domingo, 28 de fevereiro de 2010

NUA MUSICALIDADE

La nudité retenue
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Passada a turbulência que me ocupou as duas páginas anteriores, retomo o formato a que Vos tenho habituado ...
Poderia, a partir de agora, prescindir das ilustrações tanto musicais como gráficas mas, se é certo que aqui escrevo na intenção que a música das palavras delas sobressaia, as ilustrações não deixam, julgo, de concorrer nesse sentido.
Sei que um texto ou vale por si e logo pela imagética musical que o emprenha ou não há ilustrações que a ele o possam dela potenciar mas, a forma que, neste caso, é já e em si mesma conteúdo, aos conteúdos intrínsecos do próprio texto os valorizam tornando-os, quiçá, mais apelativos!
É por essas e por outras que a inesgotável reflexão à volta da importância relativa da forma e do conteúdo se torna, por vezes, demasiado oca, supérflua e sem sentido.
Se me perguntam porque criei este meu blogue, responderei que o fiz pela inesgotável musicalidade contida na palavra e que de mim se jorra como o podereis ou não, ao longo deste meu blogue, testemunhar e ao encontro do desafio proposto por Maria Emília que no Seu próprio blogue , http://talqualsou.blogspot.com/, nos apelava a que explicássemos porque tínhamos feito ou criado estas nossas folhas ...
Empurrado por muitos que mesmo sem me conhecerem à minha escrita, nua e despojada incentivaram e pela Filomena Claro em particular, http://filomena-emsegredo.blogspot.com/, que nestas andanças, sem que, hoje ainda, A conheça pessoalmente, me ofereceu este blogue prontinho a utilizar, aqui estou!
Um texto, prosa ou poema, ou vale por si mesmo ou não adianta de nada alindá-lo!
Mas, se a uma coisa à outra a reunirmos, forma e conteúdo, o que se poderá daí potenciar ...!?
E no interior das caixas de comentários, que foi onde conheci Filomena Claro, onde, aí sim, deixa de se patentear o subterfúgio da forma?
Se o que aqui escrevo me responsabiliza e contém, não o escondo, outros objectivos que vão muito para lá dos literários que da minha escrita, eventualmente, se revelem, afianço-Vos que no aparente deserto sem forma das caixas de diálogos, aí sim, se põe à prova a música que é em si mesma diálogo e que está ou não presente num texto despojado e desformatado, na sua irresistível nudez!
Aproveitei este blogue que me foi oferecido como ferramenta que, valorizando a escrita, à palavra, lugar sagrado, a potenciasse como arma de dimensões e alcance ainda hoje por aferir cabalmente e nos quais me obstino em persistir.
Eis porque aqui estou, neste blogue que me ofereceram!
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saudades do manuscrito
sem mais nada do que o escrito
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Fevereiro de 2010
second skin

sábado, 27 de fevereiro de 2010

OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Não ilustro esta página, nem com música e nem com imagens, para que me centre, exclusivamente, no texto!
Assim, ele também musical (!), sem fugas nem escapes, o silêncio ficará a adorná-la ...
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Só não muda de opinião quem não a tem e eu, na sequência da página anterior, mudei-a!
Por vezes, refiro-me ao assalto, intrusiva invasão de que foi alvo este meu blogue, reaje-se lentamente e aos bochechos.
Assim, ainda a propósito do comentário pesporrente editado em 464 páginas do meu blogue, venho, de novo, à liça para Vos dizer:
Eliminei-o definitivamente excepto até à caixa de comentários da minha página de 16 de Fevereiro último em que a ocorrência da sua eliminação ficou registada para que os diálogos que nessas caixas tiveram lugar pudessem fazer um mínimo de sentido ...
Mas, o que é facto, é que decidi eliminá-lo!
Dito de outro modo, resolvi exercer a censura.
Ele há limites para tudo, para a liberdade de expressão incluída e apresto-me agora a justificar-me:
Saibam que eu próprio não cliquei sobre aqueles caracteres, usados tão abusivamente, para ver onde eles conduziam mas de fonte segura me foi dito que tratando-se de sites menos próprios, eles incluíam fotografias obscenas de pessoas muito jovens, quase a roçar, senão mesmo (!?), a pedofilia!
Assim e antes de editar esta página, decidi, por fim, eliminá-los por completo tão paulatina e perseverantemente quantas as 464 vezes ou mais em que por aqui, essas pesporrências, foram editadas.
Há situações com as quais não quero ser minimamente cúmplice e que esta situação me sirva de lição!
Há limites para a liberdade de expressão como esta que aqui refiro ou outras:
Não pactuo nem com a pedofilia, nem com o insulto como nem com a calúnia!
Com os dois últimos, o insulto e a calúnia, poderei conviver denunciando-os fundamentadamente ou não me deixando, pura e simplesmente, atemorizar ...
Poderão dizer de mim cobras e lagartos que com esse tipo de chantagem posso eu bem e saberei sempre discernir, logo pelos instrumentos que o Estado de Direito me faculta, o que importa como não relevar.
Posso bem com a alcovitice porque se os cães ladram, a caravana passa!
Com a pedofilia, porém, não há convívio possível e o meu repúdio é veemente!!!
Feito o trabalho de casa que, como imaginam, me obrigou a um redobrado esforço tal como a minha mulher que na eliminação das pesporrências me ajudou, retomo, de novo, o Vosso inestimável convívio esperando que a um tal assalto como este o não volte a sofrer.
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( No dia em que, de coração apertado, dilacerado, rezo pelas vítimas e pelos imensos prejuízos materiais resultantes de um terramoto de enorme magnitude, no Chile. )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Fevereiro de 2010

