segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

DA PALAVRA












Tem ou não tem a palavra, pela sua própria natureza, o poder de nos tocar?
A não tê-lo, deverá ela deixar-nos indiferentes, descomprometidos, expurgada que a palavra devesse ficar da sua própria carga semântica, tornando-se inócua?
Ainda uma terceira reformulação da pergunta:
Admitindo, por um momento que fosse que a palavra seria inócua, de que nos serviria ela?

Começando pela última das reformulações e com ela a todas as anteriores perguntas lhes tentando responder, a ser inócua, a palavra não nos serviria de e para nada.
Sendo inócua e, por isso mesmo, não nos tocando ou comprometendo, a palavra seria um escusado e dispensável extra.
As ideias que as próprias palavras traduzem seriam uma absurda inutilidade.
Tocar.
Tocar, comprometer, impressionar, incomodar, desinstalar, transformar tanto para o melhor como para o pior, esperemos, estou certo que tendencialmente para o melhor.
Só assim, nessas capacidades que ela tem, a palavra ganha sentido pois que é disso mesmo que se trata:
A palavra sensibiliza, racionaliza, dá vida.
Ela não nos deixa nem nos pode deixar indiferentes e com outras palavras conjugada, muito menos ainda.

A palavra é a mais potente de todas as imagens.
Tão potente que ela altera a própria perceção que temos da realidade.
Senão pondere-se:
Não fora a palavra e o que seria dos objetos que compõem o real, naturais ou não e, nestes últimos, tal como seja, por exemplo, uma cadeira?
O que terá surgido primeiro, a ideia dela, da cadeira traduzida na sua própria conceptualização ou a cadeira propriamente dita?
O simulacro da cadeira talvez que a tenha precedido, mas que dizer do objeto que em si mesmo lhe dá nome?
E deixo-vos com esta e com a pergunta que se segue, mantendo-as no ar, na certeza de que a própria capacidade de nos interrogarmos de que este meu texto é, em si mesmo, um exemplo concreto, sem a palavra, não se teria desenvolvido ao ponto de criarmos uma cadeira.
E a Criação, o que seria dela e, a havê-Lo, do seu Criador sem os conceitos, elementos, em suma, sem as suas palavras constituintes?

A palavra, mas que extraordinário input!
Uma coisa é certa:
Mesmo se tudo já lá estava, antes da palavra era o caos e ainda que ressoante de um cadinho ou Input matricial, Big Bang criador.






a todos os que independentemente de acreditarem ou não, democratas, na palavra fazem por centrar a soberania











Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Janeiro de 2016





3 comentários:

mz disse...

Sendo a "palavra" a maior arma "imaterial" da humanidade, é na verdade um extraordinário imput!

E este, foi a humanidade na sua capacidade de organização e inteligência que a criou.

Bem-haja ao criador Big Bang e bem-haja a humanidade!

Um bom ano 2016.

Jaime Portela disse...

Sem as palavras seríamos animais irracionais...
E pergunto (dado que não sei): foi a inteligência dos humanos que fez surgir a palavra ou foi esta que nos foi tornando cada vez mais inteligentes? Ou seja, apalavra é a causa ou o efeito da inteligência?
Um excelente post, para ler, reler e refletir...
Bom fim de semana, caro Jaime.
Abraço.

manuela baptista disse...

uma cadeira

insonora e imóvel e no entanto, pela palavra, podemos dar-lhe vida e movimento

ou então,

a criação do mundo, dizemos árvore e ela surge, dizemos mar e ele é maré

.

palmas ao texto e ao fundo musical