Kevin Sloan
Vale ou não aquilo que eu
escrevo na minha língua mais ou menos do que aquilo que é escrito noutra língua
qualquer?
Eis uma das tais perguntas
que não pode ser respondida em função do número de falantes dessa mesma língua
ou de outra qualquer ou, pura e simplesmente, daqueles que, à pergunta acima
colocada, o pretendessem, num como noutro sentido, decidir pelo voto.
Eis uma daquelas questões
à qual, dificilmente, se poderá aplicar a democraticidade estrita do voto e mal
estaríamos no dia em que esta, a ela se pudesse ou devesse impor.
Penso que só há uma forma
de responder à pergunta inicial:
Independentemente da
língua é pelos conteúdos do que é escrito que se afere o que é que vale mais,
se aquilo que se escreve na minha ou noutra língua qualquer e esses conteúdos,
a serem os mesmos, não se valorizam nem se desvalorizam por serem escritos,
originalmente, seja em que língua o for nem, tão pouco, em função do número de
falantes dessa mesma língua.
Conteúdos esses, é bom
sublinhar, de que a forma é, em si mesma, sua expressão a que a língua original
em que são escritos lhe somam natural originalidade.
Não há votos nem
percentagens que a esta questão se possam aplicar.
Para se aferir do valor do
que é escrito, apenas pela análise e interpretação do que é escrito, pelo
esmiuçar do texto que aos seus conteúdos os determinem no complexo contraditório
que nele mesmo se encerre se consegue avaliar e esse trabalho ultrapassa em
profundidade democrática a democraticidade subjacente ao voto ou à
expressividade do número de falantes daquilo que é escrito.
Do que aqui deixo
transparece, também, que há escritos que não se compadecem com a vertigem
alucinante do ritmo em que vivemos e que ao que é escrito, independentemente do
suporte utilizado, tende a desvalorizar.
Tende a subestimar em
crescente erosão.
Nessa voragem, quando à
qualidade do que é escrito se pretere em função da instantaneidade da adesão
que suscita, é a própria qualidade de vida que, sem disso nos darmos conta ou
dela, por demais, nos apercebendo, com essa instantaneidade se degrada
também.
primeiro texto de um tempo de férias a desenvolver-se por
aqui e no Arquivo Complementar cujo link de acesso se situa na coluna lateral da
direita deste blogue
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Julho de 2012
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