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

ASSALTO E SOBRESSALTO

Morning Dance
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Depois de um assalto em toda a linha, sobressaltado ... trancas à porta!
Graças à minha comentadora Eva Gonçalves que a isso, persistentemente me aconselhou na caixa de comentários de há duas páginas atrás, passei a exigir a verificação de palavras aos meus comentadores ...
Pelo facto Vos peço as minhas desculpas!
Não irei, contudo, eliminar o comentário recorrente, pesporrente, vertido em 464 das minhas páginas e não o faço em nome do inalienável não exercício da censura e que agora, em todas as caixas de comentários do meu blogue, para trás, ficou estampado ...
... imperfeição do tempo ...
... fruto da minha incredulidade ...!
A casa roubada, trancas à porta!
Os actos, no entanto, ficam com quem os pratica.
Pensei se deveria chamar a primeira página o sucedido, não fora estar a atribuir-lhe demasiada importância mas, não pelo sucedido mas pelos meus leitores e comentadores, achei, por fim, dever-lhes, a Eles sim, uma atenção, esta satisfação.
Fica também patenteado o que acontece quando, sem o querermos, somos demasiado incautos ...
Fui incrédulo e incauto mas que me fique de emenda!
Resta-me prosseguir com a imperfeição que, doravante, à minha Obra que também é Vossa, e se tanto orgulho tenho nas minhas caixas de comentários (!), indelével, as passou a marcar.
Que fique escrito:
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Serei eu
como o sou
que nem por isso
o que escudo
se resguarda
do que em tudo
o que não queira
grudou
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No entanto
a minha Pátria
rede
malha
é a língua portuguesa
e essa resiste
a todos os assaltos
e sobressaltos
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Independentemente dos disparates que as assaltem e sobressaltem, as línguas vivas como o canto e a música, esses são inexpugnáveis!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Fevereiro de 2010

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

COLAPSO

Curved Stairway
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Colapso para dentro de mim
gravitacional beco sem fim
mergulho no meu portal
escada e buraco umbral
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É meu vórtice um canal
Gêpeesse mapa sideral
fuga mas também é um sim
do negro ao púrpura festim
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Trago comigo um sinal
energia com que vim
animar o Arraial
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Ao contrário de Caim
que ao matar gesto fatal
morreu de morte ruim
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Fevereiro de 2010

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

DESTE DIA

Waiting
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Deste dia retenho as mil e uma caras que permanecem à tona e que a ele lhe vão dando relevo e profundidade.
Se a História fosse só uma ou se com uma explicação linear a nós próprios nos bastássemos ...!
Vem isto a propósito da última página, MANHÃS DE PÁSSAROS CONTOS IMPERFEITOS, do blogue de minha mulher, Manuela Baptista e cujo endereço, uma vez mais Vos remeto, http://historias-com-mar-ao-fundo.blogspot.com/, chamando-Vos também a atenção para o endereço que nessa página se faculta, testemunho ímpar e prolongado de Chimamanda Adichie, escritora Nigeriana, com o título The Danger of a Single Story ...
Se tudo se resumisse a uma estória literal ou a um discurso único, plano e sem qualquer profundidade...!
Por essas e por outras é que não paro de desenrolar o meu pergaminho!
Quanto mais escrevo, mais tenho para escrever ...
E assim dou um nó, de novo mais um nó entrelaçado às maravilhosas estórias de minha mulher sublinhando a policromia inesgotável da realidade e que tantos medo têm de assim ver questionado, subvertido o discurso a que, desesperada e acriticamente se agarram!
Pelo contrário, o que constato diante dessa inesgotável policromia é que não há que ter medo e nela mais se revela, potencia aquilo em que, verdadeiramente, acredito:
Acredito em Deus, poliédrico caleidoscópio sem fim e quanto mais olho para o inesgotável subtil da realidade mais me convenço que, como desbravadores, o papel de descobridores, navegadores do Mundo moderno Ele nos deixou e ainda que seja para O pôr, permanentemente, em causa ou perplexos a Ele nos rendermos!
Que descrente e paradoxal medo, pavor ou receio há que ter de uma como de outra coisa!?
Tanto de O questionarmos como de a Ele, eventualmente, nos rendermos!?
Se os crentes se agarrassem menos a supostas certezas que não querem ver questionadas e olhassem, com olhos de ver, a Criação que à sua frente se desenrola ...
... mais lugar ecuménico haveria para todos e até porque Deus não faz acepção nem excepção de pessoas quaisquer que elas sejam!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Fevereiro de 2010

