Cavaleiro da Rosa
Na decadência aterradora
De impérios nacionalistas
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Na encruzilhada de todos os chauvinismos
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Toda a lembrança do que teria sido
E já não é
Ou nunca foi
Mas que na música e pela palavra
Se transfigura em algo mais
Como uma rosa
Na nobreza dos gestos
E das vozes
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De espinhos adelgaçados
Limados pelo tempo
E recriados
De odor cheio
Que ao sonido da orquestra
Nos transporta a outro tempo
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Saudade de um tempo que não tendo sido
Porque era cedo
Mas sempre desejado
Chorado está para vir

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Um tempo melhor
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Janeiro de 2009




segunda-feira, 26 de janeiro de 2009


V Série

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QUANDO SE ESCREVE

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Quando se escreve é como quando se pinta ou toca ...

Faz-se!

Pratica-se e mesmo que se teorize.

Vive-se tão intensamente que é como se cada letra ou palavra, na sua conexão com as outras, na semântica da sintaxe, abrisse janelas exploratórias, interfaces com as outras formas de expressão artística, da música à pintura e todas prenhes da intensidade, do pathos criativo ...

A obra do artista plástico é uma que somada à escrita e banhadas ambas pelo fundo musical de não menos grandes artistas, ganham relevo, outra dimensionalidade, densidade, animação.

Na sua conjugação, por seu lado, e da fusão do indutivo com o dedutivo espraia-se a abstracção, o rigor da fórmula matemática imbuída de Estética.
A vida então cresce, sobredimensiona-se e ganha contornos apenas vagamente pressentidos.

Quando eu escrevo é como se me visse a mim mesmo e me pintasse, retocasse cheio de música.

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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Janeiro de 2009

domingo, 25 de janeiro de 2009




V Série

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Entalhe

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Entalhe de uma mala é porção
É sonho que te cabe numa mão
Da mala fica o cheiro a alfazema
Odor com que escrevo este tema

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Tem a tua alma o meu lema
A força com que escrevo minha rima
Vontade em guardar de supetão
Desejo cheio de vida sem senão

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Rasgo ou ranhura se encima
Abre-se na mala o coração
Pertences se aconchegam nesse vão

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A mala é só imaginação
Polvilha feminina minha enzima
Licor feito de água e pura lima

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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Janeiro de 2009
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http://www.youtube.com/watch?v=3ixRJezyGoA

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sábado, 24 de janeiro de 2009



V Série

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DIÁLOGO

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Amigo,


Antes de mais Bom dia!


E parece mesmo ser um dia bom, pois a chuva foi embora e o sol brilha.


Vamos então ao que interessa:


O meu Amigo diz numa das suas conversas que tem com os seus comentadores, que gostaria que os comentários deixassem de ser aprovados por Si... compreendo perfeitamente o que diz mas não o aconselho a tal fazer. Muito simplesmente há milhares de pessoas que todos os dias se passeiam pelo mundo da blogosfera, e há sempre aqueles que não respeitam pura e simplesmente nada nem ninguém e pode-se arriscar a ter comentários absolutamente absurdos para não dizer indecentes.


Eu sei o que digo pois, por vezes. encontro comentários desses em alguns blogues , ou vejo comentários que foram eliminados e os proprietários dos blogues a queixarem-se e a manifestarem o seu desagrado.

É por isso que acho que tal não deve fazer, ir-se-ia sentir ultrajado.


Todos nós, aqueles que visitamos a Sua casa, nem por sombras o quereríamos ver desanimado.


Um grande beijinho sempre extensivo à Doce Manuela


Filomena
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FILOMENA

Minha Querida Amiga,

Antes de mais, começo como a minha Amiga (!), obrigado por esta Sua reflexão que, perdoar-me-à, decidi, unilateralmente e logo, sem Lhe pedir licença, editar em primeira página.


Faço-o um tanto receoso da Sua reacção mas como o que me escreve tem a marca da inconfundível preocupação de amiga que com o Seu amigo se preocupa, logo por isso não vejo porque não o deva fazer e é mesmo gratificante que essa preocupação, à cabeça, seja destacada;


Faço-o ainda porque vão sendo vários e significantes os Seus gestos de amizade logo a começar naquele em que sem me prevenir e para minha grande surpresa, me deu este blogue, prontinho a ser utilizado ou teclado, mais a condizer com a bonita fotografia que escolheu para o emoldurar;


Faço-o depois e também porque muito antes de poder usufruir deste meu blogue, já a minha Amiga me editava no Seu, no em segredo como em A minha Vida é Só Minha!, o que, no melhor sentido me obriga a mim a corresponder-Lhe dando-Lhe o devido destaque.


