Olbinsky
Que território é este que de material apenas exige a ferramenta?
A ferramenta que no império dos sentidos permite constatá-lo?
Que território é este cujas margens são a própria ferramenta mas que se expande para lá dela?
O que o diferencia do papel?
Apenas isto:
Ao papel tê-lo-ia de vos mandá-lo em cópias materiais a todos vós que me ledes!
Aqui, basta ter a ferramenta, material, é certo, que ao que escrevo vos permite aceder.
E onde está aquilo que escrevo?
Numa folha em branco comigo sintonizada!
Sintonizada com um território imaterial …
Onde está aquilo que eu vos escrevo?
Nenhures …
Nenhures ou num algures que, por mero acaso, podereis encontrar!
Sem textura e de lonjura indeterminada.
Que território é este onde todos os outros cabem também!?
Sem quaisquer outras limitações que não a posse da própria ferramenta que utilizais!?
Está ele aqui ou ali, perto ou longe e com que exactas medidas ou dimensões!?
Que território é este, micro-telescópico que, imaterial, nos põe em contacto?
Que território é este que, embora se possa perder ou deteriorar, em si mesmo, não se degrada?
E onde nos leva ele?
A um buraco sem fim …
De profundidade indeterminada e de propriedades que apenas o contacto com o que aqui escrevo, imaterial, permite, vagamente, mensurar!
Que território usufrutuário mas sem posse é este?
Onde estava ele antes de à inteligível ferramenta a termos inventado?
Este território não estava antes de estar ou se estava, não tinha lugar!
Com que lugar nos confrontámos nós!?
Lugar sem espaço nem tempo, ocasião, só invento!?
Não será ele mais um território adquirido à eternidade …?
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Setembro de 2011
9 comentários:
confrontamo-nos com um não-lugar
como o espaço ocupado por um pensamento
como o ar circulante, circundante
o que escrevemos
rodeia quem lê e regressa à nossa cabeça
que bom acreditar que quem escreve, é senhor de todas as rosas!
Muito boa esta reflexão Jaime!
Que território é este?
Também eu tenho pensado muito nisso e apesar da falta de tempo para escrever em papel e porque é mais fácil o imediato, continua a encantar-me o correio tradicional, de tal maneira que estes dias dizia a uma amiga no chat do facebook: "Nunca comunicamos tão pouco, apesar de estarmos à distância de um clic e quando o fazemos é tudo muito rápido, prometo que um dia destes te vou escrever uma carta à moda antiga.". Esta é uma amiga dos meus 19 anos, que sendo de Aveiro está em Almada desde que constituiu família e com quem ainda há dois anos trocava longas cartas, algumas escritas por vezes pela madrugada.
No ano anterior enviei "O Livro" de José Luís Peixoto a uma amiga brasileira que faz um mestrado sobre a obra dele. Passado um tempo recebi por correio um original postal, que foi dos mais lindos presentes que tive. Esta foi uma interessante pessoa que me foi trazida pela internet.
Por isso me tenho perguntado muitas vezes porque perdemos tanto tempo a responder a tantas solicitações e mudamos de hábitos, isolando-nos num computador. Será este território saudável? No entanto ele tem a vantagem de também nos proporcionar o contacto com pessoas de grande valor.
Sei que já não podemos fugir muito a este meio, dada a velocidade a que vivemos, mas penso que há que criar um equilíbrio e darmos-lhe apenas a importância que ele merece.
A velocidade com que aqui chegamos será a velocidade com que desapareceremos, o papel continuará até ver a ser o veículo dos grandes criadores, apesar de também eles se servirem destes meios para chegarem mais além, mas a importância que lhe dão é muito relativa.
Este é apenas um território fácil...
De eterno não me parece que tenha nada.
Dizia-me há dias um informático no meu trabalho que este é um território onde não quer pôr nem a sua fotografia, nem a sua opinião àcerca de nada, nem sequer a sua identificação completa, porque qualquer um a pode usar como entender, em qualquer parte do mundo. Eu não irei tão longe, mas há que ter as devidas precauções.
Muito haveria a dizer sobre o assunto, seria uma interessante tertúlia.
Fico por aqui.
Beijos
Branca
É o território do tudo e do nada, onde as palavras são sementes deixadas ao vento, na certeza de serem levadas a campos férteis para aí germinarem.
No lugar sem espaço nem tempo, a palavra persista na eternidade.
Bom fim de semana, Jaime, também Ferreira.
Fazes cada pergunta...
Este território é meu, ora essa!
Jaime
Meu caro amigo;
" Um território adquirido à eternidade", concordo. Talvez por isso necessite, apenas, do espaço imaterial das coisas onde nada, supostamente, é perecível.
Rectifico:
Quando acima disse Mestrado, queria dizer Doutoramento.
Que me perdoe a minha amiga.
Por isso gosto do papel, onde me concentro mais e não me engano tanto, :))
Beijinhos Jaime e uma boa semana.
Branca
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