sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DE AMOR

Duy Huyhn

 
 

De amor é o poema que aqui canto
nele a minha voz de imaculado espanto
dela tudo o que sai me cala fundo
 porque ao meu amor o vejo mundo 

Amor não dá lugar a um não rotundo
antes é todo um sim de que me inundo
tal é o meu amor que aqui levanto
 brocado deste livro e de meu manto 

É o meu amor demais e tanto
mais seria ele e mais e quanto
mais alegre é muito mais profundo

A este meu amor que sendo puro
como o guardaria do imundo
se não ultrapassasse o desencanto
 

ao meu amor, de amor, um beijo
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Agosto de 2012
 
 
 

sábado, 25 de agosto de 2012

DAS FÉRIAS – CANTO O MEU PAÍS

 
 
 
País
país
que me quis
onde nasci
e me fiz
é o país
que me diz
aquilo que escrevo
 e condiz 

Com ideia universal
de contornos em que o sal
se salpica por igual
 aqui se faz Portugal 

Ai meu país
tua tez
luminosa
em ti desfez
a tacanhez
onde os pês
são símbolos
de pequenez 

De mesquinhez
que arrepia
tudo aquilo
que me fez
 

do universal de um país
 

uma narrativa que se desenrola aqui como no Arquivo Complementar ao dispor na coluna lateral direita deste blogue


 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Agosto de 2012
 
 
 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

DAS FÉRIAS – NO FIO DA NAVALHA

Duy Huynh, One step at a time


 

Era uma vez um país fechado ao Mundo e do qual ninguém ou muito poucos sabiam o que nele, verdadeiramente, se passava.
A ferro e fogo, hoje, esse país fratura o Mundo e do que nele venha a suceder assim também a sua como a nossa sorte.
A sorte do Mundo.
É no fio da navalha que nos movemos.
 
A esse país, de facto, ninguém ou poucos o conhecem.
Os seus dirigentes parecem-se com distintos europeus mas, o que lá se passa …
Europeus!?
Aqueles que só sabem andar no fio da navalha!?
Ai se os europeus, solidários e concertados, dessem, pelo exemplo que deles se projetasse, uma saída ou um caminho dignos de ser percorridos!
 
O que se passa nesse país divide a Europa e o Mundo e põe-nos, a todos, no fio da navalha.
As suas cidades desmoronam-se como castelos de cartas, os seus cidadãos quando não são, pura e simplesmente, chacinados, estão em fuga e a impotência geral, essa, não se atreve a dar um passo a descoberto com medo da deflagração que dele se possa, não apenas desencadear como alastrar.
 
Era uma vez uma ideia, essa a de um país, no fio da navalha e em erosão acelerada.
Quantos países, a pulso não se ergueram ou se desmoronaram à custa da desgraça geral?
Era uma vez um país, esse sim e ao que parece, com armas de destruição maciça.
Era uma vez um rastilho sem fim à vista que se anteveja.
Por quanto mais tempo?
 
País!?
No fio da navalha, que ideia mais contraditória essa a de, como bichinhos, marcarmos um território comum ou, por ele, matarmo-nos uns aos outros seja por que supostos ideais for já que nada o justifica, num tempo de globalização, de unificação que deveria ser pacífica e concertada, democrática, entre todos os povos do Mundo.
Deixai-vos de selvajarias e exponenciai as culturas de que as línguas são, não apenas a sua expressão, mas uma entre as suas mais valiosas riquezas:
As línguas e, antes delas, os seus falantes!
De todas as riquezas aquelas que, à outrance, dos países, verdadeiramente, importa preservar.
 
Em nome da Paz!


one step at a time
look behind
and dance with loving words
in your mind
 

país ou estado nação, esse paradoxo que em si mesmo encerra os piores dos fanatismos neles incluídos os mais abjetos antissemitismos que se acirram e, por outro lado, os traços culturais dos povos e os fundamentos das sociedades democráticas
 

ide tanto pelo Arquivo Complementar como por aqui
 



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Agosto de 2012
 
 
 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

DAS FÉRIAS – O QUE É QUE VALE MAIS

Kevin Sloan




Vale ou não aquilo que eu escrevo na minha língua mais ou menos do que aquilo que é escrito noutra língua qualquer?
Eis uma das tais perguntas que não pode ser respondida em função do número de falantes dessa mesma língua ou de outra qualquer ou, pura e simplesmente, daqueles que, à pergunta acima colocada, o pretendessem, num como noutro sentido, decidir pelo voto.
Eis uma daquelas questões à qual, dificilmente, se poderá aplicar a democraticidade estrita do voto e mal estaríamos no dia em que esta, a ela se pudesse ou devesse impor.
Penso que só há uma forma de responder à pergunta inicial:
Independentemente da língua é pelos conteúdos do que é escrito que se afere o que é que vale mais, se aquilo que se escreve na minha ou noutra língua qualquer e esses conteúdos, a serem os mesmos, não se valorizam nem se desvalorizam por serem escritos, originalmente, seja em que língua o for nem, tão pouco, em função do número de falantes dessa mesma língua.
Conteúdos esses, é bom sublinhar, de que a forma é, em si mesma, sua expressão a que a língua original em que são escritos lhe somam natural originalidade.
Não há votos nem percentagens que a esta questão se possam aplicar.
Para se aferir do valor do que é escrito, apenas pela análise e interpretação do que é escrito, pelo esmiuçar do texto que aos seus conteúdos os determinem no complexo contraditório que nele mesmo se encerre se consegue avaliar e esse trabalho ultrapassa em profundidade democrática a democraticidade subjacente ao voto ou à expressividade do número de falantes daquilo que é escrito.
Do que aqui deixo transparece, também, que há escritos que não se compadecem com a vertigem alucinante do ritmo em que vivemos e que ao que é escrito, independentemente do suporte utilizado, tende a desvalorizar.
Tende a subestimar em crescente erosão.
Nessa voragem, quando à qualidade do que é escrito se pretere em função da instantaneidade da adesão que suscita, é a própria qualidade de vida que, sem disso nos darmos conta ou dela, por demais, nos apercebendo, com essa instantaneidade se degrada também.


primeiro texto de um tempo de férias a desenvolver-se por aqui e no Arquivo Complementar cujo link de acesso se situa na coluna lateral da direita deste blogue
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Julho de 2012