segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

QUE FUTURO




Que futuro?
Que futuro teremos, interrogar-nos-emos a nós próprios?
Que esperança para o futuro!?

Responderei assim:
Fechemos em nós, em cada um de nós e seja qual for o contexto em que nos movamos, a fresta de esperança por mais exígua que ela seja e não poderemos exigir ou assacar a terceiros a responsabilidade que apenas está nas nossas mãos e que a faça abrir-se.
Quem não regar a rosa que floresce no seu íntimo, não se poderá espantar se ela murchar.
Escrevo do que sei e que desde há muito, página após página, cultivo.
Escrevo-o ponderando cada uma das palavras que utilizo e com o coração nas mãos!



um bom ano de 2012






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Dezembro de 2011

sábado, 17 de dezembro de 2011

NATAL DE UM OUTRO ÂNGULO

manuela baptista, triangulação



O nascituro e a triangulação primordial


Ele
a voz do ventre feito luz
e o sombreado daquelas vindas do exterior

ele na sua interioridade
a vibração matricial e o eco profundo e longínquo

em si mesmo habitando os três qual gineceu de um mundo indeterminado
batismal por de água feito

condutor do som na plástica de si próprio

intangível

ressonância de um anjo anunciador vindo de fora

intrínseca musicalidade



Naquele dia a voz da mãe chorou e afastando-se dela o menino nasceu

nasceu e na comunhão das vozes
num grito aspirado delas se desprendeu

cresceu perdida a virgindade que o concebera










Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Dezembro de 2011

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A DERIVA DO ECONOMÊS

Matisse em Le bonheur de vivre




A deriva do economês é um linguarejar esquisito que tomou de assalto a praça pública e que, a muitos contaminando, está na ordem do dia.
Do PIB, ao défice e às dívidas soberanas, à voracidade dos mercados e às receitas milagrosas para o crescimento económico, o economês apossou-se do discurso público mesmo entre aqueles que lamentam o assim considerado destronar da política.
Insistindo na importância da decisão política, prontamente o  discurso se enche do economês conspurcando o domínio público, não há quem não o domine (!) e logo nos próprios termos tão abusivamente utilizados, dando de barato a política que, pesarosamente, no próprio discurso se enterra:
Um engenheiro fala com todo o à vontade em economês;
Um jurista, porque não, está mais do que habilitado ao domínio do economês;
Um arquiteto, se ainda tiver crédito, constrói mesmo casas debitando economês;
Um cidadão comum e com grau incerto de habilitações, sem papas na língua, desemborra economês da boca para fora;
E os economistas, senhores da ciência económica tão em paradoxal descrédito, atemorizam-se rendidos ao economês.
Quando se diz que a política foi destronada o que, em bom rigor, se está a dizer é que o economês que toda a gente domina, porque não (!?), passou a condicionar o léxico comum.
Pois eu, pela minha parte, não falo nem escrevo em economês:
Perguntem-me o que é o PIB e eu calar-me-ei;
Auscultem-me sobre receitas para contrariar o défice ou fazer face às dívidas soberanas e ouvirão, da minha parte, um sepulcral silêncio;
Apontem-me a voracidade dos mercados e, qual boomerang, redirecioná-la-ei sobre vós próprios;
Sondem-me sobre o crescimento económico e, aí, decidido, remeter-vos-ei para as alterações climáticas!
Pois então, não estão estas associadas ao crescimento económico exponencial a que, de há séculos a esta parte temos assistido e que, saudosamente, se persiste, sem dele medir as consequências, em invocar?
Sim ou não!?
E como é que se pode falar, sobranceira e inocuamente, de economia para um lado, de ecologia para o outro ou da ausência da política ainda para outro lado sem ser numa visão integrada e transdisciplinar que a todas estas disciplinas as coloque em prospectiva salvaguardando a coerência integrada sem a qual, corporativamente, não apenas não se aborda coisa nenhuma como se cavam crescentes assimetrias!?
Para mim é claro:
O economês é linguagem da moda em que eu não embarco e concedendo soberania à política que, apenas ela, poderá fornecer sustentada racionalidade a todas estas disciplinas e não só, em abordagem multidisciplinar a quem as domina concito na criação, dinâmica, de prospectiva que seja verdadeira e mobilizadora porta de saída.
Estratégia Global de Desenvolvimento!
Política é isto, meus Caros, e o resto é conversa fiada nas malhas de uma roda estonteante que não sai do mesmo sítio!



gira que gira sobre ti próprio e de tontura em tontura espalhar-te-ás ao comprido






