terça-feira, 30 de março de 2010

EXPERIÊNCIA LIMITE

Jaime Latino Ferreira, Art Seven, aguarela, gouache, recortes, esferográfica, acrílico sobre papel, 2003
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A experiência limite que nos é dada, eventualmente, vivenciar é aquela que nos atira para a reforma compulsiva por exaustão de recursos tendo ainda toda a vida pela frente!
Foi aquela que me foi dada experimentar, na minha infância, na transição desta para a adolescência:
Essa experiência e a sua assumpção, friso esta última por ser indispensável para à primeira a resolver, conduziu-me até aqui.
Escreve a minha amiga Graça Pereira em comentário da página anterior que ficou muitas vezes à soleira da porta do meu blogue ouvindo as minhas (!?) sonatas e deliciando-se com as palavras parecendo-lhe tudo um santuário onde todas as artes se misturam ...
De facto, viver em tempo útil essa experiência, não na idade normal da reforma mas na infância, se pode ser definitivamente castrador também pode vir a potenciar a chama que se perdeu ou melhor, que se deixou de poder reflectir nos palcos da vida de uma determinada, vocacionada maneira.
Subconscientemente não mais deixei de persistir nos caminhos que de então para a frente percorri, não de uma forma ortodoxa mas fazendo deles palco da minha própria vida, não de uma forma academista que é sempre forma de simulacro, amostragem protegida de variáveis indesejáveis mas a todas elas sujeito na imprevisibilidade das reacções que pudessem vir a ser desencadeadas ...
Percorri tudo, no limite do consentido, à beira do abismo e sem rede ...!
Tudo quanto num testemunho de vida, nos seus ciclos normais, venha a ser proporcionado, num trajecto transversal e sem que tivesse sido, por esse testemunho, amputado, manietado, irremediavelmente condicionado ou comprometido.
Até à percepção da traição política ou amorosa que são, em si mesmas, traição à vida tal como a voz me traiu ...!
Transversalmente fui, empenhado e arcando com os custos, de galho em galho pelo santuário das artes e ofícios que, de facto, não vivem isolados, antes se misturam e interagem todos uns com os outros ...
E cada vez mais!
A Sétima Arte é disso um bom exemplo:
Da música à plástica, do teatro à ópera tida noutros tempos como a mais completa forma de expressão artística, todas nela, no cinema se conjugam e com a vida se confundem!
Como um recorte no céu, cruz ou símbolo de somar, sinal mais ou factor de multiplicação que a ele, em paralelo, ao firmamento nos abre em traçado, rasga de par em par a partir da palavra crucial até à decisiva matemática.
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( Em memória das vítimas de mais um duplo atentado do terror, desta feita no metro de Moscovo )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Março de 2010
Jaime Latino Ferreira, Multiplicador de Traçado Somativo

segunda-feira, 29 de março de 2010

A MÚSICA E O FAUNO

Maria Keil, A Música
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Aos dois quadros que abrem e fecham este meu texto, adquiri-os há uma boa vintena de anos na Galeria de Colares, em Sintra, em mostra patente da Obra de Maria Keil, porque com eles me revi na história que aqui Vos conto:
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I
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A música esteve presente desde sempre, antes mesmo disso, como plasma ou viveiro, cadinho, matriz da minha inteira identidade.
Cresci com ela e nela me identifiquei.
Eu era a própria música pelo canto que naturalmente e de mim nascia e crescia mesmo no relevo desmultiplicador, concentrado da criança, na tecitura de uma voz fina, aguda, feminina, de anjo e na natural não neutralidade que a caracteriza mas que não deixava de me fornecer a minha identidade onde o futuro se revia no passado, então presente.
Se me perguntavam o que quereria ser quando crescido e embora meus pais sempre tivessem tido a preocupação de canalizar os meus dotes musicais noutras direcções que não uma voz votada ao desengano, com os meus botões respondia, nunca explicitamente pela noção do ridículo que tinha, pequeno cantor!
E cantava, cantava e cantava sempre ...
Um dia a voz de anjo quebrou-se para sempre.
E nesse dia, em solilóquio íntimo com o piano chorei, debrucei-me sobre ele pedindo-lhe desculpas de o deixar assim ao abandono e fiz-me ao mundo!
Cai o pano
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II
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Transformei-me num fauno, divindade protectora dos rebanhos e dos pastores, demónio dos campos e das florestas, metade homem em construção e a outra bode, em busca do acorde, da vibração então perdida como um sol que me iluminara ...
E foram anos e anos de procura, investindo sempre a fundo!
Levantei-me e voltei a cair muitas vezes nas ilusões recriadas à sua imagem.
Imagem sonora, difusa, perdida no tempo mas que me levava a não desistir, a reerguer-me sempre e mais, ainda que na procura subconsciente dela mesma, dessa sublime sensação à qual lhe perdera a exacta dimensão!
Um dia, ao olhar estes dois quadros expostos lado a lado, neles vi um díptico, um ente apenas, fusão dos dois e nela me recriei.
Ao bicho e pela desenvoltura na palavra conquistada a pulso a essa vibração, a mesma que perdera, recapturada, num outro quadro reinventei ...
Aos dois quadros os levei para casa, redimensionada que então foi a música que em mim, de novo, intimamente livre e reconciliada, de um fauno renasceu.
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E canta a voz em surdo
mudo
espanto
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A Maria Keil que pessoalmente e na sequência da compra destes quadros tive o privilégio de conhecer em Sua casa e como autor que aquele que à obra contempla sempre o é, Lhe peço desculpas por esta minha reinterpretação tão abusiva.
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( As fotografias são de minha autoria )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Março de 2010
Maria Keil, O Fauno