E como no que me escreve não se contém nenhuma inconfidência por um lado e pelo outro chama à colação a eventual inconveniência de comentários que a não serem sujeitos ao crivo do autor o poderiam levar a sentir-se ultrajado, sendo este um assunto de reflexão candente, achei por bem, não só destacá-lo, ao assunto, como a entrar em diálogo Consigo e também por aí, só o poderia fazer se a Si a colocasse editada nesta página e com igual destaque.


O diálogo faz-se de igual para igual e essa equidade também se afere pelo destaque concedido!


Mas o diálogo, mesmo se apenas entre duas pessoas, também é trino, triangular, trinitário, é como um trio onde havendo um solista, o músico que no momento sobressai, toca ou canta, dialoga, por outros dois também é acompanhado e mais, onde o seu solo, sem os outros dois, pouco sentido faria e mesmo que desafinem ...


Ao falarmos os dois um com o outro, aí também há um terceiro vértice e que ora está em Si como em mim e a que chamaria esforço de distanciamento ou ponto de encontro que às duas partes as une em busca das pontes de entendimento resolutivas.


Diz Amélie no site que logo a esta minha carta se segue que é melhor consertar a vida dos outros do que a de anões de jardim ...!?


Ao que ela diz acrescentaria que sim, que tem razão, mas se eu conseguir não deixar os anõezinhos de fora, tanto melhor!


Quero com isto escrever que se é certo, poderei ficar sujeito a um enxovalho se não exercer o meu crivo autoral, só me enxovalho se me deixar enxovalhar, impressionar com algum impropério e não conseguir dar a volta ao texto coisa que com modéstia julgo saber fazer, isto é, arranjar maneira de por mais baixo que desça o nível da conversa, conseguir sempre dar-lhe a volta e para isso, diz-me a experiência, basta que o queira, isto é, que seja essa a minha intenção já que calo não me falta.


E depois, minha Querida, sabe, este processo do crivo que gostaria de eliminar do meu blogue e pesem embora todos os estremosos cuidados que tem comigo no desejo de me salvaguardar e embora nos blogues por onde tenho circulado, A Casa da Venância, os Seus, o Sete Mares, Olhar de Xisto e Diário de um Paciente como em salvadorvazdasilva, nunca o tenha sentido, muito antes pelo contrário, lembra-me sempre o lápis azul!


Filomena,


Prefiro impropérios a amens, o desafio de conseguir-lhes dar a volta e mesmo se me sinta chocado mas tocado (!), do que um cinzentismo unanimista onde as pessoas, no fundo, não se deixam tocar de todo limitando-se a marcar o ponto.


Que me diz!?


Se depois do que Lhe escrevo aqui, achar que tenho razão e muito embora tenha a Sua do Seu lado (!), pode explicar-me, inclusivé na caixa de comentários, como poderei eliminar o meu próprio crivo ...


Agradeço-Lhe e no entanto, todas as Suas atenções!


Reconhecido, um grande beijinho para os Seus como para Si, Seu


Jaime Latino Ferreira


Estoril, 24 de Janeiro de 2009


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http://www.youtube.com/watch?v=pCSxAhAkGiY

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http://www.youtube.com/watch?v=hWpcUrw44HM


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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

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V Série

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MONTAGEM

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Linhas sonoras

Quais peças que se encaixam

Puzzle

Labirinto de ideias justapostas

Uma e outra voz

e mais

Harmónico

Arquitectura cromática do som

em

Arco-íris

Sustentam-se as linhas deste tema

num só

Poema

Como se fosse um teorema

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http://www.youtube.com/watch?v=PgvJg7D6Qck

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Jaime Latino Ferreira

Estoril, 23 de Janeiro de 2009

terça-feira, 20 de janeiro de 2009



V Série

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TOQUE MARAVILHOSO

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Deixai-vos tocar por Deus
Ainda que Deus seja
Um Eu entre
Mim e o meu Outro
Eu
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Deixai-vos tocar oh grandes
Do meu e de todo o Mundo
Porque Eu sou igual e nu
Nasci pobre como
Tu
-.-
Deixai-vos tocar pequenos
Todos demais que nos vemos
Tu pelo Eu
Todos
Porque o que sabe não perdeu
-.-
Deixai-vos tocar amantes
De todos vindos
Quadrantes
Sou igual ao que nasceu
Por Ti sou apenas Eu
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Janeiro de 2009
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domingo, 18 de janeiro de 2009



V Série
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PAZ
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Esvoaça a pomba com o ramo de oliveira
Como a alma do poeta feminina
Vai de quadro em quadro como em feira
Silhueta de mulher que não enquina
-.-
Tem a voz do cello como enzima
É do silêncio só que ele se abeira
Castelos não são mais do que uma quina
Vibrantes os olhares de sua eira
-.-
Ouve-se o cantar na sua esteira
O som de um arco manso que ensina
A esperança que se ilude é matreira
-.-
Faces maviosas à maneira
Dos grandes que as pintaram é a sina
Libertas dos algozes que se queira
-.-
-.-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Janeiro de 2009

