segunda-feira, 6 de maio de 2013

À VELOCIDADE DA ESCRITA


luz / som



Como escrevi há duas páginas atrás, a escrita equivale a uma viagem no espaço/tempo que decorre a uma velocidade onde confluindo aquelas do som e da luz, nela e através dela, ambas se cristalizam.
Basta que nela, na escrita, se domine a sua arte.
Esse basta é que não é de pouca monta.
Então, vejamos:
A velocidade do som corresponde a trezentos e quarenta metros por segundo ou mil duzentos e vinte e quatro quilómetros por hora;
A velocidade da luz equivale, aproximadamente, a trezentos mil quilómetros por segundo.
Por segundo, repito.
Que abissal e aparentemente intransponível diferença entre uma e a outra!
À velocidade do som já a ultrapassámos mas quanto a atingirmos a velocidade da luz, tal parece estar completamente fora do nosso alcance.

Mas isto de que falamos a uma escala macrocósmica não corresponde a valores, em si mesmos, absolutos.
Consoante a escala assim estes valores também se relativizam.
Que difícil é agarrar, acompanhar o pensamento, sonoridade potencial em si mesmo!
No interior do nosso cérebro, por efeito simétrico ou de câmara escura, as velocidades da luz e do som invertendo-se, transfiguram-se.
O som, aliás, adquirindo pela palavra substância racional, torna-se, em si mesmo e por via desta, da palavra em luz e propaga-se nela, nessa câmara escura a uma velocidade que à da luz em muito a supera.
Depois, vai um passo, um pequeno passo de gigante, para a escrita.

A escrita ou o processo pelo qual se cristalizam, no concreto, as velocidades da luz com a do som.
Eu escrevo e no que escrevo está o que escrevo e o que do que escrevo se subentende.
O corredor ou trincheira, veios balizados de luz, de escrita e que à velocidade desta, da luz a supera mas que não é aleatório.
Baliza-se, repito, no que escrito está.
Aquilo a que na música se chamam os harmónicos do que se toca.
Da nota que tocada se expande ou vibra numa sequência de harmónicos, impercetíveis sonoridades mas sem as quais esta, a nota, não soaria como deve e onde os harmónicos dependem e se sequencializam de acordo com a nota que é tocada.
Se em efeito simétrico pela luz eu não atingisse o som, o som do que e de como escrevo, a escrita, esta assumiria outras formas ou extinguir-se-ia.
Mas como o atinjo pese embora o Buraco Negro que em fosso abismal à luz do som os separa ou por isso mesmo, ao som, luz, na minha escrita os ancoro, sedimento e perpetuo.


do ato de escrever com conteúdos ou harmónicos



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Maio de 2013



2 comentários:

manuela baptista disse...

hamonia quase perfeita,

mais,
seria um imenso buraco azul!

Jaime Latino Ferreira disse...

INTERPELAÇÃO


À velocidade da escrita, como negativo do negativo cerebral, embora nela cristalizadas as velocidades da luz e a do som, ultrapasso a velocidade da luz.

Vosso


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Maio de 2013