sábado, 27 de março de 2010

P or E ste C aminho

Feito e oferecido por António Sobral, Desenho em toalha de papel a caneta, cinza e borra de café, Sem Título, 2004 (?)
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Por este caminho, estreito caminho, prossigo sem vacilar por entre as vozes que do novelinho enredado de cabelos se fazem ouvir, polifonia quântica, turbilhão, opinar sem fim.
Por este caminho, visões fugidias se entrechocam contrastantes em cenários pouco auspiciosos e eivados de numérica quase indecifrável que acentuam o mal estar e o ameaçam tornar ainda mais estreito do que ele, eventualmente, o será.
Por este caminho, aparentemente asfixiado de rasgo político e em que o cidadão comum tem enormes dificuldades em se rever, fermenta-se um caldo de consequências mais e mais imprevisíveis.
Por este caminho, subtilíssimo buraco que nos asperge, borrifa, deglute e orvalha, chamuscam-se in extremis e à beira da esterilização as culturas num sufoco mal contido e no limiar do risco extremo.
Por este caminho, lancinantes, as vozes de um rosto sem título, poderia ser o meu, não param de zurzir, furtivamente alucinadas.
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Março de 2010

DOU A CARA

António Correia, pormenor de Retrato de Jaime Latino Ferreira, 1986
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Dou a cara, sim ...
E dou-a logo naquilo que escrevo!
O filtro é tão só a escrita que as circunstâncias me obrigaram a desenvolver como pinceladas dispersas e incisivas, por miúdo, num retalho.
Teria resolvido tudo pela fala mas se o tivesse feito não seria eu, seria outro!
Seria menos de mim do que sou?
Seria outro de mim?
... sem mim?
Sim dou a cara e não me revejo em clichés e nem em estereótipos que me fariam, por hipótese e como homem, por suposto e enquanto tal, ter um determinado tipo standardizado de comportamento ao arrepio de minh'alma que aqui verto!
Nem de outro modo senão pela escrita, no distanciamento que a alma me faculta e feminina que o é, se estamparia ela qual registo fotográfico, prisioneira mas fluída numa fracção de tempo, como aqui fica, por escrita, expressa.
E como no quadro, porção de mim perdida no tempo, que transporto comigo e embalo aconchegada num de tantos momentos que trago de novo à tona deixando-a reviver no regaço da memória acarinhada ...
Sim, sou eu assim, pai de um filho, amante feminino e neutro, masculina costela de um Adão ...
Sim, sou eu, aqui, o feminino do masculino, neutro e par, igual, homem singular!
Sim:
Sensível e racional por inteiro, com a força e que força da razão!
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A propósito de um comentário da minha amiga Maga
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Março de 2010

quinta-feira, 25 de março de 2010

RETRATOS

Manuela Baptista, Retrato de Jaime Latino Ferreira
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A descoberto, finalmente, apresento-Vos a minha face!
Cara ou máscara, retrato, a superfície das coisas de mim.
Elemento adicional, imprescindível, de ajuste e composição do personagem, tal como ele o é, o sou, eu próprio, traço inacabado do meu próprio eu.
Finalmente disponível, eis o testemunho dos meus perfis, contornos do que Vos dou.
De um e do outro lado, nas lateralidades que me compõem no relevo que me caracteriza e dimensiona ...
Tiradas uma, em cenário de cacto gigante, flor espinhosa, no paredão que ladeia a costa, junto à praia e que liga o Estoril a Cascais em passeio público incansável de refazer e a outra, no mesmo passeio, olhando o mar em fundo, plasma liquefeito mergulhado de histórias a abarrotar sem fim ...
Eis-me pelos olhos de mar de minha mulher!
Assim me posso melhor apresentar e dar a cara, porque é disso que aqui, neste meu blogue se trata, um Vosso criado, ao Vosso dispor!
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Mar
moldura e tinta
trauteio
partida e fim do que sou
sem ti
que seria de mim
e ao que vou
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Sim
gosto de mim
e depois
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Março de 2010
Uma vez mais, Manuela Baptista fotografa Jaime Latino Ferreira

