Papa Francisco, Sumidade
Pontifícia
Santidade,
Para minha grande
consternação, não foi há muitos dias que faleceu o jovem Prior do Estoril, o Padre
Ricardo Neves a quem, poucos dias antes de fatidicamente adoecer Lhe
escrevi uma carta que se encontra ao dispor, juntamente com aquela que a
Vós, previamente a esta Vos escrevi, carta essa que lhe foi entregue e
assinada, por meu punho, no ato da confissão e datada do dia 15 de Agosto de
2014, data que para além de ser aquela da Assunção
da Virgem Maria também coincide com a data de aniversário de minha neta
conforme, logo então, ao Prior do Estoril
lhe referia e onde Lhe pedia que dela fizesse o bom uso que muito bem
entendesse.
Essa carta, como o
escrevia, encontra-se ao dispor num álbum da cronologia do meu facebook onde a poderá ler por inteiro, juntamente com aquelas que ao Seu
antecessor como a Vós mesmos, previamente a esta, Vos escrevi.
Dela retiro o corpo da
mensagem que entre reticências, comas e em itálico se segue na certeza de que
há coisas que apenas a proximidade permite, com tanta clareza ou, pelo menos,
frontalidade e num primeiro momento abordar.
Partindo de uma troca de
correspondência travada entre nós, o Padre
Ricardo e eu próprio, continuava:
( … )
« Desta feita gostaria muito, se
possível, que fazendo ambos, o meu Amigo quanto eu próprio, em rigor não paro
de o fazer, um exercício de distanciamento e me tentasse acompanhar não sem que
antes sublinhe que sempre que me respondem expressamente àquilo que escrevo,
logo a primeira coisa que faço consiste em introspecionar-me na aferição do que
me escrevem e tanto mais assim é quanto tratando-se do meu Amigo.
Jesus, o Messias, Príncipe da Paz.
E logo na leitura do que
me escreveu me interrogava:
Viverei eu em Jesus?
Vou ao encontro da Sua
Mensagem?
Construo a Paz?
É claro que o meu Amigo,
parafraseando-me da paráfrase que eu próprio utilizei logo afirmava ser homem
grande, aquele que procura a paz.
E que dúvidas, então,
podem subsistir, no elogio implícito que do que me escreveu me podem, todavia,
continuar a assaltar?
Viverei mesmo em Jesus?
E é assim, meu Caro Amigo
que, permanentemente, não paro de me questionar na minha autoaferição
sistemática perante o que faço e, logo, escrevo e que já leva anos e anos e
anos.
Tanto que por vezes,
ironizando, desabafo estar cansado de mim mesmo!
Do que em mim mesmo
questiono desponta:
E a minha contraparte
enquanto, ela mesma, representante da Igreja, viverá também em Jesus?
Melhor, viverá a Igreja em
Jesus?
Espero que me perdoe a
ousadia.
Para justificar a pergunta
anterior, deixe-me ser mais específico não sem que antes deixe de clarificar:
Viver em Jesus também é não proceder como o
Império que lavando daí as suas mãos, à sorte dos seus, Dele, de Jesus e da justiça local entregava o Messias em Sacrifício, Ele que afirmando-se Filho de Deus e sem exercício,
por um momento que fosse, da violência por tal afirmação de alcance político
incalculável, à época, entenda-se, ameaçava diretamente a autoridade de Roma ousando equiparar-se a um igual
do imperador ou um seu filho, ele sim, na pax romana considerado o
deus vivo.
Ponha-se na mentalidade
então reinante:
Que ameaça real e tanto
mais quanto pacificadora, Ele mesmo a Paz, o Messias não constituía, de facto, para a autoridade do Império?
Entretanto dobraram os
séculos e a Igreja enquanto remanescente do próprio Império Romano que por dentro nela implodiu e expandindo-se para
lá da sua área de influência, remetida, com o tempo, à esfera intemporal,
constituiu-se como referência espiritual incontornável hoje ameaçada como,
aliás, toda a esfera institucional e nos ritmos que lhes são próprios, pela
voracidade ou a vertigem dos tempos que não se compadecem nem se contentam
mais, tão pouco, com a consagração de santos ou daqueles que vivendo em Cristo, por Ele deram a vida e/ou
morreram e já para não falar nas derivas desumanas em direção às quais
aparentemente se caminha.
Hoje, saberá, já pouco
falta para se exigirem santos à la
carte e à la minute.