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Dezembro de 2011

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

DE UM AO OUTRO POLO DO ESPECTRO





No tempo de vida que leva este meu blogue, confrontei-me já por duas vezes com duas perguntas de pólos contrários por parte dos meus leitores, a saber:
Da primeira vez, sondando-me se eu não pertenceria à Opus Dei e da segunda vez, há poucos dias atrás, se eu não faria parte da Maçonaria!
De ambas as vezes as perguntas foram-me feitas em privado pelo que faço questão de salvaguardar as identidades de quem me as fez …
Não, eu não pertenço nem à Maçonaria ou a qualquer das suas lojas nem, tão pouco, à Opus Dei!
Eu não pertenço, aliás, a nenhuma organização desta natureza ou de outra qualquer e aquilo que vou escrevendo traduz, tão só, o meu pensamento prospectivamente desenvolvido como tal.
Professo, é certo, as minhas convicções mais íntimas e sobre elas, ao longo dos tempos, não tenho deixado de me pronunciar, contudo, mesmo a esse nível, faço questão de salvaguardar a minha independência, autonomia e juízo crítico.
Todavia se o que escrevo pode, eventualmente, levar os meus leitores a fazerem-me perguntas tão diversas como estas o que deverei delas concluir?
Que dou, oportunisticamente, uma no cravo e outra na ferradura!?
Que não sou peixe nem carne e que o que aqui, de mim se projecta, acriticamente, visa apenas agradar a gregos e a troianos!?
Não me parece …!
Parece-me, isso sim, que o meu pensamento tem um tal espectro que, sem abdicar de princípios, muito antes pelo contrário (!), insuflando-lhes plena actualidade para não dizer antes modernidade, leva a que me tenham sido já feitas perguntas tão díspares como as aqui referidas dando, ao fim e ao cabo, plausibilidade à equidistância que amiúde afirmo manter!
Muitos são os que tendem a funcionar por antinomia como se nela residisse a razão de ser dos seus próprios pontos de vista, na imperiosa necessidade que têm em se situar:
Se sou maçom, sou contra a Opus Dei ou o inverso;
Se sou de esquerda, sou contra a direita ou o oposto;
Se pertenço a um país, a sua identidade teria de ser construída por antinomia aos restantes;
Se me quero afirmar, a minha afirmação tem de ser feita pela negação do meu oponente e, na imperiosa necessidade de marcação do território, não se sai disto.
Admitam pois, por uma vez, que se pode sair disto …
Que esse mesmo facciosismo até pode estar na origem e ajudar a explicar o ponto a que se chegou!
Que a holística das coisas vai muito para lá das lateralidades ou parcialidades em que legitimamente tendemos a refugiarmo-nos!!
Essa é a particularidade do meu pensamento que apenas a mim próprio me obriga, sem exclusão de ninguém e na salvaguarda aprofundada da Democracia como também não paro de afirmar, mas no qual reside a valia de desfazer nós górdios que a todos nos estrangulam e que suscita perguntas como as aqui referidas, situadas de um ao outro pólo do espectro e que, graças a elas, me sugeriram esta minha reflexão.
Nada disso, eu não pertenço a nenhuma das organizações referidas!
A quem a estas perguntas, privadamente, me as fez, o meu muito obrigado pela oportunidade ora sugerida na certeza de que, refutando quaisquer messianismos, nos tempos que correm e sem anular divergências, é muito mais importante aquilo que nos une do que aquilo que nos divide!



aos que têm a ousadia de perguntar






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Dezembro de 2011

sábado, 10 de dezembro de 2011

NADA DISSO

malmequer ou bem-me-quer


Eu podia olhar à minha volta
e só ver o mal à solta
mas não
eu não vejo nada disso

Eu podia olhar à minha volta
e fazer de mim revolta
mas não
eu não faço nada disso

Eu podia olhar à minha volta
e achar-me nu sem escolta
mas não
eu não acho nada disso 

Eu podia olhar à minha volta
e apontar em ti a falta
mas não
não te aponto nada disso

Se ao olhar não te cobiço
e em ti vejo mais do que isso
porque seria o que vejo
antónimo do que desejo


desejo maior do olhar é saber-lhe dar a volta




 
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Dezembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