terça-feira, 23 de março de 2010

A PROPÓSITO DAS PEDRAS QUE SE ATIRAM

Marc Chagall, Lovers in the red sky, 1950
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Em cada momento a Igreja, transportando aquela de todos os tempos e também aquela que de há muito atira pedras é, ela também, a dos melhores, a daqueles muitos que sempre se entregaram e sacrificaram pelos mais fracos e pelos seus irmãos.
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Ainda Domingo passado, Quarto Domingo da Quaresma, foi lido o Evangelho da mulher adúltera trazida à presença de Cristo para ser julgada e em que Este respondeu que quem não tivesse pecado lhe atirasse a primeira pedra ...
Escrevo-Vos com o coração a sangrar e o que Vos escrevo faço-o por entender, em consciência, livremente e como crente, dever fazê-lo:
Em tempos, em tempos de outro grau de exigência o que nada desculpa, descomprometido que eu vivia e num contexto público de engate, desculpem-me a rudeza da expressão mas assim se designa em linguagem comum a situação reportada, seduzi jovem pessoa que sem que o soubesse não era ainda maior de idade.
Tal aconteceu uma vez e num tempo em que no jogo da sedução não se pedia, à cabeça, o bilhete de identidade em circunstâncias que tais.
Pedir-se-á hoje ...?
Foi num período de boémia e relações precárias como julgo que com muitos de nós e os da minha geração em particular terá acontecido, que faz parte da minha história e que nem por um momento de mim pretendo escamotear nem de Vós ocultar ...
Não serei pois eu a atirar a primeira pedra!
Ela foi, aliás, atirada por parte de quem, arvorando-se em bastião e reserva da moral e dos bons costumes e logo pelo encobrimento institucional, tal menos se esperaria embora talvez já de há muito se intuísse ou disso se tivesse maior ou menor consciência e percepção.
Encobrimento não de um encontro casuístico e fortuito, público para mais e que logo aqui o exponho, mas antes de práticas sistemáticas, deliberadas e persistentes no tempo!
Nem de pecados, em sentido estrito, em rigor aqui se fala, crimes são crimes e destes e da cumplicidade que os rodeou não há como dar-lhes a volta!
E se eu não quero atirar achas para a fogueira nem pedras, de facto, impõe-se sublinhar o que não tendo relação directa importa, todavia e nesta oportunidade, uma vez mais perguntar.
Assim:
Deverá o adultério ser liminarmente apedrejado e sujeitos aqueles que o praticam à estigmatização no interior da Igreja que é, em si mesma, apedrejamento simbólico, psicológico!?
Deverão os divorciados, esses também, ter um estatuto de discriminação no seio da Igreja!?
E os homossexuais que nas suas opções livremente feitas e assumidas, entre adultos e iguais e no igual direito à felicidade que lhes assiste e que nem por um momento poderão ser confundidos com os pedófilos, deverão, eles também, ser discriminados!?
Contraceptivos e que tais ... que tem a Igreja que meter o bedelho!?
Tecnologias artificiais de reprodução ...!?
Que insuperável problema existirá no casamento dos sacerdotes e já que sendo eu pecador como os demais e casado, com Cristo também o posso ser e sou!?
Ordenamento de mulheres ...!?
E o que é isso da castidade ...!?
Conspurcar-se-á esta pela vida sexual na ambiguidade recidiva e fantasmática que prevalece no interior da Igreja do tão propalado, à revelia de Cristo, pecado carnal!?
Não, não vale mais fazer batota!
Que quero com isto dizer?
Quero tão só dizer que é não apenas ilegítimo como incongruente e logo na perspectiva doutrinal, enaltecer, por um lado, a família tradicional como paradigma e panaceia para todos os males, como se ela tivesse alguma e ainda que ténue semelhança com a Sagrada Família (*) e por outro lado invocar que é no seu interior, como se tal justificasse os crimes de pedofilia no seio da Igreja, que é no seu interior, no interior da família, escrevia, que a pedofilia encontra o seu principal esteio ...
Em que é que, afinal, ficamos!?
Não, não sou eu que atiro pedras mas talvez fosse tempo de decidida clarificação, de a Igreja se recolher a uma atitude de humildade não condenatória e nem persecutória, discriminatória tão pouco e verdadeiramente confessional, em suma, despojando-se de tanta pedra que persiste em atirar e abrindo-se, verdadeiramente, ao Mundo sem ao abrigo dele se pretender, que pretensão (!), refugiar na justificação do injustificável!
Crime é crime e este não pode passar incólume e como já diz o ditado que ora invento, quanto mais levianamente apontas o dedo mais vejo em ti o mal, esse sim (!), que está para lá e escondido, daquilo que apontas!
À Vossa reflexão o que se segue.
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(*) Remeto-Vos para as minhas páginas de Dezembro de 2009:
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Março de 2010