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

PERGAMINHO

Face For Today
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Rolo de pergaminho
que se enrola
enrola
ai o meu pergaminho
escola
e saber
sem ter cola
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Rolo de pergaminho
sem ser de linho
ou papiro
ai o meu pergaminho
turbante
de minha tola
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Rolo de pergaminho
de que matéria
adivinho
feito de ar
e suspiro
tónico
supersónico
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Olho meu pergaminho
que forma tens
de mansinho
és janela
desta cela
minha caneta
ancinho
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

CARTA A UM DESTINATÁRIO DESCONHECIDO

Old shoes
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A Ti que não sei quem és,
A Ti que não tens acesso aos mais elementares direitos humanos nem ao exercício da cidadania;
A Ti que, desfeito em pó, não tens direito, sequer, a um funeral condigno;
A Ti, desconhecido soldado:
Por Vós, também por Vós, a Democracia não pode ficar manietada nem tolhida na luta contra o terror sob pena de, na retaguarda, esta não ser levada de vencida e a vitória Política, a Paz pelo desenclaustramento da Democracia, é sempre aquela que numa campanha se tem por decisiva!
Perca-se a Liberdade aqui e ela será quartada onde quer que seja!
Sejamos tolhidos pelo medo e, verdadeiramente, não seremos livres!!
Seja o exercício político um exclusivo dos detentores de cargos públicos e todos nós, quartados dessa dimensão indissociável da vida, ficaremos, no dia a dia, feridos na nossa integridade!!!
Haja um discurso político e outro pessoal, vozes off e outras in, política para aqui, privilégio de alguns e cidadania atamancada para ali e para todos os outros e a Democracia, ainda que na salvaguarda da separação de poderes e do Estado de Direito não terá, senão do ponto de vista formal, atingido a sua plena maturidade ...
Fale cada qual o que lhe apetecer mas sem regras, sem desenvolvimento do contraditório, tão pouco, e os circuitos que se desejariam abertos, fechando-se ainda mais, curto-circuitam-se em cacofonia, ruído ensurdecedor e anestesiante, poeira atirada para os olhos!
E tanto mais quanto a crise se agrava e a todos nos interpela!!!
Dirijo-me a Ti que não sei quem és e Te afianço que aqui, em mim, sempre encontrarás o Teu lugar soberano e por mais nos antípodas que a Tua opinião, em relação à minha, se situe.
E mais:
Que, podendo Tu, em mim, encontrares eco, que esse eco, sendo teu e nas regras do respeito mútuo, da Educação que se consubstanciem e que de Ti, por essa via, um meu igual Te faz, qual recurso de última instância política, câmara de reconciliação, por mim será tido na devida consideração.
No respeito e salvaguarda, sempre (!), da Democracia!
A Ti que não sei quem és e em nome da Tua vida que não terá sido nem é em vão, da Liberdade também, neste compromisso que aqui deixo, o meu profundo respeito
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( hoje é o dia do aniversário de meu irmão )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Fevereiro de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

