este meu texto entronca-se neste outro
Há muito que a vida
política anda descompensada, a saber, a palavra tem sido preterida pelos
números que o mesmo quer dizer que a política se tem rendido à economia.
Há muitos anos mesmo que
temos vivido no império desta última.
Os ventos começam,
contudo, a soprar de outra feição.
A feição da palavra ou da
política tout court e há uma asfixia
que subitamente se desvanece para desorientação de muitos a ela habituados,
chantageando ou não, mas a seu contento.
Formados que todos ficamos
em economia e finanças, foi uma longa pós-graduação, de repente, essas muletas
em que para o bem como para o mal nos amparávamos, dão de si e o desnorteio de
muitos instala-se.
Num extremo a retórica, no
outro a economia ou para utilizar uma metáfora, a euforia de um lado e a
depressão do outro?
Não existirá meio-termo ou
forma de as compensar ou de a ambas as recentrar de novo?
Estou convencido que sim e
nem de outro modo, eu próprio, teria chegado até aqui.
O centro político
desfocou-se e naquilo que tem prevalecido como o pensamento único ou os ditames
da economia estrito senso considerada, do não haver alternativa, as posições,
aparentemente, extremaram-se.
Mas há sempre alternativa,
essa é uma condição da Democracia sem a qual ela não existirá de todo.
Não há alternativa a quê,
pergunto-me e nesta pergunta reside o cerne da questão.
Imaginemos, por um
momento, que as coisas teriam de ser de uma determinada forma porque sim mas tal poderíamos,
apenas e por um momento, admitir se essa fórmula permanecesse estática,
imutável no tempo.
A realidade das coisas,
porém, demonstra-nos, precisamente, o contrário:
Nada permanece imutável,
tudo está em permanente movimento, nós próprios somos dele um acelerado impulso
ou input e cada vez mais assim o é.
Se não houvesse
alternativa, não nos distinguiríamos, tão pouco, pela nossa capacidade de
adaptação, isto é, pela inteligência e não sobreviveríamos à mudança.
Extinguir-nos-íamos sem
apelo.
Há alternativa, sim.
E aquilo que num primeiro
momento poderia parecer a rarefação do centro ou a radicalização resultante de
não haver alternativa com tudo o que tal implicou, afinal, resulta numa
recentragem do quadro político abrindo outras e mais vastas perspetivas, acordos
e abordagens que pareciam ter-se cristalizado balcanizando uns como outros ou
melhor, balcanizando-se, por via dessa mesma recentragem e ao que parece, o
espetro político oposto aquele que balcanizado havia estado.
Será?
No quadro político
nacional, estrito senso considerado, uma coisa é certa:
Passaram muitos anos sobre
o 25 de Abril de 1974 e, sobretudo,
sobre as sequelas que se lhe seguiram sem que disso se dê a devida conta:
Não há filhos e enteados, a
havê-los já lá vai o tempo em que não eram todos iguais e todos têm iguais
direitos como deveres.
Temos de estar preparados,
é certo:
Quando no outro extremo do
espetro político-parlamentar igual problema se vier a colocar como noutras
latitudes já se coloca, a balcanização ou a exclusão serão, como o são sempre,
alimento fértil para o seu crescimento.
Entretanto e na certeza de
que, a partir de agora, não passa a valer gastar à tripa forra, a política
voltou ao lugar de onde nunca devia ter saído.
E agora?
O centro não desapareceu,
deslocou-se apenas e já não corresponde ao paradigma político tradicional.
Ele reside, como sempre
residiu, na soberania da palavra que política o é e estas situam-se em quem
está nas melhores condições de dialogar tanto num sentido como no outro e disso
os decisores políticos que se cuidem porque um dia destes, quando e se
acordarem, oxalá acordem, poderá ser tarde demais.
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Outubro de 2015