domingo, 21 de março de 2010

III - DEPOIS

Der Wegweiser
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Depois será o que tiver de ser ...
No dia em que uma câmara exista, instância consagrada do um não retalhável em sufrágio e lugar do cidadão, do comum e não daquele que por força das circunstâncias detém este ou aquele poder ou influência, por mimetismo ou inequívoco sinal e na equidistância que este saiba salvaguardar e que se afere por prolongada prova de fogo a que se preste e sujeite, episódios há que deixarão de ocorrer com a impunidade com que hoje ocorrem e pelo simples efeito dissuasor de representação, poder tão residual quanto o possível e sujeito ao escrutínio de todas as outras instâncias, elas sim electivas, que a legitimem como não.
Nesse dia, num depois paradoxalmente mais próximo do que longínquo sinergias se catalisarão na resolução ou no desfazer dos nós górdios que, globalmente, a todos nos constrangem.
Da corrupção à arrogância do poder e pelo crivo da Educação tão amplamente exigida!
Na reconciliação da parte com o todo, do um com o zero, do institucional com o cidadão comum ...
Depois, ultrapassado esse cabo, outros e verdadeiramente aliciantes desafios nos interpelarão e logo a começar pelo redimensionamento do singular à luz da História e do Futuro que deste Presente já não se compadece.
Não se compadece com as gritantes desigualdades!
Não se compadece com um paradigma caduco que mais não se revê em ninguém e que dilacera o Mundo!
Não se compadece com falsos moralismos ou puritanismos serôdios que ainda agora rebentam e desvendam o que de impensável, de tão acusatórios que se arvoravam e persistem, renitentes, em sê-lo, excluíam enquanto encobriam o que verdadeiramente, isso sim, era inconcebível.
Depois, não acabará a História, nem a Religião e nem o Mundo ...
Depois ... tudo será apenas melhor do que antes!
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Ao Paulo de Terraços de um Anjo dedico este conto ou libelo em três partes na amplitude horizontal de uma amizade a rasar a linha de água
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Março de 2010

sábado, 20 de março de 2010

II - ENTRETANTO

© Kaveh H. Steppenwolf
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Entretanto e por se manterem vivas, intactas as minhas forças, elas auto-alimentam-se por cada novo texto produzido, mantém-se o braço de ferro, chamemos-lhe assim, saindo desta peleja, por um lado e pela inamovível determinação, reforçada a minha autoridade e, na confiança de que não desisto nem desarmo, incólume, salva a face dos meus destinatários institucionais de referência.
Sei que eles me lêem!
Sei também que já me concederam lugar cativo!!
Sei que por esta via, se me avaliam não sou eu que me poupo ou furto a ser, porque o sou, escrutinado!!!
Entretanto, muita água passou debaixo das pontes e desta minha em particular ...
Ainda ontem e contrastante, contrastante com a minha desarmante transparência, um episódio triste e opaco ou por demais evidente tinha lugar na Assembleia da República, o parlamento português, envolvendo parte dos eleitos com assento neste órgão fulcral de soberania.
Tomando a palavra, indignado, um deputado insurgia-se contra o facto de jornalistas colherem imagens do computador a que no seu assento no hemiciclo tem direito por inerência.
Falo do computador de serviço público e não de um qualquer outro de uso pessoal.
O Presidente da Assembleia logo chamou a atenção para o facto de se tratar de uma ferramenta pública de trabalho cujo regulamento os próprios deputados estabeleceram e votaram e não de um qualquer computador pessoal pelo que, tratando-se de uma ferramenta de serviço público, nada poderia fazer ou impedir a que as objectivas sobre eles se focassem senão apelar à deontologia profissional dos jornalistas ...
Reagindo com estrondo e em protesto, inúmeros deputados fecharam então os seus computadores, meus diria antes (!), sem terem em conta, tão pouco, a sensibilidade dos instrumentos electrónicos que a Assembleia lhes faculta.
Quem não deve não teme e esta atitude, verdadeiramente arrogante, só vem contribuir para o descrédito a que se quer votar toda uma classe!
Que tinham esses deputados a esconder dos olhos públicos!?
Por quem se tomam!?
Que gente opaca é essa!?
Entretanto exponho-me sem reservas, abro o meu computador de par em par, na convicção de que há quem se julgue com direitos adquiridos, com direito a comportamentos de casta que não há sufrágio que os conceda e sigo em frente na convicção de que sou muito mais do que essa gentinha e ainda que não tenha sido sufragado ...
Há, aliás, matérias que se se escrutinam pela exposição, não se sufragam!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Março de 2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