CARTA A PROPÓSITO DE UMA CARTA

contrast
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Meus Caros Leitores e Comentadores,
A todos os leitores e comentadores que, até aqui, leram ou comentaram a Carta da página anterior escrita a Nelson Mandela e que muito me gratificaram, aproveito para Vos escrever aquilo que se segue:
É claro, julgo, que implícita nessa carta se contém uma profunda homenagem a esse mais Velho, Madiba ou Nelson Mandela;
Também me parece claro que como pretexto, o filme Invictus de Clint Eastwood, nela também é referenciado como registo ímpar na biografia de um homem como o é Nelson Mandela;
Mas, vão-me perdoar, não menos claro se torna ser uma carta que a Ele, a esse Homem mais Velho e de um tão vasto clã e universal projecção, na Sua dimensão humana, se dirige pedindo-Lhe que por mim interceda.
Que interceda porque Mandela constitui um exemplo ímpar;
Que interceda por se tratar de uma referência incontornável, ele mesmo Nobel da Paz, no contexto dos líderes democráticos à escala global;
Que interceda, por fim, tratando-se do mais Velho, referência também por aí e na melhor tradição, aquela em que os mais velhos não são remetidos para o exílio de um lar, antes permanecendo Vivos como referências incontornáveis ...!
Que interceda por mim!
Tive a sorte de viver num contexto em que, aos meus vinte anos foram derrubados os muros do autoritarismo que se me chegaram a penalizar pelas minhas convicções políticas e na minha vida académica, não me penalizaram, porém, como a tantos e a Madiba em particular ...
No entanto, devo, por isso, por não ter sofrido as agruras da prisão, ser penalizado politicamente e ainda que pela omissão, na minha integridade!?
Terminam as sagas, as gestas heróicas, com a instauração da Democracia!?
Não se estenderá, o meu exílio, político entenda-se e em prejuízo da minha integridade já que ela, da dimensão política se não pode descartar (!) e já para não falar na penalização profissional que, por arrasto, também tenho sofrido e isto, pesem todas as provas dadas e que já este blogue as reflecte, mas que se estendem para lá dele em Obra escrita, por um período tão vasto que, qualquer dia perfazerá tantos como os anos de prisão de Madiba!?
E tudo pese embora a Democracia de que me afirmo, com provas dadas, expressas e não contraditadas, intransigente defensor!?
Há exílios que não têm muros nem prisões, barreiras físicas tão pouco, mas que nem por isso deixam de os ser!
Gostava pois que tivesseis tudo isto em consideração e no meu íntimo, como desejaria que Graça Machel, a Madiba, Lhe pudesse ler e traduzir o que aqui Vos vou deixando:
Esta carta que agora Vos remeto e aquela que a precede, a que a Madiba, na segunda pessoa Lhe foi escrita ...
... bem como aquela que a esta se seguirá!
E tudo isto, pensai bem, em nome da Liberdade, para que o medo, sempre latente, nos não paralise!
Gratificado, Vosso e sempre
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( No dia em que a Região Autónoma da Madeira sofreu uma fortíssima intempérie contabilizando-se em muitas dezenas os mortos e os feridos que trago no meu coração bem como em imensos prejuízos materiais )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Fevereiro de 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

CARTA AO MAIS VELHO

Nelson Mandela, fotografia de Alet van Huyssteen
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MADIBA
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Velho Amigo,
Oxalá esta carta chegue ao Teu conhecimento ...
Fui ontem ver Invictus, filme de Clint Eastwood que retrata episódios da Tua vida e que, não sei (!), já terás visto.
Não sou de ler a génese dos filmes mas estou certo que este filme descreve, com fidelidade, os episódios nele abordados ...
Deixa-me que Te diga que independentemente do filme e como arranque desta minha carta, sempre Te admirei !
-.-
Madiba,
Simbolizas, estou certo, o derrube das barreiras físicas, das muralhas e das paredes da prisão, da cor da pele, das castas ou das etnias, das classes que contra todas as perspectivas e pela assumpção do perdão, logo no interior daqueles que eram os símbolos do poder na velha África do Sul, a abriram, de par em par, ao Futuro ...
Começo pois por recriar aquela quadra do poema Invictus de William Ernest Henley que como leitmotiv do filme referido o perpassa, quase como pano de fundo e que, adoptando-a como Tu, reescrevo assim:
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Que importa a estreiteza da passagem
Quanto acossada de omissões é a minha Obra
Pois se sou o mestre do meu destino
Capitão serei da minha alma
-.-
Mais Velho,
Trato-Te assim e espero que não me leves a mal ...
Nos contornos da minha Obra a que estou preso, eles ainda físicos (!), numa atitude que pelo perdão e na plena inclusão, sem recurso à violência física ou psicológica, pugno pelo aprofundamento da Democracia!
Naqueles íntimos momentos do filme Invictus, os da sedução da Casa Presidencial, da Guarda do Presidente como da transparente utilização da Equipa Nacional de Râguebi sul-africana e na utilização de um poema vitoriano, para mais, na assumpção do papel de Treinador, convocaste essa imensa Nação e eu, agora, a Ti, por meu turno, Te invoco!
-.-
Querido Presidente,
Sei que já não o és mas constituis, sem dúvida, uma reserva moral, ética, para todas as mulheres e homens de boa vontade do Mundo inteiro:
Sem que o soubesse, apenas intuindo-o, sigo os Teus passos e para lá das fronteiras estritamente físicas, dadas então por insuperáveis e que tiveste de derrubar e na Tua esteira, consolidando o seu derrube, Obama também!
Já não são a cor da pele, o sexo, os preconceitos de classe, de grupo ou de etnia, as fronteiras entre religiões ou culturas, nem tão pouco os estreitos nacionalismos que estão em causa ...!
É muito mais do que isso, perdoar-me-ás, é a Humanidade no seu conjunto e na convivência democrática que se deseja como pão para a boca e que apenas pelo seu aprofundamento, na consagração do singular e sem recurso a qualquer tipo de violência, pela sedução do poder democrático que se impõe, globalmente e com urgência, reconhecer ...
E assim, a Ti me dirijo para que, na reconciliação geracional que também se impõe (!), por mim intercedas!
-.-
Velho Amigo,
De emoção estética, chorei do princípio ao fim no filme Invictus de Clint Eastwood, naquele estreito registo fílmico, magnífico (!), que a ele como ninguém o sabe, tão bem, realizar ...!
E aquele relance em que a velha Senhora branca do Teu gabinete se dispõe a servir o chá mas em que Tu, desarmante na Tua imensa modéstia, generosidade e simpatia A substituis nesse papel, não é momento menos relevante em toda a subtileza que ao filme o perpassa:
É a Educação, na indispensável reconciliação geracional e abrindo portas, que está em causa, sem a qual, como superar os enormes desafios que temos, Todos, globalmente pela frente!?
Na Tua esteira, a Ti me dirijo e peço, pela libertação e consagração da minha Obra que já vai muito longa, a Tua intercedência!
Com um abraço cheio de profundo afecto, Teu
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Fevereiro de 2010

