Dou, de novo, um murro em cima da mesa, gesto não muito politicamente correcto mas que no resguardo da minha privacidade ainda não se tornou proibitivo.
Antes em cima da mesa do que noutra circunstância qualquer:
Magoo a mesa, a mim próprio, eventualmente e se num gesto mal medido, mas não magoo mais ninguém!
Política é a gestão das expectativas ...
E eu sou um bom gestor ...!
Não digo hoje uma coisa e amanhã outra, posso, quanto muito, contradizer-me como contraditória e complexa é a própria realidade que não se resume a soundbites, a frases simplórias ou publicitárias susceptíveis de passarem na comunicação social, delas sempre carentes na gestão implacável daquele que é o seu tempo, um tempo instantâneo e limitado no qual não cabe uma Obra nem mais do que a memória de momentos truncados do dia ou, pedindo muito, da semana anterior ...
Reduzida a essa pressão, à pressão mediática, a História é instantânea, como se o fosse (!), faz-se na hora, é ela própria na presunção que aos média lhes julga, ilegitimamente, assistir.
Nela cabe um golo mas não cabe um concerto de Mozart.
Nela cabe uma gaffe mas não cabe o contraditório.
Nela cabe um boato alcoviteiro, uma especulação que se faça mas não cabe a tragédia de quem dela, anónimo, seja, implícita ou explicitamente, o alvo.
Nela cabe tudo mas não cabe nada!
Eu sou, perdoem-me a imodéstia, um bom gestor de expectativas ...
Há quantos anos, no que escrevo, não deixo sempre um espaço de respiração?
Entrelinhas em aberto que deixem tempo à reflexão?
Silêncios que do que escrevo se anunciam?
Isenção que da falta de juízos de intenções, eles são os bons, eles são os maus (!), me salvaguarda?
Eu sou um bom gestor do tempo que não frustrando expectativas crescem à medida do tempo que passa!
Respondo a quem me escreve, sinal de elementar educação (!) e faço um registo diário daqueles que me visitam sem que daí se possa concluir mais do que isso ...
Não conto espingardas, não arrebanho nem imponho o meu ponto de vista a ninguém.
Sou previsível, cumpro com a palavra dada e em silêncio, decidi-o (!), me quedarei, de novo, daqui até à Páscoa.
Não serei eu a somar ruído ao ruído nem alimento infundadas expectativas e o meu silêncio é tão empenhado como o impulso que me impôs, até aqui, toda esta intensa produtividade!
esta que acabei de escrever, é a Trilogia da Inquietude
Mozart
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Março de 2011
Mozart
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Março de 2011