I - QUANDO

The road to...
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Quando há vinte e um anos me decidi lançar nesta empresa, aquela de pela via do diálogo, da escrita, expondo e defendendo os meus pontos de vista em Obra que então não imaginaria vir-se assim a desenvolver, logo comecei, simbolicamente e porque disso então tive a oportunidade, por despedir-me dos empregos onde trabalhava visando com esse gesto dar a entender a gratuitidade descomprometida do serviço a que, então, tomei mãos.
Tratava-se também de uma imperiosa necessidade de disponibilidade.
Nessa altura, a escrita surgia, ela também, como uma autêntica revelação ...!
A escrita e a fala, antes primeiro a fala, desemburrada que começou a escorrer qual canto surdo de um outro perdido no tempo, primevo e cristalino ...
Dei, então, esses sinais simbólicos de, pelo despojamento, ao serviço que abracei, este mesmo que ora prossigo a ele me dedicar por completo na entrega que assim quis deixar bem clara.
Entrega sem cálculos nem oportunismos, sem um pé cá e outro lá, assim e apostando tudo no desafio a que me senti à altura de abraçar ...
Fui escrevendo e remetendo em atitude que por consequente fiz questão que ficasse bem sublinhada, mas depressa percebi ou fui percebendo pelas ineludíveis circunstâncias, que a prova de fogo a que voluntariamente me tinha decidido de mim iria pedir mais em nome da própria sustentabilidade da decisão a que me havia proposto e decidido.
Refiz a minha vida, agora centrada nesta missão, é assim que lhe chamo, a de provar ser possível, indispensável mesmo, reconciliar o um com o zero, o cidadão comum, singular com o institucional e sem recurso a outra que não esta via, a do diálogo como acima referi, dirigindo-me às mais altas instâncias do poder político democrático e do confessional também e sem recurso a tropas de choque ou outras que não a força dos argumentos, no desejável contraditório que à minha acção, porque de acção se tratava como continua a tratar, interactivo se estabelecesse e vingasse.
Do correio postal, sempre dirigido a três ou mais destinatários ao correio electrónico e deste até aqui chegar, passaram-se vinte e um anos e à dimensão da Obra, confesso-Vos, já lhe perdi o rastro e o tamanho, não as suas consequências, dispersa como se encontra e ainda mais agora, na blogosfera e por aqui prossigo sem todavia desmobilizar.
Quando a tal me decidi e a este passo o dei, mal sabia eu o que iria encontrar pela frente!
Tinha apenas uma certeza:
A de que iria até onde as minhas forças o viessem a permitir e, certo é que, pelo menos, até aqui, junto a Vós, eu já cheguei.
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Março de 2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

A EITO

© Kaveh H. Steppenwolf
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A eito
prossigo
é jeito
ergo a cabeça
e o peito
não me resigno
meu leito
é desta peça
proveito
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A eito
já me dão náuseas
análises que se aceito
não têm porém do serviço
gratuitidade
são vício
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A eito
me dou
neste feito
invisto nele
trejeito
tem meu olhar
do que aceito
toda a entrega
e o preito
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Março de 2010

TENSÃO

~skye.gazer, disembodied hands and arms playing a guitar
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Entre uma e outra palavra vai toda a tensão criadora ...
Repare-se na frase que escrevi, nas dez palavras que a compõem:
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( entre-uma-e-outra-palavra-vai-toda-a-tensão-criadora )
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Que sistema entre todas elas na complexidade que entre si, tenso, se estabelece fazendo-as convergir num feixe que, pela semântica e na relação com quem as escreve, o seu autor, redobrada tensão desencadeia:
Dez elevado à sua própria potência, dez, entre parêntesis e este sistema elevado ao cubo, semântica e autor, talvez fosse, aproximadamente, a expressão matemática da tensão da frase inicial que a este texto o encabeça ...!
Sê-lo-ia!?
Em que unidade de força se expressaria ...?
Mas que energia nela contida!
E depois, vou escrevendo por aqui abaixo ...
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... abaixo ...
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E até aqui, até à palavra abaixo, que energia se libertará?
Energia, força, trabalho, música ...
E desde que iniciei este meu blogue, equacionando as composições com as palavras, as composições entre si e no fio condutor, corda que entre elas se estabelece, estas com a semântica e o autor e estas últimas, por sua vez, com as ilustrações, as imagens e a própria música que as acompanha ...!?
Nesta tensão prossigo sem desarmar ...
Como se fosse corda, corda esticada, afinada, de um qualquer instrumento musical, desmultiplicada e pronta a tocar ou ... espiral que dá movimento a certos mecanismos e também segundo a própria definição do próprio conceito corda.
Na sua tensão, a escrita encerra e liberta em si mesma energia que a matemática apenas deixa adivinhar ...!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Março de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