SINOPSE

as verdadeiras nuvens que nos interpelam



Fazendo a sinopse ou o resumo dos três últimos textos aqui publicados e, em certo sentido, do que ao longo dos tempos vou publicando, escreveria assim:
Em A Conspiração Climática, alerto para o pano de fundo que à presente crise não apenas a transvaza como, em última instância, a justifica e para a insustentabilidade de um modelo global de crescimento que a manter-se, não apenas ameaçará a nossa qualidade de vida como à própria vida a poderá mesmo pôr em risco;
Na carta Em Três Pontos, dirigindo-me a uma personalidade de referência da Democracia que, ela própria, ocupou o mais alto cargo da magistratura, tenha sido entre nós como onde quer que seja, e no que nela discorro, tratando-se este de um suporte público de comunicação, fico a aguardar por réplica ou desmentido que a não haver, implicitamente confirma o que nela escrevo;
Por fim, em Emergência, palavra tão na boca do Mundo mas sem que dela, globalmente, se extraiam as suas últimas consequências políticas, alerto para o facto de que a não haver uma voz de comando globalmente equidistante, silenciosa e, portanto, blindada a toda a especulação a quem o púlpito lhe seja interdito, o mundo democrático e não apenas a Europa, correm o sério risco de desmoronar, perder-se como balsa à deriva, diante da corrosiva e interminável mas justificável especulação que o assedia.
Daqui retirem, os meus leitores, as ilacções que entenderem por mais convenientes.



para que não fiquem dúvidas e na reafirmação do que para trás escrevi






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Dezembro de 2011

domingo, 4 de dezembro de 2011

EMERGÊNCIA

balsa dos pescadores de Caxinas



A aventura extrema dos pescadores de Caxinas que colocados perante a situação limite de se verem, de emergência, forçados a refugiar numa balsa diante do afundamento do seu barco e que se lançaram com sucesso, em alto mar, à sua sorte, agarrados à vida e à fé que os poderia como não ter acudido e que assim foram resgatados comovendo um país inteiro poderia ser a metáfora desse país para não dizer da Europa no seu conjunto.
Apenas da Europa …?
Numa situação de emergência o sangue frio pode fazer milagres e mesmo ou por maioria de razão quando de homens comuns se tratarem!
Imagine-se que o pânico deles se teria apossado ou que às situações de pânico, decididamente, não se teria feito face!?
Imagine-se que a prontidão não teria prevalecido!?
Imagine-se que, para lá do desejo de sobrevivência ou da fé, nesse microcosmos de extrema privação não teria havido voz de comando …
… suplicante, murmurante, silenciosa mas decidida que o tenha sido!?
Heróis do mar!


Como uma balsa em mar revolto, a Europa, colocada perante uma situação de verdadeira emergência, poliédrica que como uma balsa o é, por sua vez, é a metáfora não apenas da balsa dos pescadores de Caxinas mas também do Mundo inteiro!
Nessa balsa sou, amiúde, tentado a pensar que quanto mais poder se tem em piores condições se está para decidir.
Esta minha máxima pode mesmo ser aplicada à escala:
Os governos nacionais, como se comprova no evoluir da actual crise, são sempre os últimos a reconhecerem os desafios a que ela faz apelo e entre estes, os que maior poder exercem, aqueles que mais tardiamente parecem reconhecer o inevitável com que estamos confrontados.
A tremenda e fluida rapidez do mar revolto em que todos navegamos, já não se compadece apenas com a lentidão dos intermináveis processos de decisão que à União ou ao Mundo democrático os têm caracterizado!
Que fazer?
Salvaguardando a disciplina e o rigor a que uma situação de emergência sempre faz apelo e na premência que a situação impõe, criar uma entidade supra-nacional operacional, que dê garantias democráticas de equidistância expressas que postas à prova no tempo, como catalisador, encime o edifício democrático global sem lhe causar beliscadura e que, blindando-o como uma balsa pronta a permanecer à deriva, no silêncio de uma voz de comando, o permita atempadamente refundar-se sem dar o flanco que os mercados, como mar encapelado acusam, assediando-o justificadamente e sem descanso.
A permanecermos expostos neste interminável e suicidário medir de forças desigual, a Europa será engolida pela desconfiança reinante que sobre ela paira e do seu afundamento ninguém escapará incólume …
Na balsa estamos nós todos e não, repito, necessariamente e apenas a Europa!









Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Dezembro de 2011

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

EM TRÊS PONTOS



AO DECANO DOS POLÍTICOS DEMOCRÁTICOS

Caríssimo,
Depois da entrevista por Si dada a um canal privado de televisão na passada terça-feira, tomei a decisão de Lhe escrever esta a que decidi chamar Carta Em Três Pontos.

