terça-feira, 28 de maio de 2013

CARTA AO NOVO BISPO DE LISBOA

pormenor da azulejaria de S. Vicente de Fora, Sede do Patriarcado de Lisboa ou da arte da história aos quadradinhos de que fomos seus precursores



D.  MANUEL  CLEMENTE

Nomeado Cardeal Patriarca e Bispo de Lisboa

Eminência,

No dia em que, na língua portuguesa, a língua em que, como em nenhuma outra, me exprimo, olhei com outros olhos para a palavra Deus, já lá vão muitos anos, não apenas com a Igreja da qual estava afastado me reconciliei como nela, nessa palavra e literalmente a Deus O vi, não apenas na sua significação transcendente mas, também, na sua aplicação lúdica e concreta.
Extasiado, enamorado vi Deus na sua relação universal connosco e independentemente de Nele se acreditar como não.
Sim, porque de que servirá Deus se connosco, nós todos e sem exceções, ele não estabelecer relação ou conectividade?
Deus, em português e independentemente da ordem em que às suas letras inicial e final se sequencializem, também é um eu, repare, entre o ( d ) de divino ou diabólico e o ( s ) de sagrado ou de satânico.
Um eu permanentemente livre de optar entre o bem e o mal.

Se não for pedir-Lhe muito, gostaria que lesse as três páginas que neste meu blogue a esta minha carta a precedem, a saber, Feminino /  Masculino / Neutro, Que Nome e Equívocos e tendo o cuidado de aos seus links, criteriosamente, também os seguir.
Perdoar-me-á mas já vai muita e muito longa a minha maturação e não gosto, acredite, de me estar sempre a repetir!

Relativismo.
Dir-me-á e perdoar-me-á o abuso de Lhe atribuir o que não diz que no que escrevo prevalecerá o relativismo mas permita-me que discorde.
Na verdade, por mais que se relativize, aí é que está, acaba sempre por prevalecer ou revelar-se o maravilhoso ou o inesperado em nós.
Em nós e nos outros, em Deus.
Como é possível que, logo na língua portuguesa e na palavra Deus que, Ele próprio, como se diz, escreverá direito por linhas tortas, se revele este Seu tão inesperado e universal atributo lúdico do qual todas as mulheres e homens de bem, diria, partilham e independentemente de Nele acreditarem como não?
Atributo que a uma criança, tão simplesmente, o permite, no fundamental e ao encontro da doutrina, portanto, tão ludicamente exemplificar?
Deus numa relação íntima, diria, da qual todas as pessoas de bem comungam ou perfilham?
Que a Deus, na palavra em que se exprime em português, literalmente, em processo sempre por realizar, o permite ver e perscrutar?
Ver como eu O vi e que a Ele, na sua essência, de volta me trouxe ou que a mim Dele, por fim, me reaproximou?
Como explica-Lo assim senão na língua portuguesa e na maravilhosa coincidência que nesta, na Sua palavra se revela no inviolável, sagrado que há em nós e que nessa relação trina e potenciadora do eu com o ( d ) e com o ( s ) se estabelece?

Se os efes ganhassem outra substância!
Excetuando a sua expressão em português como aqui, mais uma vez, o demonstro, como o sabemos, Deus é demasiado abstrato, não tem forma e nem tem sexo.
Tal como o espírito, ou têm-nos?
É por isso que entre Ele e nós se criam, como o percebo tão bem, mitologias intercessoras que eu nem digo, longe de mim tal coisa pois que estaria a negar a minha fé, que não se justifiquem e não façam pleno sentido.
Quando essas mitologias não estão presentes, quantas vezes, de um extremo deífico não se cai, rapidamente, num outro qualquer profanador do seu nome e mesmo se invocado em seu próprio nome.
Mas em português, que simples e simultaneamente reveladora a Sua expressão não se patenteia!

E Deus está em todos nós.
Mulheres, homens e crianças e não dá mais para prevalecermos em interpretações literais ou fundamentalistas das escrituras e escrevo-Lhe aqui ao encontro, tal como no princípio, de dar a primazia à palavra, Deus é, antes de mais, a própria palavra que O designa e não é para o afrontar, acredite, que sobre Ele aqui Lhe escrevo.
Aqui como também já escrevi, nomeadamente, ao Papa Francisco e para que junto Dele, por mim, sempre agindo em contracorrente o que, julgo, sabeis, possais interceder.
Ou de como, de um sonho revelado e na palavra expressa, Ele é luz, aquela e frondosa árvore que O nomeia.

Nomeado Cardeal Patriarca D. Manuel Clemente
Reverendíssimo,

Por uma vez, nesta carta que Lhe escrevo, a Deus não o poupei e já levo muitos e muitos anos de fidelidade à palavra sem necessidade da sua recorrente invocação.
Resumindo:
Neste dia 28 de Maio, em português e paradoxalmente, também o conceito de Deus aqui sai do pedestal e democratiza-se.
Desejo-Vos as maiores felicidades no exercício deste Vosso novo Ministério não sem que o melhor também deseje a D. José Policarpo, Vosso antecessor e ainda no exercício do cargo.

Vosso e sempre




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Maio de 2013

S. Vicente de Fora, Lisboa



1 comentário:

manuela baptista disse...

são os teus dons,

o melhor dos Dons


o resto é uma História que começa nas cavernas, já os homens pintavam o mamute e a flecha

e continua e continua