dei-me à liberdade de titular esta fotografia cuja
autoria também não consegui determinar de varrimento
Vamos imaginar que, sem o
saber, eu era vigiado, espiado vinte e quatro sobre vinte e quatro horas.
Que teria eu a temer por esse
facto?
Nada.
Nada e se assim,
frontalmente, vo-lo escrevo tal deve-se ao facto de eu não agir, dizer, ou
escrever em off de modo a que ponha
em causa a maneira como em on, congruentemente,
procedo.
É claro que o modo como
procedo em off, não coincide,
exatamente, com aquele que corresponde ao meu on, mas tal deve-se, exclusivamente, ao contexto que de um para
outro modo, alterando-se, os caracteriza e nada mais.
Por exemplo:
Em off dou-me a uma liberdade linguística como aquela da utilização da
palavra começada por m ou daquela
outra por f, que mal vem daí ao
mundo, que em on evito utilizar mas
não são os maiores ou menores formalismos linguísticos que quebram a coerência
que faço, em mim e num como noutro caso, por prevalecer.
Ou então e quantas vezes,
em off parto pedra sobre um qualquer
assunto até que, por fim, em on, na
sua versão definitiva, se possa, finalmente e num processo que não é automático
porque obriga a considerar muitos ângulos, traduzir.
Não, não faço nas costas o
que me não atrevo a fazer frontalmente ou frontal não o seria e se algum
segredo detenho, como por definição o caracteriza, guardo-o para mim e,
sobretudo, sem expor terceiros envolvidos.
Assim, se me viessem dizer
que era espiolhado, ininterruptamente, de dia como de noite, não entraria em
pânico e continuaria a proceder como até aqui e como desde que vivemos em
Democracia sempre o fiz sem que por tal facto, exclusivamente, visse a minha
liberdade condicionada.
Tanto mais quanto até
admito que em nome da Liberdade, há coisas tão preciosas como a segurança que
se têm de salvaguardar e para as quais, apenas as secretas estão em condições
de a poder fazer garantir na crescente globalização e sempre num precário equilíbrio entre o que é do domínio das soberanias,
do domínio público ou do privado, equilíbrio que não pode ser quebrado,
mesmo se num tempo em que o terror, insinuando-se, prevalece como uma real
ameaça.
Se, portanto, me viessem
dizer que estava permanentemente a ser escrutinado pelo varrimento integral da
minha vida pública como privada, psicose ou paranoia, dir-me-ão mas não minhas
antes prevalecentes difusas espraiando-se
por todo o tecido social e porque não sou dissimulado nem cultivo teorias
da conspiração, não alteraria em nada o meu modo de proceder pelo que não seria
por isso que sentiria a minha liberdade ameaçada, comprometida tão pouco.
Se quiserem e como, no
fundo, sou eu próprio que imagino tudo aquilo que aqui acabei de escrever,
chamem a esta minha forma desabrida de proceder a resultante de uma paranoia positiva que me acompanha de há
muito e com a qual, aliás, até convivo muito bem.
a propósito dos espiões bufos que se erigem em heróis, sendo
certo que a salvaguarda da soberania dos estados e da privacidade são, em si
mesmos, valores que importa preservar, valores esses que também distinguem as
democracias de quaisquer outros regimes carentes de legitimidade
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Julho de 2013
scary eyes of a man spying through a
hole in the wall
2 comentários:
que saudades da Mata Hari...
ahahaahah!
Bom texto e bom coment!
Beijinhos espiões
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