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

DA COR DO TEMPO

headless
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Da cor do tempo segue o momento
frio de humidade a entranhar-se
no subsolo da matriz deste meu canto
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Da cor do tempo
Inverno rigoroso que não arreda
cinzento breu de chuva que não passa
esgatanho-me neste barro
argamassa
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Entranha-se nos ossos a cor do tempo
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Nela busco um arco-íris
cabeça
cromatismo inesperado
que das vagas de um mar triste se levante
em luminosidade que pinte cada instante
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Peregrino
da cor do tempo
anseio pelo calor
primaveril de cor
o firmamento claro onde pôr
o eufórico desejo com que invento
o travestimento claro desta dor
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Fevereiro de 2010

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

CAEM MÁSCARAS

Memory Game
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Caem máscaras das caraças
fica o sabor das trapaças
ficam as cinzas de um fogo
em preces tamanhas que rogo
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Desdobro-me no que interrogo
nas minhas perguntas não morro
podes tu crer no que amassas
dizer tudo o que não faças
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Refugiares-te em chalaças
de um Carnaval sem prelúdio
em que persiste o que traças
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Sou mais forte que o entrudo
sou marinheiro não me caças
nem me fazes ficar mudo
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, de 16 para 17 de Fevereiro de 2010

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O QUE ESTÁ EM CAUSA III

Head start
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O cromatismo está em nós e ele acresce, desdobra-se em transposição dimensional que a Travessia interpela e dela resulta ...
O terror, essa pecha que aparentemente nos balcaniza, remete para o subterrâneo de cada um de nós, para o ser e o não ser, por onde ir, nos limites invioláveis da singularidade individual e que o próprio terror, implacável, viola atiçando-nos na tentação xenófoba e caduca de guerras religiosas ou de culturas!
Cada vez que a ela, a essa tentação cedemos, prestamos um inestimável serviço ao terror ...
O cromatismo está em nós, nas águas subterrâneas em que nadamos e das quais emergimos na prevalência do racional, do cerebral, impregnados do indispensável humanismo que nos oriente na esperança renascida que partilhamos ...
O cromatismo é antídoto de todo o facciosismo e ele, o cromatismo abre-se, exponencial e de par em par na Travessia em que progredimos e que não se compadece nem com a demagogia nem, tão pouco, com a mentira ...
Não se compadece, também, de per si, com um simples resultado sufragista que embora seja incontornável não é o bastante!
O cromatismo alicerça-se no singular que se expõe enfrentando, paulatinamente, as forças obscuras, a era do terror sobre a qual todos nós assentamos ainda os pés e que subjaz ao Edifício Democrático, desafiando-o sempre, pela barbárie, pela corrosão, a subverter-se ...
O cromatismo, todavia, impõe-se pela sua superioridade inquestionável e assim as forças que o suportam dela, na multilateralidade que as caracteriza, da sua fecundidade se convençam e saibam abdicar do supérfluo ...
O cromatismo é tu seres assim e eu assado e podermos, todavia, mais do que pela simples tolerância, antes pela aceitação e respeito mútuos, coexistir e conviver ...
Aplacando ódios e tensões num Mundo que é um só, pequeno e frágil demais, simples aldeia onde todos temos de aprender, pelos inquestionáveis sinais políticos que do topo da superestrutura decididamente se difundam e eles tardam (!), no cosmopolitismo universal, a sermos mais e mais do que só sobreviventes, antes sua parte inteira.
Não me parece que seja pouco o que está em causa, não me parece não ...
O cromatismo, em toda a sua exuberante transparência, na resolução do negro nas infindáveis cores que dele emanam, prevalecerá!
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( O Que Está Em Causa I, II e III formam uma outra Trilogia, composição que aos três momentos, andamentos, nas suas conexões e linhas de força convoca. )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Fevereiro de 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O QUE ESTÁ EM CAUSA II

