Marcelo Rebelo de Sousa
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
DE PORTUGAL
Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa
Excelência, Caríssimo
Amigo,
Debruça-se esta minha
carta que decidi, depois de muito refletir e do que sois testemunha, tornar
aberta, sobre a etiqueta ou falta dela nesta decisão que, por fim, tomei.
O meu Amigo não tem,
aliás, deixado, expressamente, de me incentivar pelo que, por maioria de razão,
deste modo e finalmente, decidi agir, escrevendo publicamente o que aqui Lhe
deixo.
Quebra de etiqueta ou não?
Faz, agora, vinte e oito
anos que pela primeira vez e abertamente, me dirigi em cartas, as minhas Cartas Credenciais, ao Presidente
Mário Soares, tendes delas
conhecimento, desencadeando uma Obra que não para de crescer e, entretanto, Vós
sois, apenas, mais um dos já sucessivos inquilinos do Palácio Rosa ou de Belém.
Neste último ano
escrevi-Lhe quase exclusivamente a Si deixando em stand by as minhas plataformas mas que agora, de há uns dias a esta parte, recuperam o seu fôlego como se dizendo que não, não estou em
crise de criatividade.
Como escrevi na página anterior do meu blogue, tudo o que nele publiquei, como alvo não deixa de
ter como seus destinatários últimos, as mais altas instâncias do poder
democrático ou que nele se filiam.
O meu Amigo, repito e,
convenhamos, de há muitos anos e não apenas de quando assumiu o Cargo que o
sabe.
As mais altas instâncias
podê-las-iam ser o meu Amigo, entretanto eleito ou outro qualquer Chefe de
Estado mas o certo é que é nesta língua que em plenitude me entendo e do ponto
de vista protocolar, todos os chefes de
estado têm igual presunção ou tratamento e o meu Presidente da República, o meu Amigo é, por isso, o topo do poder
tanto mais quanto democrático e isto, independentemente do país ou do Estado
que representa.
Como já o escrevi, ao
longo deste último ano, o Professor não deixou, amiúde, expressamente e por
feedback de me incentivar, incentivos que, reputo, reconhecidos e elogiosos,
elogiosos e de que maneira, pelo que o corolário lógico de tudo o que,
privadamente, Lhe enviei ao longo deste último ano e que redundou já numa
infinidade de mensagens Suas, só poderia ter este desfecho.
Falta de etiqueta seria
tornar públicos todos os Seus expressos quanto privados incentivos, coisa que
nunca o faria mas aqui estou, agora sim, publicamente e independentemente do
número daqueles que me leem ou gostam do que escrevo, não é isso que tira ou
acrescenta qualidade ao que se escreve, a apelar à Sua intercessão se me é
permitido, muito prosaicamente, utilizar esta expressão.
Sei do valor do que
escrevo e tanto mais quanto nos tempos conturbados que vivemos em que a
Democracia oscila entre ser mais ou ser menos se é que tal se poderá dizer.
A Democracia só pode ser
mais e nisso e para tal, o meu contributo não é, penso, negligenciável.
Aqui estou, pois,
aguardando polida quanto pacientemente por qualquer gesto que da Sua parte
venha a ser dado em meu, em favor do aprofundamento democrático e da saúde da
Democracia aos quais nos idos de oitenta e nove Mário Soares, Seu antecessor apelou e a que, logo na altura e ainda
que pecando de imaturidade, me levou a responder-Lhe com prontidão.
Não porque seja um
iluminado mas, antes sim, porque não paro, incansável, de me alumiar.
Presidente Marcelo Rebelo de Sousa,
Escrever nesta ou numa
outra plataforma qualquer é absolutamente secundário, o que interessa mesmo são
os conteúdos do que se escreva e esses, os meus, se não visam melindrar também
não colocam ninguém em cheque senão, eventualmente, a minha pessoa.
Ao tempo das Cartas Credenciais que lastro, no
entanto, carregava eu comigo mas agora, podeis bem aferi-lo e, não menos, das
intenções que numa inamovível e inabalável atitude, prova maior, me faz perseverar e que com toda a persistência me
move.
Lastro, mas que lastro!
a força de um texto quanto mais de
uma miríade incontável deles, não se mede pela quantidade de gostos ou de votos
que os subscrevam mas por aquela da sua arquitetura interior dada ao
contraditório e essa é, talvez, a suprema conclusão que à Democracia lhe falta,
em si mesma, retirar
Quanto à popularidade,
se não for dirigida a todos e a cada um de nós e tanto mais quanto por feitos e
obras o mereça sem consequências ou ilações que daí se presumam, grande poderá
sê-la mas universal é que a não é ou será.
Assim e resiliente,
preparo-me para uma nova pausa que não corresponde, friso uma vez mais, a
qualquer crise identitária e que me levará até onde ou a entender necessária.
esperar é bem saber que para chegar
ao topo há que seguir o som do mar
escalá-lo e só se aos meios se os olhar
como as ondas num abraço que é amar
Congruente comigo mesmo,
Vosso e sempre
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Abril de 2017