Há novos, quantos mais
novos messias potenciais,
saberá que ironizo mas não deixa, por isso, de ser menos séria e oportuna a
questão que levanto e sendo que se messias,
aqui, é uma força de expressão, ai se os não há!
Na vivência em Cristo faltará à Igreja a humildade
bastante que o Império não
soube nem poderia ter sabido ter, de ver e reconhecer ou consagrar um dos seus
como Seu intercessor ou paracleto não
no sentido divino mas na sua aceção do grego antigo, chamei-lhe, em tempos, imperator ou ator imprescindível, em todo o caso instância de representação e
caixa-de-ressonância não eletiva a situar numa esfera intermédia entre os
poderes temporal e intemporal e que se encontra vacante já que nem as casas
reais conseguem, de per si, mais representar mas que urge preencher e a que
chamo, tão só, de aprofundamento da Democracia.
Isto, tanto em benefício
da esfera intemporal ou da reserva espiritual da Igreja ou das igrejas e para
que estas se lhe possam dedicar a tempo inteiro na humildade e na caridade a
que Francisco não cessa de
fazer apelo bem como, também, em benefício do próprio poder democrático e
assente na coisa pública, cada vez mais ameaçados por poderes fáticos e
carentes de toda a legitimidade.
Vai-me perdoar a
imodéstia:
Calculo, posso pecar por
defeito, que o meu Amigo me não tem acompanhado mas a minha obra estende-se já
ao longo de décadas, duas décadas e meia para ser mais exato, ela está
disponível e em grande medida espraia-se pela Net, inclui mesmo cartas dirigidas aos papas João Paulo II e Bento XVI, fala/escreve por si e eu,
pela minha parte, ajo consequente com ela ao ponto de, de tão integrado que
está o processo, já não saber onde uma acaba e o outro começa.
Provas dadas suscetíveis
de poderem ser aferidas não têm faltado, é o meu Amigo que implicitamente as
reconhece e não paro mesmo de as dar.
Como o poderia?
Não tenho, contudo e
confesso-Lhe, a ambição nem a vocação de ser santo e não é preciso sê-lo para
se ser um bom cristão! »
( … )
Papa Francisco
Santidade,
O que aqui escrevi, em
primeira mão, ao Padre Ricardo Neves
e tendo assim procedido com quem hierarquicamente de Vós dependia e que tão
jovem, malogradamente, nos deixou sem que tenha tido ocasião de me responder,
irónica mas não menos tragicamente, sem o desautorizar, comprometer ou cometer
qualquer deselegância, sem constrangimentos, portanto e diretamente,
permite-me, agora, a Vós vo-lo reencaminhar qual culminar da carta que
previamente Vos escrevi e na esperança de que, tanto essa como esta Vos tenha como
venha a chegar às mãos, na certeza de que a arte de esperar, pelo menos ou a
virtude da Esperança me acompanham, dado que pelos seus não despiciendos
conteúdos saberei aguardar de Vós um gesto como o tempo, aliás, não deixa, como
intenção ou atitude da minha parte, quiçá, de o demonstrar.
Concluo esta minha carta
com um soneto de minha autoria que como sua expressão singular se integra no
conjunto da minha obra-prima ou primeira que tanto no tempo quanto no espaço já
vai extensa e que tal como as cartas que Vos escrevi, esta como a anterior, de
28 de Janeiro de 2015, se inclui no publicado no meu blogue cujo endereço
eletrónico geral é http://a-musica-das-palavras.blogspot.pt/:
DO QUE SOU
Não sou do Norte ou do Sul
nem sou vermelho ou azul
sou colorido de tanto
vos olhar com imenso espanto
Meu arco-íris um esperanto
é minha língua de encanto
é um tecido de tule
o chá que verto do bule
Naquilo que escrevo de santo
não tenho mais do que o canto
que me cobre como um manto
Não sou do Norte ou do Sul
de Liverpool ou Istambul
nem sou vermelho ou azul
Na plena convicção de que
quem não quer manda, quem quer vai ou de que quem tem boca, boca ou dom da
escrita, vai a Roma, ditados estes,
pelo menos, correntes na língua portuguesa, aqui me tem.
De quem não confunde
humildade com falsas modéstias e perante Vós, aqui se perfila, expectante, este
Vosso humilde servo
Jaime Latino de Oliveira Nunes Ferreira
Estoril, 17 de Agosto de 2015