In the dark
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Estrategicamente, o que está em causa é saber de que ponto partimos, se de um olhar antropomórfico, centrado no Homem ou se de um olhar que sendo humano, nem de outra maneira o poderia ser, humanista mesmo, mais abrangente do que o próprio Homem o seja no alcance e na interpretação que às alterações climáticas e aos desequilíbrios ambientais, ecológicos os tentem interpretar e decididamente, com visão global, universal, enfrentar.
É o Homem o predador central que conduz às alterações climáticas, são os ciclos do próprio planeta Terra ou outras variantes terão de ser tidas em linha de conta e todas devidamente equacionadas!?
No meu convencimento, se é certo que a atitude do Homem contribui e de que maneira, para exponenciar esses factores de desequilíbrio, em si mesmos perturbadores, há causas astrofísicas que impõem outro olhar e urgente inflexão no Paradigma que nos tem orientado e que se esgotou.
Olhe-se para o que aqui tenho deixado escrito desde o início deste meu blogue, para não falar de tudo o que está para trás, e veja-se como de desdobramento em desdobramento, na contraditoriedade do real o meu pensamento evolui como se à complexidade deste, do real e perfurando-a em contínuo este se desenvolvesse como buraco sem fim e mesmo quase se contraditando de página para página numa espiral reflexo que, como em todos nós, de outra de dimensões astronómicas emana e que de tão gigantesca dela mal nos apercebemos.
Vórtice ...
Vórtice que nos suga e que a mim próprio, no pensamento exposto me extenua e delapida!
Esta é a tese de que parto, a de que, no turbilhão de imensa massa do Universo fomos absorvidos por um Buraco Negro no desgaste implícito que essa mesma absorção, não tão imperceptivelmente como isso, desencadeou e que a acção do Homem ainda mais potenciou.
Numa travessia que afinal, até agora, se cumpriu mas com êxito apenas relativo e não ainda inteira e integralmente bem sucedida!
Tema recorrente a ele volto com sempre redobrada persistência ...
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Fevereiro de 2010

sábado, 13 de fevereiro de 2010

O QUE ESTÁ EM CAUSA I

one
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Está em causa muita coisa, o Mundo o diz e com ele os países, sofrendo-o todos na pele.
O que está em causa pode resumir-se a uma simples palavra, confiança e esta é a instilação indispensável de que a Política, a começar por aquela dos Estados Democráticos, está cada vez mais carente.
Os cidadãos não se revêem nas suas instituições e digam ou façam estas o que quer que seja e logo a desconfiança as mina, quartando-as da necessária autoridade sem a qual não há verdadeiro exercício democrático.
O subjectivismo que cerca qualquer gesto institucional como escondendo intencionalidades que visam mais a satisfação de interesses particulares e sejam estes de que ordem forem do que o bem comum, logo obstaculiza e corrói toda a confiança, minando o Estado de Direito, sem a e o qual não há verdadeira mobilização e tal tende a agravar-se e tanto mais quanto maiores e ingentes se vão tornando os problemas globais, é destes que falo (!), que ameaçam mesmo a nossa sobrevivência, pelo menos, com a qualidade de vida a que a viragem do século, em extensas áreas do Globo, nos habituou.
Na satisfação desses interesses particulares mas de grupo a que a Democracia Representativa deu soberania, refiro-me a partidos, sindicatos, organizações empresariais de toda a ordem e onde se inclui o poder dos média, organizações não governamentais e toda a sorte de lobbies e por aí fora e já sem falar na pecha da corrupção, na satisfação desses interesses grupais, escrevia, a soberania do singular, do indivíduo, do cidadão é completamente cilindrada e posta à margem.
O indivíduo, se se quer afirmar, tem de se organizar, incluir num grupo e por esta via, quantas vezes, de abdicar de si próprio quando a Democracia, deles, da cidadã e do cidadão, deveria fazer o centro soberano da Sua razão última de ser ...
No dia em que, ao indivíduo e por imperiosa Causa Pública a Democracia a ele o consagre e sem outra que não a incontornável pressão da Coisa que torna Pública, sem prejuízo de todo o sistema que laboriosamente, em profuso rendilhado, à Democracia Representativa soergueu e que hoje já a caracteriza e enriquece, de modo a que, pela reconciliação do 1, o singular, o cidadão comum com o zero, o institucional ou o Estado esta, a reconciliação passe a preponderar pelo sinal assim transmitido e nada dispiciendo, logo outro olhar se abrirá e com acrescida transparência na abordagem e mobilização que imperiosamente nos leve a empenharmo-nos para lá dos conflitos particulares, potenciando a indispensável confiança ou Crédito Político, Público sem o qual não há Futuro.
Pelo menos, tal como, desejavelmente, o concebemos e melhor desejaríamos ainda que o fosse!
Tal sería, além do mais, um forte antídoto da própria corrupção!!!
Como fazer a Paz no Mundo se no interior das nossas sociedades somos incapazes de nos reconciliar ou, tão só, de conceder o benefício da dúvida!?
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Fevereiro de 2010

