Thomas Cole, The Course of Empire 4,
Destruction, 1836
De baixo de fogo, a
Democracia encontra-se cercada.
Desde o que de
profundamente inquietante se passa no Brasil
ao que de não menos inquietante se desenrola nas presentes eleições primárias
nos Estados Unidos da América, os
múltiplos sinais de populismo e de xenofobia que vão aflorando na União Europeia, o terror exercido pelo Daesh e congéneres por todo o mundo ou a crise dos refugiados perante a
qual sobreleva a impotência em resolvê-la, são múltiplos os acontecimentos que concorrem
para o que escrevi no primeiro parágrafo deste meu texto:
Under siege, cercada, a Democracia periga.
Seja por justicialismos,
caprichos de rua ou de eleitoralismos populistas ou pelo exercício, puro e
simples, gratuito do terror, a Democracia, entendida aqui como o espaço global
daqueles países por ela, mais ou menos, bafejado, é sacudida por inquietantes e
nada apaziguadores, tranquilizadores sinais que a abalam.
Será que aqueles mesmos
instrumentos que a garantem e quer por excesso como por defeito a poderão levar
à ruína?
Será que o terror lhe
poderá levar a dianteira?
Será que a abertura e a
integração, características que à Democracia lhe estão ou deveriam estar nos
genes, poderão ser levadas de vencida pela barbárie e pelo caos?
A ser assim, de que défice
padecerá ela, então?
Num tempo
imediatisticamente mediático, ciclotímico alucinante, falta-lhe pausa ou espaço
para refletir.
Tempo de respiração.
Falta-lhe ponderação.
Falta-lhe o contraditório
não entendido no seu sentido, estritamente, jurídico mas político que a
aprofunde e crie mais sólidas e perenes raízes em que se funde.
Sempre soubemos que a
Democracia é frágil, que os próprios instrumentos que a garantem a poderão,
como quantas vezes na História já aconteceu, levar à ruína mas não haverá nada
que o possa contrariar e torna-la mais sustentável e previsível?
Não teremos aprendido nada
com a História?
Pela minha parte não me conformo
e brado aos sete ventos que sim, há, só pode haver!
Reafirmo:
Nem tudo na Democracia
depende dos incontornáveis, repito, incontornáveis instrumentos em que ela, por
défice, se baliza.
Não, nem tudo.
Há mais, há outras balizas
a ter em conta.
Onde está o aprofundamento
da Democracia que dando-lhe durabilidade, a sustente ao abrigo das intempéries
que a assolam?
Sim, onde está?
Está aqui.
Aqui?
Sim, aqui, neste meu
compromisso de honra e que no tempo, sem sebastianismos, apontai-mos, se
sustenta.
Não é em vão que assino e
dato cada um dos meus textos.
Uma vez mais, explico-me:
Temperado pelo tempo, leva
vinte e sete anos, o meu compromisso é indefetível e tanto mais quanto sem
esmorecer prevalece porque não o rompo nem corrompo:
Por ela, pela Democracia
tudo farei para a defender, como ao longo destes anos todos o fiz, o que
implica o seu indissociável aprofundamento ou o reconhecimento, por provas
dadas, do instituto soberano do singular.
Instituto soberano esse
que, em última instância, à Democracia a justifica.
Que outro instrumento o
não é esse e tanto mais quanto tomando a iniciativa estratégica sem a qual a
simples atitude defensiva à Democracia a poderá deitar a perder.
Desta minha câmara escura,
afinal, o buraco negro de que tanto escrevi e que mais tarde deixei cair, na travessia que vai da depressão à euforia a partir do negativo de
ambas, revelada numa perspetiva positiva estável e inamovível, metáfora de mim
mesmo e de que não me conseguia dissociar não o enxergando como tratando-se dela
própria, da minha própria câmara escura, nas garantias que dei, estou
disponível para à Democracia a aprofundar.
Que maior feito do que
aquele de à minha própria ciclotimia a vencer, controlando-a e
ultrapassando-a?
Projetando-se em valia
adicional, política e cidadã que socialmente a integre e ponha a render?
A partir de um lugar único
e soberano, o meu.
Estou disponível.
Estou disponível porque há
mais, muito mais para lá dos défices que nos corroem por dentro e, por isso, ao
cerco respondo com outro cerco, o cerco da sedução, na Língua de Camões criando um lugar invisível, tão
visível quanto invisível por transparente o ser que, por isso mesmo, a nenhum
outro o dispensa ou substitui, um lugar negro pois que encandeante de luz,
fusão cromática capaz de ao primeiro cerco o furar, ultrapassar e em si mesmo,
às claras, se sublimar e exceder.
Em defesa da Democracia,
sim, estou disponível e como há tanto tempo o faço, uma vez mais, por Vós,
representantes eleitos, aguardo.
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Março de 2016