Paul Ygartua, Indomitable Spirit, 2006
Há um traço comum à
euforia e à alegria que é esta mesma, a alegria e que na depressão desaparece
dando lugar à tristeza.
É claro que esse traço
comum é apenas comum, essa vibração de felicidade, mas distingue-se uma da
outra, a da euforia como a da simples alegria talvez porque nesta última ela
tem uma base de sustentação que, em princípio, na euforia não se sustém.
Conheço estes estados:
O da euforia, o da
depressão, o da alegria e o da tristeza.
O da depressão é
insuportável e uma das razões porque o é explica-se pelo facto de por mais que
se faça, difícil é, nesse estado, conseguir fazer-se o que seja e mesmo se não
havendo sólidas razões que a expliquem, ele há-as sempre como para a euforia
também, já que ela não se deixa contagiar pela alegria e vive mergulhada na
tristeza.
Daí, muitas vezes, a
depressão quando não a euforia (?) conduzir ao suicídio e mesmo se, quem vê de
fora, para ele não encontre razões que o justifiquem.
A euforia, pelo contrário,
define-se por uma alegria imensa, exuberante, incomensurável.
Quem por ela é tomado, não
quer outra coisa e dificilmente se deixa, nela mergulhado, aconselhar.
Mais depressa quem esteja
tomado pela depressão ouve e se deixa aconselhar do que quem pelo seu estado
simétrico esteja invadido e, nesse sentido, poder-se-á dizer que a depressão é
o calcanhar de Aquiles da bipolaridade.
Falo, isto é, escrevo por
mim!
Poder-se-á dizer que a
euforia é uma tristeza disfarçada de alegria desmedida e sem fim e nesse estado
ampliado ou não por expedientes ou artifícios utilizados, psicotrópicos
entendam-se, potenciei as minhas capacidades criativas.
É um facto que se pode
demonstrar por tudo o que então, nos idos de noventa, finais de oitenta,
escrevi e que se encontra salvaguardado tanto nos arquivos da Presidência da República como nos do Centro Nacional de Cultura, estes entre outros!
Contudo ressalvo que daqui
não se deduza, implícito, o elogio da euforia.
A depressão, pelo
contrário, é uma tristeza cavada acompanhada de uma inércia não menos
paralisante, sufocante mesmo.
Para além de serem o
simétrico ou o negativo uma da outra, depressão e euforia têm, também, em comum
o facto de tanto a tristeza de uma como a alegria da outra se fundarem em pés
de barro ou melhor, serem ambas estados de quem é portador de qualquer coisa
intrínseca, entidade nosológica, diz-se ou patologia a merecer continuado acompanhamento
técnico bem como, o que é fundamental, que os
mais próximos de quem delas é portador lhe mantenham as portas abertas
desarmadilhando alibis que a ambos os estados os justifiquem ou que o contexto
se lhe torne favorável, coisa com que, graças a Deus, sempre pude contar mas que também está e por muito difícil que
seja fazê-lo atendendo à turbulência em que se vive, nas mãos do próprio.
Aquilo que se passa no
nosso centro nervoso ou comando central de personalidade é sempre aquilo com
que maior dificuldade se tem em lidar exatamente porque mexe, integral e
intrinsecamente, connosco próprios, com o eu.
Nas circunstâncias atrás
referidas, porém, o acompanhamento médico é fundamental bem como o respeito
pelas prescrições que este exige.
Exige, sublinho!
No entanto, fundamental
também é que a pessoa enredada nestas complexas circunstâncias ora vendo tudo
por lentes que a tudo ampliam, valorizam ou diminuem, desvalorizam em demasia
fique bem consigo mesma ou seja parte incontornável na busca do seu bem-estar e
não apenas um mero ator ou alvo passivo ou indiferente de um qualquer
acompanhamento que, assim sendo, se torna sempre, porque ao seu próprio
arrepio, forçado ou impositivo.
Ela, essa pessoa, no
indispensável acompanhamento médico, tem sempre uma palavra a dizer.
Conheci um longo período de
euforia e, posteriormente, outro longo período de depressão ambos atravessados
por altos e baixos e foi no decurso desta última que a dado passo disse a mim
mesmo que ainda haveria de conseguir reatar o meu fio condutor, fundado na
alegria e sobretudo naquela que assenta no bem-estar comigo próprio que o mesmo
é dizer e no meu caso, que assenta na capacidade criativa realizadora e sem
recurso a quaisquer expedientes artificiais que a um como ao outro estados,
faces de um mesmo processo, os pudessem vir a socavar mais e ainda mais porque
ele não se mantém estático e ou se estabiliza ou se agrava.
Integrado que foi o
acompanhamento médico recomecei, assim e em contraciclo, a criar deprimido e
fiz, então, um primeiro pequeno ciclo de poemas a que chamei Miniaturas e, paulatina e
progressivamente, fui readquirindo o meu equilíbrio que embora e sempre
almejado, tinha perdido.
Ao decidi-lo muito
penosamente, longe estava eu de pensar quão longe e nesses termos, na minha diferença
que a mim mesmo não soneguei, passados que foram tantos anos e sem mais recurso
a outros artifícios ou expedientes dilatórios
e sempre salvaguardado o acompanhamento médico, sublinho uma vez mais e o que
custa duas tomas diárias e sagradas, diria,
até aqui me trouxe.
Quem o poderia, então,
antever?
E que alegria
reconquistada, agora sim, sustentada em tudo o que, de então para cá para não
dizer de muito antes e porque artes, eu já criei:
Lastro estabilizador!
Sem nenhuma arrogância e
na esperança de que me perdoem e, em especial, todos aqueles que tão duramente
são atingidos pela presente crise mas o facto é que ao pé deste meu relato de
aparentemente fácil descrição mas de complexa e prolongada resolução, os altos
e baixos ciclotímicos da economia são
uma simples brincadeira já que este relato também é o resultado da arte da Política
que se aplicada com sucesso ao micro sê-lo-á, seguramente, ao macro também.
inside view em linguagem comum ou de como a euforia é a
depressão maquilhada de alegria
(*) Schubert seria, ele próprio, um bipolar ao tempo em que, pelo
fortíssimo estigma que representava, ser-se bipolar equivalia, tout court e sem remissão, a ser-se tomado por louco
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Julho de 2013
Michaux, Le
Gardien de la Plage des Dames
1 comentário:
quem o poderia escrever, saber,
melhor
mais ninguém
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