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

V Série

( ... )

Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem
( ... )
( Sophia de Mello Breyner Andresen )

-

FEMININO

-

Eu sou eu e o Outro eu

Sou X e Y

Tenho da mulher o toque invicto

Do homem a vontade do convicto

-.-

Eu sou eu e Tu Mulher

Sou força de uma mãe

De um pai o ser

Sou toda e tudo o mais que quiser ver

-.-

Sendo mulher eu sou um homem nu

Definitivo ser

E o saber

-.-

Dor que se sabe o que é sofrer

Saudade carregada

Vivo instante

-.-

Definitivo bem

Amor constante

Tudo o que se carrega de levante

-.-

Mulher eu sou e o infante

Gigante sem o ser

Sou tu

E eu

-.-

Mulher se apercebeu

Ao ver o céu

Descobre-se sem véu

No que sofreu

-.-

Sou teu e meu

Homem Mulher

Gritai pois insensatos

Que meus actos

Aos vossos contrapõem

Estes factos

-

Jaime Latino Ferreira

Estoril, 15 de Janeiro de 2009

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-

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


V Série


DUETO DE MUITAS VOZES



Primeira Voz

Escreves-me e eu emudeço secando as lágrimas que choro...!
Ressoa ainda o teu cantar, minha adorável ladra, no pé ante pé que pela calada da noite me insinua que pare de chorar e colha a rosa, sem espinhos que és tu (!) e que cante a vida, por mais solitária que seja a minha voz ao vê-la, à tua e perplexo, juntar-se à minha e que emerge, voz que entre as vozes se destaca e ecoa vinda do silêncio a afirmar que sim, que não estou só, que a tua já canta junto à minha, que somos dois já, reversos um do outro que se amplificam, duplicam síncrones no universo.
Que formamos um dueto, harmónio de muitas vozes ou compacto polifónico que se dá aqui e sem peias como se disséssemos que uma, apenas (!?), faria muito pouco.


Segunda Voz
Escreves-me e eu colho a rosa livrando-a dos espinhos agrestes ...!
Ou talvez não!?
Que os há, há-os tantos mais quantas as opções feitas e que não descartamos mas, passada a mudez que me provocaste e desta voz que não se cala, ergo-a de novo em canto surdo, cantando a vida e o amor, pedindo-te, quase a medo, licença e guardando a rosa e o ladrão de palavras junto a mim, segredando história de embalar.
De reis e de princesas, rainhas e homens comuns, de heróis anónimos a erguerem-se em vozes, mas com gana e na saga de um mundo melhor!
De artistas com génio, pintores de beijos e de rosas, das margaridas que te ofereço na volta, pois sei ser esta a tua flor favorita, aquela com que alegras a nossa casa.



domingo, 11 de janeiro de 2009



Ladrão de Palavras


Eu sou o ladrão
Que na noite calada
Na noite gelada
Te enfeita o coração

Eu sou o ladrão
Que te sopra sonhos
Transforma desejos
Pausas e arpejos

Eu sou o ladrão
De estrelas e ventos
Falésias e marés
Sons e pensamentos

Eu sou o ladrão
De palavras e música
Desenho a carvão
Saudades e tempos


Eu sou um ladrão...
que no dia 11 de Janeiro de 2009 te roubei o blog para te dar os parabéns e nunca pensei que fosse tão fácil!

Manuela da Silva Baptista


"Lascia la spina cogli la rosa"



http://www.youtube.com/watch?v=0qv88wKEA5M

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009


V Série
.

DEIXAI-ME CHORAR

-

Deixai-me chorar
De lágrimas soltas
Deixai-as revoltas

No meu andar

-.-

Deixai-me que a dor

Que sofre de amor

Se instale no seio

De um vulto que veio

-.-

Deixai-me

Deixai-me

Deixai-me cantar

Sem que a minha voz

Se oiça ao deitar

-.-

Deixai-me sofrer

A mágoa de ver

A dor dos que sofrem

Sem terem poder

-.-

Deixai-me morrer

Deixai-me voar

No brilho das águas

Azul do luar

-.-

Jaime Latino Ferreira

Estoril, 8 de Janeiro de 2009

http://www.youtube.com/watch?v=peJxkzPSQFg

terça-feira, 6 de janeiro de 2009



V Série

MÚSICA

A palavra música

tem

em português

seis letras

-.-

Em alemão

Musik

tem cinco

-.-

Mas quantas tenha

tem-nas todas

as que na música

se alojarem

-.-

Todas

-.-

Tem-nas todas

e mais as que de um rei

se ofereçam a uma Criança

-.-

Caixinha de oiro

incenso e mirra

-.-

( Dedicado a À Música, An die Musik, canção de Franz Schubert para voz e piano, no Dia de Reis )

