segunda-feira, 19 de setembro de 2011

LEGITIMIDADE E RAZÃO




É muito comum a confusão entre dizer-se que alguém tem legitimidade e, logo, razão.
Assim, diz-se que se alguém ganha eleições, então é porque esse alguém tem razão.
Tem a razão ou a legitimidade do seu lado.
Nada mais enganador …
As eleições legitimam um determinado mandato e nada mais do que isso.
Razão … isso é outra coisa!
Razão é de outra ordem de grandeza, de outra ordem de grandeza da própria legitimidade democrática que, aliás, não se esgota em maiorias ou minorias que lhe possam como não, coercivas ou por imposição democrática legal, dar provimento.
A única coacção que possa assistir a quem tenha razão é aquela que o passar do tempo lhe venha, pela sucessão de factos, a conferir e mesmo que partindo de uma posição ultra-minoritária.
Afinal, diz-se, tinha razão!
Tinha embora ninguém ou apenas poucos lhe tenham dado o devido crédito …
E se tinha é porque a tem!
Quando se tem razão não se coage, há lá maior grau de democraticidade (!), e se alguma legitimidade assiste a quem a tenha é aquela que deriva da coerência interna da razão que está do seu lado e essa razão tem uma força demolidora, tão demolidora quanto o tempo que não se pode parar e que joga, em tempo útil ou não, a seu favor.
A legitimidade conferida por umas eleições não confere, a quem as ganha e em simultâneo, legitimidade para tudo.
Quando alguém investido de legitimidade democrática mente ou omite a verdade e, logo, a razão, é a sua própria legitimidade maior, aquela que deriva do facto de se ter razão, que sai fragilizada.
E essa fragilidade, mais tarde ou mais cedo, vem-se a revelar como fatal!
E vem-se a revelar como fatal, tão só, porque é quebrada a confiança que lhe foi conferida pela legitimação do voto.
Legitimidade tem pois uma relação estreita com confiança e esta, uma legítima relação ainda maior com a razão:
O tempo confia à razão a legitimidade que se perde na falta dela da mesma maneira que se revela demolidor de legitimidades conjunturais dela mesma carentes.
A razão é a legitimidade das legitimidades democráticas e democracia incapaz de discernir entre estes graus diferentes de legitimidade é uma democracia emperrada, frágil, outonalmente invernosa e condenada ao insucesso!


 





Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Setembro de 2011

6 comentários:

manuela baptista disse...

será a nossa democracia

emperrada
frágil
invernosa
condenada

ou talvez não

a Canção da Terra é lindíssima!

ki.ti disse...

Tens toda a razão!

E eu, a legitimidade de dizer que os buracos são verdadeiras ilhas para os gatos.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kika disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ki.ti disse...

fffffffffffffffffffff

rafeiro!

Mª João C.Martins disse...

Jaime

A legitimidade, sendo um poder democráticamente conferido, destingue-se da razão, uma vez que esta depende do acto em si, podendo ou não confirmar a relação de confiança que se estabeleceu. Infelizmente, a maior parte das vezes não confirma.

Um abraço