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

ATÉ AO FIM

the last planet
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Estou num daqueles momentos em que, no ponto em que começo a escrever, não sei o que daqui vai sair.
Há muito que me deixei de rascunhos que não aquele onde preparo a próxima página a editar, de esquemas tão pouco e neste caso, ainda nem sequer o título deste texto o defini.
Com um título na mão, tudo se torna mais fácil e convergente como se ele mesmo, um rascunho ou um esquema, andaimes ou espinha dorsal, ponta-pé de saída o fossem mas hoje, sentado aqui, junto ao teclado e ao visor, ao fim da noite, empurro umas atrás das outras as palavras na esperança que ganhem ritmo e forma que aos conteúdos e à criatividade os façam desabrochar já que estes não nascem de geração espontânea, forçam-se e exercitam-se também.
Chegado aqui, esgotado, apetece-me desistir, parar de escrever ou recomeçar de novo mas, como sempre, recuso-me a ceder a esses impulsos bem como aos de apagar, riscar por completo o que até agora, neste meu texto, de improviso escrevi.
Nunca o fiz ...!
Texto começado, rascunhado, esquematizado como tantas vezes o foi, é para levar até ao fim ...
E surge-me, neste preciso momento, o título:
Até Ao Fim
E o texto acomoda-se como se se ageitasse ao chapéu no alto da sua cabeça e procura o molde que ao título, seu objecto, por fim, se ajuste.
Até ao fim continuarei paulatinamente e sem desanimar.
Como se a cada texto, a cada página, sempre por reescrever e rematar, do último e único planeta por reconstruir, descobrir, nesta minha Obra se tratasse!
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( Confesso que ao procurar a ilustração, procura que desta vez foi bastante penosa e que também deixei para o fim, a ela, como sua veste, ao texto o tive também de acomodar sem que, contudo, na sua espontaneidade, o tivesse adulterado. Foi ela que, por fim, me conduziu à música. )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Fevereiro de 2010

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

RUÍDO

yellow paper wave
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Ruído
desaustinado
servo de quem
e criado
ai o ruído que oiço
como se fosse
castrado
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Ruído
alcoviteiro
do tamanho
de um tinteiro
ai se ao grito
primeiro
o tomasse por inteiro
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Ruído
da Liberdade
que me imune
à idade
em que ao grito do lobo
logo o ouvisse
e à maldade
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Amarelas minhas páginas
são de esperança
e majestade
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Fevereiro de 2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

PRETEXTOS

...
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Todo o pretexto é bom para
fazendo da paisagem terra queimada
fragilizar e fazer vacilar a soberania dos Estados à mão da especulação
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Todo o pretexto é bom para
aumentando a frequência dos decibeis
desacreditar uns e outros
no ruído ensurdecedor que nos tende a cegar
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Todo o pretexto é bom para nos pôr ao rubro
no circo em que
alegremente
nos parecemos afogar
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Todo o pretexto é bom para alimentar a cadeia de não notícias
ou de notícias sim
mas sem retorno
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Todo o pretexto é bom para flagelar a vida do cidadão comum
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Todo o pretexto é bom para deixar tudo pior
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Será que todo o pretexto é bom
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Fevereiro de 2010

