terça-feira, 20 de outubro de 2015

DE ALGUNS MITOS QUE NÃO SE SUSTENTAM MAIS




Queda dos Titãs, Cornelis van Haarlem, 1588








DAS  INTENCIONALIDADES  DOS  VOTOS  EXPRESSOS

É completamente abusivo, antidemocrático, mesmo, já que ninguém consegue meter-se na cabeça de quem por sua via se exprime, atribuírem-se intencionalidades aos votos dos cidadãos eleitores, elas são completamente imponderáveis, porque a havê-las coletivas ou expressas, tal equivaleria a dizer-se que sendo universal, o voto não seria individual e secreto, ponto.


DAS  ELEIÇÕES  LEGISLATIVAS

Independentemente da tradição e da ponderação que as forças políticas mais ou menos votadas em eleições legislativas devem merecer ou, talvez, por isso mesmo, delas não se deduz que ser-se a força política mais votada signifique, necessariamente, ser-se aquela que está em condições de formar governo.
Nestas eleições, os boletins de voto apresentam, não caras mas os logotipos das forças políticas em presença, logo, não se destinam a eleger um primeiro-ministro até porque não são eleições unipessoais, destinam-se, antes sim, a eleger os deputados do Parlamento e é a partir dessa constatação que se define ou não quem está em condições de formar um governo tão estável quanto o desejável sob indigitação do Chefe de Estado.


DOS  PARTIDOS  DO  ARCO  DA  GOVERNAÇÃO

Pegando nesta mesma expressão mas subvertendo-a, dos partidos do arco da governação ou do desenho que forma o conjunto das bancadas de um Parlamento clássico sem exclusão de ninguém e é dele, isto é, do conjunto dessas mesmas bancadas, de um como do outro dos seus lados ou ao centro que se apura uma governação possível.


DAS  CONDIÇÕES  DE  GOVERNABILIDADE

Os programas dos partidos são uma coisa e nem tudo desses programas está na agenda, eles constituem os seus máximos e o programa do governo é outra bem diferente, isto é, aquilo que está na agenda e é à volta deste último ou dos mínimos que o integram que se pode chegar a um qualquer entendimento entre as forças políticas que compõem as bancadas parlamentares com vista à formação de um governo plausível e democrático qualquer que ele possa vir a ser.


DA  EMPREGABILIDADE  OU  DA  FALTA  DELA

Ter emprego não é, necessariamente, ter trabalho e ambos os conceitos não se confundem.
Pode-se ter emprego e não trabalhar de todo.
Pode-se trabalhar e não ter emprego.
O trabalho consiste em qualquer ocupação manual ou intelectual, não necessariamente profissional que se tenha ou no esmero que se emprega na feitura desse mesmo trabalho ou obra que se tenha entre mãos.
Neste último caso, o de se trabalhar mas não ter emprego, não se tem de ser, necessariamente, um infeliz, um excluído ou um inútil e é este o meu caso:
Neste momento não tenho emprego, nem subsídio de desemprego, nem reforma à vista e nem por tudo isso me sinto um inútil, um desesperançado ou um desaproveitado.
Não vivo, tão pouco, tolhido pelo medo ou pela infelicidade.
Pelo ato de criação realizo-me em cada uma das páginas que escrevo e dou à estampa.
Sabeis o que isso é?
Tanto mais quanto vivendo na corda bamba da imprevisibilidade completa do dia de amanhã, sem rede ou da empregabilidade que pelo que crio tarda em ser reconhecida?
Não se trata de fazer o elogio da desempregabilidade, não e que fique claro mas esta ou o seu contrário não se definem, necessariamente, num perfil, ainda que estatístico ou miserabilista que não corresponde ao meu e não se pense que do ponto de vista estritamente económico sou mais do que um simples remediado.
Eis outro dos mitos titânicos em queda livre.

Sinais dos tempos ou de maturidade que tardam?






1 & 2






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 Outubro de 2015





4 comentários:

ki.ti disse...

ou como acreditar que os gatos pretos dão azar


manuela baptista disse...

e agora todos à espera de saber qual será o mito que o PR vai levantar...

. intemporal . disse...

.

.

. urge devolver a Voz . a quem sempre a teve .

.

. abraço.O .

.

.

Jaime Latino Ferreira disse...

RADIOGRAFIA DO POST VERTENTE



Em momentos de grande agitação política nada como reafirmar verdades aparentemente evidentes mas que acabam por se revelar como o não sendo:


1 – O voto é um instituto universal, singular e secreto;

2 - As eleições legislativas destinam-se, tão só, a eleger os deputados para a Assembleia da República;

3 – Partidos do arco da governação ou são todos aqueles com representação parlamentar ou não é nenhum;

4 – As condições de governabilidade apuram-se com simples operações aritméticas e se para estas não se está preparado que dizer daquelas com outro grau de complexidade (?);

5 – O desemprego é um assunto demasiado sério e dele ninguém se pode apropriar a seu belo prazer.


Escrevo por mim


JLF