1 – o carisma dos que foram

Queixa-se o Meu Caro Amigo da suposta falta de estatura dos políticos no activo sobretudo se os comparando com outros que foram Seus contemporâneos, lembro-me de o ouvir referir, entre outros e se não estou em erro, Mitterrand, Willy Brandt, Helmut Schmidt ou Harold Wilson, imputando a esse défice ou ausência de carisma o actual impasse europeu mas, interrogo-me:
Se os actuais líderes europeus fossem portadores do carisma dos políticos que nomeou e que eu nem sei mesmo se não corresponderá antes à imagem que hoje deles se faz, a memória tem destas coisas fazendo crescer ou diminuir a aura daqueles que o não são mais, mas ainda que tivesse razão, no actual contexto que não é aquele em que eles exerceram, a ser como diz, concorreria ou não esse carisma para a resolução do impasse europeu!?
É que, bem vê, se eram mais carismáticos, mais empenhados então estariam na representação e defesa das clientelas que os elegeram contra as demais, cavando o impasse que nos fez chegar até aqui e que nos angustia …
Falar-se desse hipotético défice de estatura torna-se, portanto, num puro exercício de especulação retórica …!

2 – as respostas que até hoje não recebi
Já de especulação não se trata se me referir a Si na Sua relação comigo próprio.
Conhecemo-nos vagamente e eu próprio cheguei a ser por Si recebido, em Sua casa, nos idos do PREC.
Posteriormente, escrevi-lhe em resposta a um apelo por Si feito na Assembleia da República, à data da comemoração do décimo quinto aniversário da Revolução de Abril, apelo esse em que o meu Amigo, então no exercício do mais alto cargo da magistratura, dramaticamente, interpelava ao aprofundamento da Democracia.
Fundamentei a resposta que Lhe dei e a essa primeira trilogia de cartas muitas e muitas outras se lhe seguiram e que indirectamente sei estarem hoje depositadas no Arquivo da Presidência da República.
De Sua boca ou por Sua mão, porém, nenhuma resposta ou justificação directa às minhas cartas, até hoje a recebi …
Devo, daí, concluir que o meu Amigo não tem estatura ou carisma?
Não, não tiro essa conclusão mas, no entanto, nunca até hoje me respondeu deixando-nos a nós, a Si como a mim mesmo, num aparente impasse ou dúvida que até aqui não se resolveu!
Repare que estamos, neste particular, não a falar do impasse europeu mas daquele que se resume à relação entre Si e mim, nem mais do que isso e se esse impasse, o impasse entre duas pessoas, não é resolúvel, onde ir buscar a vontade para resolver o impasse europeu!?

3 – a assumpção da política

É de louvar e tanto mais quanto nos tempos que correm, a Sua frontal assumpção como Político e não o escrevi em vão com maiúscula por que sei que o é até por Consigo me identificar como corredor de fundo que sei que o meu Amigo também é e pese embora, hoje, o meu Amigo já não desempenhar nenhum cargo de natureza política.
Quando os políticos, na boca do mundo, se encontram pelas ruas da amargura, haver quem como o meu Amigo se assume assim, tem um redobrado mérito que sem regatear lhe reconheço e não apenas pelo Seu currículo estritamente político.
Agora eu também sou um Político e escrevo-o igualmente com maiúscula não porque alguma vez tenha desempenhado um cargo dessa natureza mas por o ser intimamente, tão intimamente quanto sei, como o meu Amigo o sabe, que sem Política, sem a perspectiva ou prospectiva política das coisas não se vai a lado nenhum!
Corredor de fundo!?
Sim, sou-o também, tão de fundo quanto, calcule, ainda hoje aguardo uma resposta a tudo aquilo que desde essa trilogia de cartas que Lhe escrevi e na plena posse da minha consciência que ainda hoje me diz que sem elas como matriz e força motriz, não permaneceria escrevendo assim como continuo a fazê-lo e mantendo toda a expectativa em aberto, tanta como quando então eu Lhe escrevi pela primeira vez e mesmo se ficando, até hoje, sem ter resposta.
Já viu a capacidade que tenho em correr, já lá vão mais de vinte e dois anos e pese embora a ausência de respostas para mais em Democracia, é bom que se frise (!), sem nunca Lhe deixar de conceder o benefício da dúvida …?
Que me diz, o meu Amigo, deste meu carisma político que, para mais, não está refém de interesses nem de clientelas que não sejam o interesse geral do aprofundamento da própria Democracia!?
Com todo o respeito, afinal, quem corre mais, o velho leão ou o maratonista?
Seu e com toda a consideração









Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Dezembro de 2011