ELO REAL

immortal longings
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Existe um elo real, anseio, vínculo, forte conexão entre o que neste meu blogue escrevo e a minha vida quotidiana.
Se escrevo sobre uma face oculta, tal significa que a minha face, cara permanece oculta, por ora, no meu perfil.
Se escrevo sobre o inconformismo, tal significa, também, que exerço uma atitude inconformista que não se conforma com o facto de, por esta via, poder ou não vir a ser avaliado com todas as consequências que daí possam advir.
Se escrevo, por outro lado, que o autor é, parafraseando Manoel de Oliveira no Dia do Autor e no já longínquo ano da graça de 1989, que o autor é, assim ele o escrevia, um ladrão subtil, é porque a essa afirmação a integro como fazendo parte de mim próprio enquanto autor e deste meu blogue em particular ...
O autor é um ladrão subtil que surripia, qual antena, o que ao seu dispor lhe apraz e detecta e que sendo do domínio público, disponível, usufrui, transforma e recria como se a ele próprio lhe pertencesse, dando-o sempre de volta.
E nesse elo real que logo por escrito o é, forte conexão que o constrói e cimenta, o autor, sendo real, tempera-se e mede forças com a realidade exterior com que se confronta.
Sendo inesgotável a realidade e na sua medição, confronto com o inacessível, por outro lado, o autor calibra-se e põe-se à prova.
E pode, assim, dizer basta ou inconformar-se mais ainda, na fresta aberta que vai deixando entre o real imaginário e o imaginário real que sempre permanecerá aberta, logo o queira, como quem diz:
Qualquer semelhança com a realidade é mera mas real, Real, imperiosa coincidência e tanto quanto mais, persistente e inconformado, o tempo passa, naquele ponto fino, fugaz e volátil, subtil em que sempre se faz, me faço por balancear!
Se o elo é real, a conexão torna-se, então, de tão inesgotável e perene porque subsiste no tempo, imortal!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Fevereiro de 2010

domingo, 7 de fevereiro de 2010

FACE OCULTA

René Magritte, The Son of Man
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Que significa estar de face oculta?
Será que eu me mantenho de face oculta?
Será que não sou suficientemente transparente?
Vou tentar responder directa e sistematicamente a estas três perguntas sem delas me desviar:
Respondendo à primeira, é certo que no meu perfil ainda não consta uma fotografia minha e, muito menos, de face inteiramente descoberta.
É certo que, agora, tendo oferecido a minha mulher uma máquina fotográfica digital, mais cedo ou mais tarde me poderei fisicamente mostrar e dar-Vos a conhecer a minha cara mas, contudo, significará isso deixar de estar de face oculta!?
Há mesmo situações em que, quanto mais nos mostramos ou julgamos mostrar, quanto mais na ribalta nos encontramos e publicamente somos conhecidos, quanto mais se avoluma o diz que diz-se, a coberto do qual e pese embora tudo, quantas vezes, encobrindo nos escudamos, mais oculta fica a face que se pretende desocultar!
É claro, para mim, que não deixa, no entanto, de ser um bom princípio dar a conhecer a cara que, publicamente, pela escrita se expõe.
Tratarei disso tão depressa quanto o manejo da câmara me o permita resolver!
Respondendo, agora, à segunda pergunta, direi que, se me mantenho, literalmente, de face oculta, certo é, porém, que me vou desvendando ...
Respondei-me, pois, se a afirmação que se segue corresponde ou não à realidade:
Eu vou-me desvendando e independentemente de Vos dar ou não a conhecer a minha face!
Percorrei pois este meu blogue e a não ser verdade o que Vos escrevo, estou pronto a aceitar, com humildade, as Vossas reclamações ...
Serei, então, suficientemente transparente!?
É claro que a resposta à terceira pergunta formulada à cabeça deste meu texto, não encontra uma resposta plausível que não seja, em simultâneo, complexa:
Ninguém se despe, verdadeiramente, em nu integral senão na assumpção do discurso directo, pessoal e que tenha uma coerência com a praxis de quem o profere;
É no tempo e na inconformidade que ao discurso o caracterize, que este se pode, paulatina e perseverantemente comprovar;
E, tudo isto, independentemente de se dar ou não a conhecer a cara de quem ao discurso o profere ...
Por vezes, diria antes sempre (!), a melhor maneira de nos ocultarmos é ser tão ostensivamente obscenos que, quais nuvens de fumaça e ainda que aparentemente cristalinas, fica tudo por revelar.
Tratarei, no entanto e para que não subsistam quaisquer dúvidas, de colocar no meu perfil uma fotografia minha para que, por aí, não me possam pegar!
Só mais o que se segue:
O discurso oral tem uma opacidade que o discurso escrito não tem!
O que está escrito, está escrito, pode ser sujeito, liminarmente, ao contraditório sem fugas ao que se escreveu, ao contrário do discurso oral, sempre susceptível de uma volatilidade que permite ocultar intencionalidades que, supostamente, o podem esconder atrás de uma opacidade que fica sempre por revelar:
- Ah, o que eu queria dizer, em rigor, não era isto mas aquilo!
Há mesmo ...
Há mesmo vantagens de se escrever assim e sem dar a face, oculta por ausência de fotografia já que quem a vê ao coração o não poderá, eventualmente, sentir!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Fevereiro de 2010
René Magritte, The Lovers