pormenor da azulejaria de S. Vicente de Fora, Sede do Patriarcado de Lisboa ou da
arte da história aos quadradinhos de que fomos seus precursores
D. MANUEL CLEMENTE
Nomeado Cardeal Patriarca
e Bispo de Lisboa
Eminência,
No dia em que, na língua
portuguesa, a língua em que, como em nenhuma outra, me exprimo, olhei com
outros olhos para a palavra Deus, já lá vão muitos anos, não apenas com a
Igreja da qual estava afastado me reconciliei como nela, nessa palavra e literalmente
a Deus O vi, não apenas na sua significação transcendente mas, também, na sua
aplicação lúdica e concreta.
Extasiado, enamorado vi
Deus na sua relação universal connosco e independentemente de Nele se acreditar
como não.
Sim, porque de que servirá
Deus se connosco, nós todos e sem exceções, ele não estabelecer relação ou
conectividade?
Deus, em português e
independentemente da ordem em que às suas letras inicial e final se sequencializem,
também é um eu, repare, entre o ( d ) de divino ou diabólico e o ( s ) de
sagrado ou de satânico.
Um eu permanentemente livre
de optar entre o bem e o mal.
Se não for pedir-Lhe
muito, gostaria que lesse as três páginas que neste meu blogue a esta minha
carta a precedem, a saber, Feminino / Masculino / Neutro, Que Nome e Equívocos e tendo o cuidado de aos seus links, criteriosamente, também
os seguir.
Perdoar-me-á mas já vai
muita e muito longa a minha maturação e não gosto, acredite, de me estar sempre
a repetir!
Relativismo.
Dir-me-á e perdoar-me-á o
abuso de Lhe atribuir o que não diz que no que escrevo prevalecerá o relativismo
mas permita-me que discorde.
Na verdade, por mais que
se relativize, aí é que está, acaba sempre por prevalecer ou revelar-se o
maravilhoso ou o inesperado em nós.
Em nós e nos outros, em
Deus.
Como é possível que, logo
na língua portuguesa e na palavra Deus que, Ele próprio, como se diz, escreverá
direito por linhas tortas, se revele este Seu tão inesperado e universal
atributo lúdico do qual todas as mulheres e homens de bem, diria, partilham e
independentemente de Nele acreditarem como não?
Atributo que a uma criança,
tão simplesmente, o permite, no fundamental e ao encontro da doutrina,
portanto, tão ludicamente exemplificar?
Deus numa relação íntima,
diria, da qual todas as pessoas de bem comungam ou perfilham?
Que a Deus, na palavra em
que se exprime em português, literalmente, em processo sempre por realizar, o
permite ver e perscrutar?
Ver como eu O vi e que a
Ele, na sua essência, de volta me trouxe ou que a mim Dele, por fim, me
reaproximou?
Como explica-Lo assim
senão na língua portuguesa e na maravilhosa coincidência que nesta, na Sua
palavra se revela no inviolável, sagrado que há em nós e que nessa relação
trina e potenciadora do eu com o ( d ) e com o ( s ) se estabelece?
Se os efes ganhassem outra substância!
Excetuando a sua expressão
em português como aqui, mais uma vez, o demonstro, como o sabemos, Deus é
demasiado abstrato, não tem forma e nem tem sexo.
Tal como o espírito, ou têm-nos?
É por isso que entre Ele e
nós se criam, como o percebo tão bem, mitologias
intercessoras que eu nem digo, longe de mim tal coisa pois que estaria a negar
a minha fé, que não se justifiquem e não façam pleno sentido.
Quando essas mitologias
não estão presentes, quantas vezes, de um extremo deífico não se cai, rapidamente, num outro qualquer profanador do
seu nome e mesmo se invocado em seu próprio nome.
Mas em português, que
simples e simultaneamente reveladora a Sua expressão não se patenteia!
E Deus está em todos nós.
Mulheres, homens e
crianças e não dá mais para prevalecermos em interpretações literais ou fundamentalistas
das escrituras e escrevo-Lhe aqui ao encontro, tal como no princípio, de dar a
primazia à palavra, Deus é, antes de mais, a própria palavra que O designa e
não é para o afrontar, acredite, que sobre Ele aqui Lhe escrevo.
Aqui como também já
escrevi, nomeadamente, ao Papa Francisco e para que junto Dele, por mim, sempre agindo em
contracorrente o que, julgo, sabeis, possais interceder.
Ou de como, de um sonho
revelado e na palavra expressa, Ele é luz, aquela e frondosa árvore que O nomeia.
Nomeado Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente
Reverendíssimo,
Por uma vez, nesta carta
que Lhe escrevo, a Deus não o poupei e já levo muitos e muitos anos de
fidelidade à palavra sem necessidade da sua recorrente invocação.
Resumindo:
Neste dia 28 de Maio,
em português e paradoxalmente, também o conceito de Deus aqui sai do pedestal e
democratiza-se.
Desejo-Vos as maiores
felicidades no exercício deste Vosso novo Ministério não sem que o melhor
também deseje a D. José Policarpo, Vosso
antecessor e ainda no exercício do cargo.
Vosso e sempre
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Maio de 2013
S. Vicente de Fora, Lisboa