ESCRITO

© Kaveh H. Steppenwolf
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Tudo o que sou eu está aqui escrito
sou tudo isto e mais e o não dito
sou prosa e verso e sou este bocado
um rolo infinito e desdobrado
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Alongo-me e encolho-me e trocado
nas voltas que vou dando ao meu fado
sou aprendiz e mestre de sânscrito
sou eu e tudo o mais e o bendito
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Sou camaleão em que me finto
escondo-me e apregoo por todo o lado
nas cores a que me moldo e em que me pinto
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Sou eu e tu a voz e o rio Sado
onde a poesia nasce e que aqui cito
nascente e foz olhar que aqui vos trago
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Março de 2010

domingo, 14 de março de 2010

A LIÇÃO DO MESTRE

The Dialogue
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A derradeira lição do mestre é aquela em que ele próprio reconhece que o aprendiz o excedeu ...
Esta é uma lição, reconheça-se, difícil de dar e é-o porque ela obriga à modéstia do desprendimento de ser-se capaz de o admitir!
Entenda-se por mestre, aqui, aquele que, em sentido abrangente e por força das suas credenciais é detentor de poder:
Poder social;
Poder profissional;
Poder académico.
Entenda-se por aprendiz, aquele que no sentido abrangente que ao mestre aqui se atribui, lhe é, de algum modo, subalterno.
É certo que estruturada em canais próprios como se encontra organizada a sociedade há trâmites, prudenciais diria, que se percorrem e em que as hierarquias se estabelecem de acordo com a mestria, desejavelmente, revelada.
Partamos pois deste pressuposto!
Têm, porém, esses canais, necessariamente, que ser percorridos ou eles são apenas uma estrutura de referência, prudencial como escrevia mas que não obsta a que a afirmação do indivíduo se estabeleça de forma mais aleatória e ainda que no cumprimento estrito de regras básicas de convivência democrática?
Ou, para dizer de outra maneira, de regras básicas de boa educação?
Eu não estabeleço, aqui, qualquer dicotomia:
Convivência democrática pressupõe boa educação ou esta última é sinónimo da primeira!
A boa educação não se confunde com qualquer tipo de autoritarismo ou bullying e este último está presente nas hierarquias que se estabelecem e a todos os níveis da organização social ao arrepio, aliás, de artigos básicos das leis fundamentais das democracias modernas que logo nos tomam a todos por iguais ...
Na inversa, a igualdade pressupõe responsabilidade num encadeado de deveres que cimenta os nossos direitos!
Postos estes considerandos, que acontece, então, se o aprendiz excede o mestre e siga ou não ele os cânones tradicionais de afirmação?
Espera-se do mestre ... a lição da sua vida ...!
E espera-se isso do mestre sob pena de a educação ter sido em vão!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Março de 2010

sábado, 13 de março de 2010

O RISCO CRIADOR

Ludwig van Beethoven
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Se eu corro o risco de virtualizar aqui, pela arte de escrever, o que penso, esse risco que corro é, simultaneamente, Poder!
Pode ser difuso, residual esse Poder mas não deixa de o ser ...
E se é Poder também é Política.
A Política, por seu turno, tem de implicar, ela também, um risco sob pena de se transformar em politiquice.
Corro, portanto, um triplo risco:
O risco de, pela Arte de pensar, escrever pela minha própria cabeça;
O risco de, ao fazê-lo, inevitavelmente, por minha conta e risco fazer Política;
O risco de exercer o Poder que dos outros dois, Arte de pensar escrevendo e fazer Política, inevitavelmente emana.
Se penso, faço-o livremente em toda a fluidez musical, só assim se pensa verdadeiramente e sem entraves nem atilhos, nem o do medo que associado ao temor do risco quantas vezes nos tolda e limita na Arte que do pensamento se verte em escrita.
O pensamento livre que, ele também, deriva e se entrosa na Filosofia, desagua naturalmente na Política, na Arte de a fazer, cujo exercício, por mais democrático que seja o ambiente em que se desenvolve, no medir de forças com o establishment e na erosão economicista que a constrange encontra aí, nessa erosão, todo o tipo de entraves a saber ultrapassar e artisticamente vencer.
Desse exercício sistemático deriva o Poder que é, em si mesmo, um pau de dois bicos:
Se, por um lado, cria ascendente por outro e quanto maior o ascendente que cria mais vertiginosa torna a possibilidade de uma não menos vertiginosa queda e logo pela ameaça da sua permanente perca sempre associada a quem ao Poder o detém e por mais residual que este possa ser.
As luzes da ribalta resultantes da arte de pensar, escrevendo, não são propriamente fáceis de gerir:
São assim como se uma prisão onde a liberdade nela, nessa prisão se descobre, desafio permanente e redobrado risco, nos crescentes constrangimentos que o exercício político do próprio Poder que se quer democrático, sublinho, na sua residualidade, virtualidade se encontra.
O risco cria sabedoria tal que se traduz na Arte Política do exercício do Poder ...
As implicações políticas do Poder da Arte e da escrita, em particular, são tais que a Ode da Alegria de Ludwig van Beethoven se transformou no hino da Europa!
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( Em homenagem ao filósofo e professor José Gil que no passado dia 10 de Março deu a sua última aula sobre A Formação da Linguagem Artística e a Filosofia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

