sábado, 8 de dezembro de 2012

PENSAMENTOS ( VI )


 
 
 

DO  IMPLÍCITO


Há coisas que não precisam de ser explicitamente escritas para que, no que é escrito, estejam presentes.

 
Às vezes, mesmo, quanto mais explicitadas essas coisas o forem, julgando-nos a agir com prudência, mais imprudentes, por preconceito ou outras causas próprias ou alheias, se revelam, não convergindo em nada com os objetivos pretendidos.
 

Se nos queremos dirigir a todos ou ao maior número possível de pessoas é bom que encontremos um mínimo denominador comum que ao máximo denominador, sublinho, sem o escamotear, não o exclua.
 

Ao conseguir fazê-lo sem subverter as nossas convicções mais íntimas, comunicamos para fora, mas caso não o consigamos fazer, limitamo-nos a comunicar para dentro, apenas para aqueles que por connosco já as partilharem, não precisam de ser, por elas, industriados.


Que não se invoque em vão.
 


 
 

O  MELHOR  INVESTIMENTO
 

O melhor investimento que se pode fazer não é em coisas materiais.
 

Investir em tempo, tempo para nós próprios ganhando-o progressivamente e contrariando as malhas que, quantas vezes, dele nos fazem prisioneiros, anulando-nos, é um investimento ímpar.
 

Ganhando-o para nós, para cada um de nós, inexcedível riqueza, recuperamo-nos a nós próprios e isso está, antes de mais, nas nossas mãos.
 


 
 

VOLTA  NA  PONTA
 

Cuidado com o que se diga ou escreva porque o que se diz e escreve, em efeito boomerang, pode-se virar contra nós.
 

O que se diz e escreve também se pode virar a nosso favor mas isso, apenas, se aos outros não atribuirmos aquilo que não estamos dispostos a admitir em relação a nós mesmos.
 


 
 

O  CRIME  NÃO  COMPENSA


Vamos supor que, politicamente e em Democracia, uma onda de violência física e/ou psicológica se abate sobre nós próprios.


Se a essa onda de violência lhe respondermos ainda com mais violência esta, perpetuando-se, esmagar-nos-á.
 


 
 

ARGUMENTOS  DE  PAZ
 

Se, politicamente e em Democracia, à violência lhe respondermos com argumentos de paz essa, a violência, neutralizando-se por não encontrar base de sustentação e perdendo o pé, desmoronar-se-á.
 


 
 

DEMOCRACIA
 

A possibilidade de, publicamente, dizermos tudo e o seu contrário sem nos atropelarmos nem ofendermos, de podermos conservar a nossa opinião mesmo se derrotados e por mais excêntrica ou minoritária que o seja, de podermos professar as nossas convicções mais íntimas sejam elas quais forem e desde que não ameacem a integridade física ou o bem comum, é uma riqueza maior da qual só nos damos conta quando a perdemos.
 

Aí, publicamente, nem sequer podemos invocar que a perdemos e a Liberdade torna-se uma miragem.
 


 
 

DO  IMPLÍCITO  ( II )
 

Ao tempo em que às coisas não se podiam dizer ou escrever explicitamente, isto é, chamar pelos nomes, desenvolveu-se a arte do implícito.
 

Em Democracia, felizmente, pudemos passar a ser explícitos e o implícito rarefez-se.
 

Contudo, como nada é preto ou branco antes multicolor e tanto mais quanto a Democracia se consolida, tendo-se rarefeito a arte do implícito, o discurso degradou-se.
 

A bem da própria Democracia inconcebível sem a riqueza e a densidade discursiva, urge recuperar essa arte.
 



mais
 



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Dezembro de 2012
 
 
 

1 comentário:

manuela baptista disse...

de facto,
o melhor argumento de paz

é pensar!