balsa dos pescadores de Caxinas
A aventura extrema dos pescadores de Caxinas que colocados perante a situação limite de se verem, de emergência, forçados a refugiar numa balsa diante do afundamento do seu barco e que se lançaram com sucesso, em alto mar, à sua sorte, agarrados à vida e à fé que os poderia como não ter acudido e que assim foram resgatados comovendo um país inteiro poderia ser a metáfora desse país para não dizer da Europa no seu conjunto.
Apenas da Europa …?
Numa situação de emergência o sangue frio pode fazer milagres e mesmo ou por maioria de razão quando de homens comuns se tratarem!
Imagine-se que o pânico deles se teria apossado ou que às situações de pânico, decididamente, não se teria feito face!?
Imagine-se que a prontidão não teria prevalecido!?
Imagine-se que, para lá do desejo de sobrevivência ou da fé, nesse microcosmos de extrema privação não teria havido voz de comando …
… suplicante, murmurante, silenciosa mas decidida que o tenha sido!?
Heróis do mar!
Como uma balsa em mar revolto, a Europa, colocada perante uma situação de verdadeira emergência, poliédrica que como uma balsa o é, por sua vez, é a metáfora não apenas da balsa dos pescadores de Caxinas mas também do Mundo inteiro!
Nessa balsa sou, amiúde, tentado a pensar que quanto mais poder se tem em piores condições se está para decidir.
Esta minha máxima pode mesmo ser aplicada à escala:
Os governos nacionais, como se comprova no evoluir da actual crise, são sempre os últimos a reconhecerem os desafios a que ela faz apelo e entre estes, os que maior poder exercem, aqueles que mais tardiamente parecem reconhecer o inevitável com que estamos confrontados.
A tremenda e fluida rapidez do mar revolto em que todos navegamos, já não se compadece apenas com a lentidão dos intermináveis processos de decisão que à União ou ao Mundo democrático os têm caracterizado!
Que fazer?
Salvaguardando a disciplina e o rigor a que uma situação de emergência sempre faz apelo e na premência que a situação impõe, criar uma entidade supra-nacional operacional, que dê garantias democráticas de equidistância expressas que postas à prova no tempo, como catalisador, encime o edifício democrático global sem lhe causar beliscadura e que, blindando-o como uma balsa pronta a permanecer à deriva, no silêncio de uma voz de comando, o permita atempadamente refundar-se sem dar o flanco que os mercados, como mar encapelado acusam, assediando-o justificadamente e sem descanso.
A permanecermos expostos neste interminável e suicidário medir de forças desigual, a Europa será engolida pela desconfiança reinante que sobre ela paira e do seu afundamento ninguém escapará incólume …
Na balsa estamos nós todos e não, repito, necessariamente e apenas a Europa!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Dezembro de 2011
3 comentários:
A metáfora é pertinente, mas os "Heróis do Mar" fortes e corajosos, comoventemente corajosos, sempre o foram.
Beijos
Branca
E sempre o serão...!
Tinha-me esquecido Jaime.
Sempre serão comoventemente fortes e corajosos!
Hoje estou particularmente perturbada pelas perdas e ganhos recentes, perdas de pessoas, ganhos profissionais, raros nos tempos que correm, um contraditório de sentimentos na balsa do mar alto da vida.
Mas, estou e estaremos todos aqui, para levar este país a bom porto, em homenagem aos que partem e aos que esperam de nós a construção de um futuro novo.
Beijos
Branca
se a balsa é o mundo
o firmamento é o oceano revolto, traiçoeiro
quantas luzes acenderam no céu os pescadores perdidos, quantas as vezes devem ter gritado
estamos aqui!
a Europa vale muitas vidas e uma só vida vale muito mais
a felicidade prevalecerá, como a canção de Marietta!
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