Van Gogh
O discurso academista é um discurso desprovido do eu e, exactamente por dele ser desprovido, faz tábua rasa do singular, do cidadão comum individualmente considerado.
Tudo nele, na sua multifacetagem, bate certo menos essa omissão, a omissão do singular, do eu e do que a ele lhe escapa o que é a mesma coisa, a omissão insusceptível de lhe conferir humanidade e, logo, adesão à realidade.
Três dimensões deste discurso:
A dimensão política, a científica e a artística.
Dimensão política:
A política sem o destinatário concreto a quem ela se dirige, resumida às ideologias ou às doutrinas que a sustentam, despida, também, de quem as encarne, transforma-se em retórica sem emissor nem destinatário, fogo-fátuo sem ter princípio nem fim, princípios ou finalidade;
Dimensão científica:
O conhecimento científico, na sua metodologia, sem ter objecto nem finalidade, é um amontoado de hipóteses, tantas quantas as que se queiram formular desprovidas de seriação hierárquica, desprovida também, essa dimensão, da excepcionalidade que todos somos, hipóteses dispostas a confirmar como a desfirmar a regra que se tinha como segura e tanto mais quanto de ambos esse conhecimento estiver desenquadrado, do objecto como da finalidade;
Dimensão artística:
A arte, sem o seu autor e aquele a quem ela se destina, o outro autor, como nas dimensões política ou científica, podendo ser tudo, pode descambar em nada e ainda que, como fogo-fátuo, se transforme, circunstancialmente, em top de vendas ou de sucesso instantâneo.
O discurso academista, colado de citações postas entre aspas, biombo de quem o emite nele se escondendo e escudando, omitindo o eu, por muito certo que o esteja quando originalmente emitido na primeira pessoa, torna-se em vacuidade sem sentido descolado que fica da realidade.
Essa é a doença que aflige e constrange os nossos tempos à falta de quem, como eu, saiba conjugar na primeira pessoa …
… um eu que também és tu ou ele, nós, vós e eles!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Junho de 2011
8 comentários:
Uma excelente postagem. Tua argumentação fere o ponto mais sensível da questão. Em torno dessa doença, ergue-se a muralha que separa o mundo real, das miríades de "hipóteses de realidade" em que se insulam os academicos.
Bravo!
EURICO
Meu Caro,
... insulam ...
Bela expressão em que o falar do português da outra margem em tanto nos enriquece!
Muito obrigado e seja bem vindo a este meu blogue, um abraço
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Junho de 2011
EURICO
Uma vez mais,
Deixe-me apenas que Lhe esclareça:
Eu não confundo academismo com espírito académico que é outra coisa e do academismo enfermam tanto alguns académicos como muitos que o não são!
Mais uma vez, um grande Abraço
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Junho de 2011
As três domensões num só discurso isento da individualidade. Se a doença é infantil... qual será o prognóstico de evolução na adolescência? :)
P.S.Espero não se ter ofendido com a recusa do pedido no livro das caras. Como expliquei na mensagem, se calhar um dia destes alargo o leque, mas para já... :)Ainda posso acabar por eliminar completamente a conta.. está mais para isso, rrss
Abraço
eu diria, doença infantil do modernismo ou mais precisamente modernice
o academismo tem bafio, como o tem, o discurso político
saber conjugar todos os tempos será esse o desafio da modernidade
penso, EU! :)))
manuela
EVA GONÇALVES
Querida Amiga,
Pois é, a doença já vai sendo prolongada logo, e respondendo-Lhe à pergunta, o prognóstico, na adolescência, será o academismo, doença infantilmente retardada da modernidade!
Quanto ao livro das caras como lhe chama:
Eu não vi a Sua mensagem ou então se calhar, sou eu que ainda não domino as potencialidades, que não domino (!), daquele suporte!
Mas deixe lá que não sou pessoa de melindres, o tempo o ditará ...
.. não aos melindres, a esses nem pensar, mas ao que ele venha a decidir!
Um grande beijinho
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Junho de 2011
MANUELA BAPTISTA
Pensas tu de que ... comigo também!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Junho de 2011
EUS I
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Junho de 2011
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