DO IMPLÍCITO
Há coisas que não precisam de ser explicitamente escritas para que, no que
é escrito, estejam presentes.
Às vezes, mesmo, quanto mais explicitadas essas coisas o forem,
julgando-nos a agir com prudência, mais imprudentes, por preconceito ou outras
causas próprias ou alheias, se revelam, não convergindo em nada com os
objetivos pretendidos.
Se nos queremos dirigir a todos ou ao maior número possível de pessoas é
bom que encontremos um mínimo denominador comum que ao máximo denominador,
sublinho, sem o escamotear, não o exclua.
Ao conseguir fazê-lo sem subverter as nossas convicções mais íntimas,
comunicamos para fora, mas caso não o consigamos fazer, limitamo-nos a
comunicar para dentro, apenas para aqueles que por connosco já as partilharem,
não precisam de ser, por elas, industriados.
Que não se invoque em vão.
O MELHOR INVESTIMENTO
O melhor investimento que se
pode fazer não é em coisas materiais.
Investir em tempo, tempo para
nós próprios ganhando-o progressivamente e contrariando as malhas que, quantas
vezes, dele nos fazem prisioneiros, anulando-nos, é um investimento ímpar.
Ganhando-o para nós, para cada
um de nós, inexcedível riqueza, recuperamo-nos a nós próprios e isso está,
antes de mais, nas nossas mãos.
VOLTA NA PONTA
Cuidado com o que se diga ou
escreva porque o que se diz e escreve, em efeito boomerang, pode-se virar
contra nós.
O que se diz e escreve também
se pode virar a nosso favor mas isso, apenas, se aos outros não atribuirmos
aquilo que não estamos dispostos a admitir em relação a nós mesmos.
O CRIME NÃO
COMPENSA
Vamos supor que, politicamente
e em Democracia, uma onda de violência física e/ou psicológica se abate sobre
nós próprios.
Se a essa onda de violência lhe
respondermos ainda com mais violência esta, perpetuando-se, esmagar-nos-á.
ARGUMENTOS DE PAZ
Se, politicamente e em
Democracia, à violência lhe respondermos com argumentos de paz essa, a
violência, neutralizando-se por não encontrar base de sustentação e perdendo o
pé, desmoronar-se-á.
DEMOCRACIA
A possibilidade de, publicamente,
dizermos tudo e o seu contrário sem nos atropelarmos nem ofendermos, de
podermos conservar a nossa opinião mesmo se derrotados e por mais excêntrica ou
minoritária que o seja, de podermos professar as nossas convicções mais íntimas
sejam elas quais forem e desde que não ameacem a integridade física ou o bem
comum, é uma riqueza maior da qual só nos damos conta quando a perdemos.
Aí, publicamente, nem sequer
podemos invocar que a perdemos e a Liberdade torna-se uma miragem.
DO IMPLÍCITO ( II )
Ao tempo em que às coisas não
se podiam dizer ou escrever explicitamente, isto é, chamar pelos nomes,
desenvolveu-se a arte do implícito.
Em Democracia, felizmente,
pudemos passar a ser explícitos e o implícito rarefez-se.
Contudo, como nada é preto ou
branco antes multicolor e tanto mais quanto a Democracia se consolida, tendo-se
rarefeito a arte do implícito, o discurso degradou-se.
A bem da própria Democracia
inconcebível sem a riqueza e a densidade discursiva, urge recuperar essa arte.
mais
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Dezembro de 2012
1 comentário:
de facto,
o melhor argumento de paz
é pensar!
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