quarta-feira, 18 de novembro de 2015

DA LUTA PELO REFORÇO E PELA HEGEMONIA DO CENTRO



Wassily Kandinsky, Composition 8, 1923







A realidade daquilo que se passa no microcosmos nacional, ele é disso uma amostragem, traduz, em última instância e pesem ou não todos os sinais contraditórios, a luta pelo reforço e pela hegemonia do centro político mais e mais abalado, interpelado tanto mais quanto pelos recentes acontecimentos em Paris, mas que importará não descurar.
Nessa luta, o que é que está em causa?
A nível geral, isto é, no quadro da União Europeia no seu conjunto, a possibilidade ou não de existir alternativa ou alternativas às políticas que nela têm vingado, alternativas essas que são, em si mesmas, condição democrática e, convenhamos, as posições têm-se extremado, a União Europeia mostra-o à saciedade em prejuízo do centro político que se tem rarefeito e isto já para não falar nas derivas centrífugas ou ao arrepio dos seus tratados constituintes e que em crescendo a assolam e paralisam.

Nos quadros específicos das realidades nacionais de que Portugal é um paradigmático exemplo e mais ainda quanto conserva um xadrez político a lembrar aquele ao tempo dos pais fundadores da Europa, o que é que está em jogo?
Durante muitos anos, dezenas, diria, um dos partidos do centro, o Partido Socialista viveu acantonado entre a sua esquerda e o centro-direita, comprometido com este último nos seus compromissos soberanos e acicatado à sua esquerda, incapaz de com esta se entender, espremido por uma tenaz que o constrangia e que o impedia de se expandir, muito antes pelo contrário, com um mínimo de sustentabilidade.
O centro-direita, liderado pelo Partido Social-Democrata, por seu turno e porque entre si e com o seu extremo se entendia, não raro conquistou maiorias absolutas.
No primeiro caso, o do PS estas foram a exceção e no segundo, o do PSD, quiçá, a regra que agora se vê, de súbito, posta em causa.

Os constrangimentos do resgate a que o país, entretanto, foi sujeito pelas condições por ele impostas, esses fizeram o centro-direita, entretanto e uma vez mais constituído em maioria absoluta, infletir à direita e cavaram uma fratura ao centro que, pelo menos a prazo, se antevê difícil de superar.
Assim e jogando com o fator surpresa, infletindo, por sua vez, à sua esquerda, o PS e quebrando um estigma cujas origens históricas se perdem no tempo o que, em si mesmo, constitui um facto histórico, entendeu-se, finalmente, à sua esquerda cooptando-a, propositivamente e em simultâneo, às responsabilidades ainda que indiretas da governação sem deixar de reafirmar os princípios que com o centro-direita, desta feita acantonado e refém da sua direita, repito, comunga e partilha.

Quem está, então e independentemente da resolução do impasse a que se assiste na constituição de um novo governo e que é, em si mesmo, fator de instabilidade, em condições de refazer o centro político?
Respondo como se segue:
Na certeza de que a crispação ou a vendetta desfavorecem aqueles que nelas persistam, independentemente dos atores políticos que a uns e a outros os liderem, quem esteja em condições de criar pontes para onde quer que se vire criando folga e, logo, margem para o crescimento.
Esse ou esses deixarão de ficar acantonados e criarão espaço para crescer ao centro porque é no centro e mesmo se, por ora, difusamente espartilhado que se continuam a ganhar eleições.
Esses, apenas esses pelo que, não me espantaria se a prazo, se o diálogo já se aprofundou em direção àqueles que pareciam estar, irremediavelmente, excluídos de mais e maiores responsabilidades, insuspeitadas pontes se poderão vir a criar entre aqueles outros que a aparente ausência de alternativa que propugnavam parecia ter definitivamente apartado.

Direita e esquerda, sei bem do reducionismo e da carga, num como noutro sentido, que ambos os conceitos transportam e sobre eles, porfiadamente, já me pronunciei mas certo é que são os conceitos que temos, não há como fugir a eles donde, por isso e para lá disso, assim remato esta minha reflexão:
Na convicção plena de que o aprofundamento da integração europeia só pode é estar associado ao aprofundamento da Democracia que deve, tem de ser um caminho sem retorno e, logo, do diálogo democrático sem barreiras nem tabus sim, há, só pode é haver alternativa e tanto mais quanto os recentes atentados o parecem, eles também, exigir.
O tempo se encarregará de o confirmar mas quanto à União Europeia seria bom que aos interesses imediatos desta ou daquela família política, país ou grupo de países encarados de per si, fizesse prevalecer o interesse geral que à solidariedade, como bandeira e acima de tudo, deveria ostentar com o orgulho determinado de quem dela faz a sua própria identidade.
Sim, a solidariedade, cimento que os tempos à União a convocam e não outro interesse particular ou chauvinista.















Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Novembro de 2015