Eduardo Batarda, Reserva, 1988
Qualquer dia, não faltará muito, sucumbirão as crianças ao empedernido que as não escuta!
Empedernido que, por medo do que nelas se contém e que, verdadeiramente, nunca encarou, foge sempre a ouvi-las …
Que insiste em formatar homenzinhos, homenzinhos e mulherzinhas, num molde que se esvai …
… esvai de tão gasto estar!
Esvai de nada mais ter para dar.
Esse empedernido de tanto se querer espigadote à força e com o qual já ninguém se identifica …!
Espigadote naquele molde definitivo dos que julgando-se grandes, supostamente, já não crescem mais!
Espigadotes compostinhos, assim, de corda ao pescoço, hirtos de não saberem onde pôr as mãos, as mãos ou o resto, muito institucionais e que trazem sempre consigo um batalhão de yes men feitos à sua própria imagem, a assentirem com as suas cabecinhas ocas ao mais despropositado bitate que os espigadotes, de propósito ou a despropósito, balbuciem.
Espigadotes de faz de conta que se esqueceram de ser crianças …
… esqueceram é pouco … nem se querem lembrar disso!
Por isso, por isso mesmo se tornaram tão crescidinhos …
Voz descolocada, calinadas à tripa forra na gramática e de vervezinha sempre prontita a saltitar.
Espigadotes daqueles que quando vêm uma criança logo estão prontos a dizer que engraçadinha!
Com um sorriso besta e uma tal desconformidade diante dela que ela própria se interrogará de onde veio um tal ET!?
Espigadotes …
Tão espigadotes e atinadinhos que metem medo ao susto!
Qualquer dia, de tão espigadotes e distantes, esses mesmos espigadotes sugarão a infância, reserva de esperança e de futuro, no turbilhão do tem de ser que eles próprios obstinada e persistentemente criaram …
… e de tão espigadotes que o são, esquecer-se-ão que mataram a criança!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Outubro de 2011
3 comentários:
os políticos já nascem formatados!
saiam dois, chapa nº4, forma 7
tediosamente parecidos
perigosamente, espigadotes...?
é elogio
xatos, sim
cada vez mais longe de nós, uma linguagem afastada de nós, um projecto que não é o nosso, uma visão que só eles vêem
eles para um lado, nós para o outro
do ponto de vista das crianças, é verdade sim!
sugam-nas, tiram-lhes o futuro assassinando o presente
Não te esqueças que esses semdotes também sugam os animais e esquecem-se!
Jaime
Meu querido amigo
Há muito que, apesar de fazerem querer o contrário, os espigadotes roubaram o futuro à criança. É que nestes tempos em que parecer é que importa e ter, é o mais importante, o Ser fica algures perdido entre as duas coisas e crescer, já não interessa para nada.
Beijinho grande :-)
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