-.-

Jaime Latino Ferreira

Estoril, 6 de Janeiro de 2009

http://www.youtube.com/watch?v=Pt19nrxdVb4

V Série

DÁDIVA

A cordei
-
M anuela
U ma
S ereia
I luminou-me
C laro
A li
-
D oce
A lvor
S ilencioso
-
P or
A ndar
L á
A
V oar
R ondando
A
S ilvar

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Janeiro de 2009

domingo, 4 de janeiro de 2009

V Série
-.-
TEMPESTADE
-.-
Erguem-se os ventos sem bondade
Agitam-se as ondas nos rochedos
Varre-se o tempo sem saudade
Fundem-se como braços arvoredos
-.-
Caem na minha luz todos os medos
Sombras se agigantam sem idade
Brumas que dançam dos enredos
Da história que replica e é cobarde
-.-
Mas logo me enxugo e em mim arde
Vontade que é maior do que os trovedos
Raio que se acenda e não apague
-.-
Salpico-me então de meus folguedos
Afugentam a borrasca e o alarde
De toda a vã cobiça de teus dedos
-.-
( Ao som do terceiro andamento da sonata A Tempestade, para piano, de Beethoven )
-.-
-.-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Janeiro de 2009
V Série
AO PIANO
III

Sentado ao piano, agora virtual que o próprio cabeçalho do blogue, mostrando-o ao pianista o esconde porque digitando já noutra atmosfera, a virtual, sublima a voz no silêncio da palavra que se dá e canta hinos de paz.
Construídos numa cultura de guerra assente na convicção espúria de que a afirmação de uns se faz contra e na exclusão dos outros, esborracham-se as notas em desalinho, pífias de uma trilogia ou sonata que neste terceiro andamento, num ritmo e cadência aleatórios, cede ao improviso nada ortodoxo do desalinho completo e nada escolástico, com força bruta como a do grito e da revolta tentando uma vez mais e por fim abafar o caos, a desgraça e a desordem pelo ruído ensurdecedor do teclado a terminar num decrescendo imenso até se extinguir no silêncio.

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Janeiro de 2009
V Série
AO PIANO
II

A distribuição dodecafónica por dois braços ou lados nas suas extenções, as mãos e pelos seus ao todo dez dedos no equilíbrio, balanço e tensão precisos dá ao toque aquilo que a humanidade, no seu difícil convívio se obstina em não aprender na arrogância com que as artes continuam a ser olhadas na disputa nada transversal dos saberes:
Que é pela inclusão harmónica e ainda que consonante ou dissonante que o caminho se faz não dispensando lados e perspectivas numa construção pianística e multilateral, arquitectura que se alicerça tanto na horizontal como na vertical.

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Janeiro de 2009

sábado, 3 de janeiro de 2009

V Série
AO PIANO
I
Atabalhoadamente e como se num glissando, percorrendo aleatoriamente os dedos pelo piano, sentado frente a ele, disponho-me a enfrentá-lo.
Digito o teclado e ganho balanço ciente de que a sala de espectáculos se amplificou, que a música a tocar se se continua a dirigir a um público de câmara faz nela recair os olhares e os ouvidos do auditório imenso de uma sala virtual.
Sem dimensões ou volumetria rigorosas, nem área nem número definido de lugares ou espectadores, leitores que desejo interactivos, pró-activos e que me obrigam, não porque o que escreva se altere na transição de um registo off para outro, agora, on, mas porque tão só, da dimensão virtual do espaço destinatário, na sua amplificação, tal facto me obriga por deformação talvez, a encarar e a colocar, embora por escrito, a minha voz ou o meu soar de outra maneira e com um enfoque a que as novas circunstâncias, inexoravelmente, impõem!
Sentado ao piano patinho das teclas brancas ou naturais para as pretas ou alteradas no aquecimento há muito esquecido que do instrumento cresceu em mágoa antiga que sobre ele se reclinou na transição para a voz adulta ...
E ponho-me a tocar com a força da orquestra toda que o piano sintetiza, a abafar gritos de guerra e torcendo pelos vivos!
E toco e toco mais, dando início a esta V Série que se quer profícua e cheia de vozes para lá dos acordes que aqui deixo na esperança de mais e mais ainda.
Polifonia é o que cantam as vozes mesmo se amarfanhadas pelo caos, a desgraça e pela desordem.
E canto, e toco mais!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Janeiro de 2009