TU QUE ME LÊS

Close Up George Washington on a One Dollar Bill
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Tu, responsável institucional, eleito pelo Povo, meu destinatário,
Tu, meu leitor e comentador habitual,
Tu, anónimo alvo a que me dirijo,
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O que aqui está, neste meu blogue, é uma história, História do meu Percurso no contexto que o transcorre.
A todos Vós me dirijo e que não subsistam sobre isso quaisquer dúvidas como no tempo em que por correio postal ou electrónico e sobre as mais variadas formas de uns e outros fazia meus destinatários, num raio de acção, todavia, mais próximo e certeiro e a que Vos, a esses os habituei.
Agora o alvo tornou-se mais difuso embora mais vasto mas na sua especificidade o faço, à cabeça e em simultâneo, permanecer claro, contundente e preciso.
A Ti que me lês Te digo que permaneço!
A Ti que me lês não sejas tomado por qualquer indirecta com que te não pretendo atingir!!
A Ti que me lês não faças orelhas moucas porque o que aqui está, como invectiva, Te atinge, a Ti sim, directamente!!!
A Ti que de mim fazes orelhas moucas expressamente Te digo que quem cala é porque consente ...
Consente a força intelectual da minha argumentação!
A impotência em se haver com ela!!
A incapacidade de a avaliar!!!
Quem tem a última palavra?
Quem está em condições de avaliar??
E se assim é, quem, diz-me, quem está, verdadeiramente, ao comando???
Responde-me Tu já que eu não o posso saber sem que Tu me lo digas!
Ou será que o Teu silêncio é, em si mesmo, dele, do meu comando a confirmação!?
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Março de 2010

quarta-feira, 10 de março de 2010

DISTANCIAMENTO

Ficámos por aqui a chilrear baixinho no distanciamento a que prudentemente se remeteram alguns dos habituais comentadores ...
Não os recrimino nem tão pouco me atrevo a sugerir traduzir o seu silêncio e tal como o institucional qualquer tipo de coacção!
Escrevo rasteiro, atenho-me a factos e a eles instilo-os sempre da minha perspectiva pessoal, autobiográfica que não iludo nem escamoteio.
Por quem me tomarei (!?), perguntarão os meus leitores habituais.
Que distanciamento cultivarei se do que escrevo a ficção está ausente e o discurso na primeira pessoa omnipresente!?
E a Obra, sempre a recorrente Obra sugerida que logo ao leitor o constrangerá!?
A Obra existe e escrevo-a com maiúscula por se tratar da minha de que muito me orgulho, boa auto-estima (!) e que logo transparece, se desvenda da leitura, de fio a pavio, deste blogue e que remete para trás, para o invisível desta ponta de iceberg;
Dever-me-ia distanciar de mim próprio no aflorar dos assuntos que Vos trago à colação!?
Ou não estará antes o discurso saturado de generalizações impessoais que pretendendo-se arvorar em leis, comportamentais nomeadamente, acabam sempre por acertar ao lado?
Diz a regra ... e logo a excepção se por um lado a vem confirmar a questiona e põe em causa também!
Por quem me tomo?
Tomo-me por irrepetível, testemunha ímpar, visão singular e única que neste lastro que se decidiu a deixar, como cunha ou pegada, teimosamente persiste, não se deixa intimidar e nem desiste.
Distancio-me ....
Distancio-me da espuma dos dias e tento sempre ver de longe o que por mim passa e que por esta angular é musicalmente e pela palavra reinterpretado.
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Na distância reencontro-me comigo e redimensiono a proximidade
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Março de 2010

