Van Gogh, Os Ciganos
Como se poderá pretender que países como a Grécia, a Irlanda ou Portugal e omitindo outros que, no seu seio, se dizem ricos, resolvam os seus problemas estruturais relacionados com o emprego, o crescimento, os seus défices e com as suas dívidas soberanas quando a Europa, nas pessoas dos seus representantes Van Rompuy e Durão Barroso, em carta conjunta, vem agora fazer um apelo dramático à concertação do G20, sem a qual esta, a Europa, não poderá, sozinha, resolver os seus problemas?
Bem sei que cada país tem os seus problemas específicos e que a cada qual lhe compete fazer a sua parte de um esforço que, afinal e por si mesmo, individualmente, contudo, inglório, lhe escapará …
Mas se a União Europeia apela dramaticamente ao conjunto daqueles que são os países mais ricos e que se agrupam no G20, sem os quais, esta, aos seus problemas específicos não conseguirá fazer face, o que poderão nela e por si mesmos, fazer aqueles que mais debilitados estão!?
Certo é que há uma debilidade específica da União Europeia que a coloca em desvantagem absoluta em relação a todos os outros espaços ou países que ao G20 o integram e essa tem um nome que se traduz numa imensa debilidade política em relação aos seus outros parceiros dos quais ela também faz parte, para mais (!), mas que a inferiorizam, por opção própria, a saber:
O facto de ela não ser, verdadeiramente, uma união política que corresponda, pelo menos, ao espaço que integra aqueles países que constituem a moeda única!
Não por acaso, é no seu interior, no núcleo do euro que essa debilidade se faz agora sentir com crescente e clamorosa premência:
Grécia, Irlanda e Portugal são países que integram esse núcleo central constituinte mas, o que é certo, é que a esse núcleo lhe falta voz única e pronta decisão …
Cabeça Política!
Sim, porque não dá para que os mais fracos expiem se a União não se portar à altura!!!
Cabeça …
Cabeça sem a qual não há nem união económica nem, em bom rigor, outra qualquer, célere e decidida que o seja e que lhe permita atalhar a sensibilidade ou o nervosismo que, disso se dando conta como os mercados se dão, porque eles, afinal, a essa desconfiança política apenas a espelham, reagindo prontamente e à flor da pele àquilo que a União leva, por seu turno e estrebuchante, uma eternidade a decidir.
E tanto mais quanto parte dos membros constituintes da Europa, dos constituintes também do G20 jogarem com um pé numa, a União, e o outro no outro, o G20 ou o G8 ou pretendendo apenas salvar a sua pele como mais ricos e livrando-se dos problemas comuns que aos mais fracos, em particular, os dilaceram …
Chega de ambiguidades!
Não dá para ser rico, por um lado, ou fazer-se de conta que se o é, tendo, por outro lado e sozinho, deixado de o ser!
Se eu fosse o representante de um dos tais países ditos emergentes, alguns deles bem mais antigos do que alguns dos países da Europa e que ao G20 o integram, não me conteria neste desabafo:
Chamam-nos emergentes … o tanas (!) … uma verdadeira emergência é a Europa que sem saber quem é e se o é, tem alguns dos seus que quando lhes convém dizem-se ricos e da União jogam fora e quando não, atrás dela se escudam na esmola que aos mais ricos que nós somos, afinal, fazem apelo … é fartar, vilanagem!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Novembro de 2011
5 comentários:
a Europa é chamada de velho continente
e habituámo-nos a vê-la orgulhosa da sua cultura e do papel que representou no mundo
ainda não há muitos anos, os nossos irmãos brasileiros quando vinham a Portugal diziam: vou à Europa
neste momento estamos verdadeiramente velhos, não renovamos as gerações e não renovamos as soluções
os ciganos já foram cidadãos do mundo, mas com a globalização este conceito passou da tenda e da carroça, para o hotel de cinco estrelas,
assim como a economia e a política passaram a ser ciganice e todos se aproveitam do que está à mão
os ricos da Europa pedincham-se a si próprios e temos pena de um mundo assim
proponho um G0 e começamos tudo de novo!
Pois é Jaime, também acho que a Europa está velha e decadente, sobretudo desorientada, o que não augura nada de bom.
Quem sabe, como diz a Manuela temos mesmo que começar do zero, quem sabe a solução não é mesmo a globalização, a não ser no aspecto humano, porque nos outros, sobretudo o económico, não se tem mostrado uma grande solução, é o desvario total...
Não há dinheiro que chegue para tantos representantes, nacionais, europeus e por aí fora, e para outras "artificialidades" mais que vamos vendo e são gritantes.
Deixo beijos.
Começar do zero, com uma bagagem de conhecimentos bem recheada,sem desprezar as raízes,o berço,a cultura,as conquistas. Com um senso de responsabilidade voltado para o coletivo,o bem estar social,a união dos povos,sem discriminação de raças,de línguas,de classes...
Que bom seria...Um mundo onde o SER fosse mais importante...
Um abraço,
Linda Simões
Pois Jaime...
União? O que é isso?
Acaso alguma vez existiu a intenção verdadeira de tornar a Europa mais forte, por via da união entre os mais ricos e os mais pobres? Duvido...
A questão é o poder e o domínio de uns sobre os outros e a salvaguarda dos interesses dos mais poderosos. Que ainda são ou que não sendo já, isso não revelam.
Um beijinho grande para si.
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