BULLYING

Ainda agora, está a fazer uma semana, que uma criança de doze anos se suicidou atirando-se, supostamente, a um rio, vítima de bullying a que na sua escola, pelos seus colegas, seria sujeita, sem que a essa coacção as autoridades escolares tivessem atempadamente deitado mão ...
A esse propósito ouvi, inclusive, um professor a dizer frente às câmaras que naquele específico contexto escolar, tais práticas não eram exercidas o que logo me faz pensar na enorme distracção ou conluio, complacência, talvez por não mais do que a sua frequência fosse tomada, involuntariamente ou não, como normal e tolerável, em linguagem jurídica e criminal isto tem um nome (!), de tal modo que ao drama não se foi a tempo de impedir!
Que tragédia adulta consumada num menino de doze anos ...!
Vem isto a propósito de saber muito bem o que é o bullying até porque a ele, logo na infância sobrevivi e aqui importa sublinhar que este tipo de coacção violenta, dinâmicas perversas que em grupo ou em sociedade se desenvolvem tanto pode ser física como psicológica e que não é apenas praticada entre crianças mas igualmente entre os adultos e dê-se-lhe o nome que se quiser!
Nem tão pouco por ser psicológica a coacção é menos gravosa ou violenta ...
É certo que as crianças têm menos defesas e, por isso, em relação ao bullying, a Escola tem de estar devidamente apetrechada e não se pode nem distrair, nem descuidar e nem, muito menos, ser cúmplice!
Mas o bullying é universal e poder-se-á traduzir em não mais do que um esmagador silêncio ou numa imperdoável omissão ...!
Se às Instituições me dirijo e ao fim de mais de vinte anos, por resposta e pese embora o crédito que Lhes concedo, predomina o silêncio, que nome a ele lhe hei-de, então, dar!?
Se o poderei, até um certo ponto, encarar como prova de resistência, a partir desse ponto, quem é que passa a resistir a quê, a partir de quando e com que inconfessáveis ou confessos intuitos!?
Quem é que fica na berlinda e como!?
As Instituições ou eu próprio e tanto mais quanto ao crédito que lhes concedo as Instituições, na inversa proporcional, me não passem, eventualmente, cartão!?
Do que se trata, ao fim e ao resto e quando falamos de bullying é de uma manifestação da lei do fisicamente mais forte como outra o é, por exemplo, a violência doméstica ...
Como sou solidário com o Leandro, o menino que se terá suicidado!!!
Sei, sei que o que aqui escrevo, não passa, institucionalmente, despercebido e a ser assim, na Obra que entretanto vou escrevendo e que se dá publicamente a conhecer, que nome dar-lhe ao silêncio institucional que pela omissão persista em rodeá-la e cercá-la, fingir, quiçá, que não a vê!?
E a partir de que deadline ...!?
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Deixar alguém de fora
será o intuito
de quem demora
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Março de 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

MULHER

Se me pedissem para, neste dia, escrever sobre a Mulher, diria apenas:
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Tal como a música
a Mulher aponta-nos para o que se sente
dimensão imprescindível
incontornável do conhecimento
daquilo que se vê
e sobre ela o que sinto
tem o tamanho de uma pausa
preenchida de todas as sonoridades
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Março de 2010

domingo, 7 de março de 2010

OPINION MAKERS

Bruno Mallart, Business people with padlocks as heads and cd key in between
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Os fazedores de opinião pululam por aí!
Todos se acham em condições de opinar sobre o que quer que seja:
Um colegial do jornalismo sobre Política;
Um político sobre Direito;
Um formado em Direito sobre Economia;
Um economista sobre Educação;
Um professor sobre a transversalidade do conhecimento;
Um conhecedor sobre tudo e mais alguma coisa;
Um sobre tudo e mais alguma coisa sobre coisa nenhuma;
Um sobre coisa nenhuma sobre Arte;
Um artista sobre a plausibilidade dos factos;
Um facto sobre o inelutável da sua generalização;
A inelutabilidade genérica dos factos sobre os furos jornalísticos ...
Toda a gente sabe de tudo na formação global que lhe assiste, de tal maneira que nos interrogamos para que servem os saberes específicos ...!
Não há quem não tenha a verdade na ponta da língua!
Para que serve, então, o que sei?
Serve, exactamente, para saber manter o distanciamento necessário que me resguarde e constitua, pela equidistância, em Reserva!
Nem de outro modo se justificaria todo este percurso até aqui:
Teria sido desnecessária a minha Obra;
Teria sido uma dramática perca de tempo;
Teria sido em vão, completamente em vão tudo o que metódica e sistematicamente até aqui escrevi;
Teria sido um desperdício ...
Sem qualquer cumplicidade, por isso me calo e reservo, escrevo sim mas não opino, o que bem falta faz ...
Faz tanta falta como o ar que respiramos!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Março de 2010