Friedrich von Schiller
( 1759 — 1805 )
Quando, na página anterior
e que aqui retomo, um conjunto de 10 000 pessoas interpreta a Ode da Alegria, fico a pensar em quem à
ode de Schiller, Ode An Die Freude e
hino da Europa a abraçará com maior
convicção:
Os europeus ou, no caso,
os japoneses?
Esta pergunta poderia ser
feita na inversa, isto é, quem na Europa,
com igual rigor não apenas musical em sentido estrito mas também naquele da
convicção, da pronúncia e da língua, a um qualquer tema japonês equivalente seria
capaz de, assim, o interpretar?
Quem?
Por outro lado, quem, na Europa, a esta mesma ode a interpretaria
com tal força, vigor e monumentalidade e sem prejuízo, tão pouco, do seu rigor
musical?
Estas perguntas que aqui
levanto não são, propriamente, casuísticas …
Para ser franco, até me dá
a sensação de que com ela, com esta massiva
interpretação e independentemente do contexto que a ela presidiu, o extremo
oriente de nós próprios a nós nos faz um ingente apelo a que acordemos da nossa
letargia.
Da nossa própria
decadência …!
Tudo o que aqui escrevo
assume ainda maior relevância quanto, para mais, esta é uma performance habitual da Daiku, da Nona Sinfonia, assim lhe chamam os japoneses, levada a cabo todos os
anos e mais ainda quando esta, em particular, foi dedicada em homenagem às
vítimas do terramoto e do tsunami que se lhe seguiu, o ano passado, no Japão e que é nesse contexto que surgiu
aquilo que, aqui, nos é dado ouvir e a pergunta torna-se, então, ainda mais
pertinente:
Seríamos nós, europeus, em
idêntico contexto, capazes de tamanha ousadia?
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos dá beijos e as vinhas
Um amigo provado até a morte;
A volúpia foi concedida ao verme
E o Querubim está diante de Deus!
… canta Schiller a dado passo e que tem a Europa, hoje e diante do tsunami
económico e financeiro que a abala, uma simples brincadeira quando comparada
com a catástrofe que assolou o Japão,
a oferecer ao mundo e a si própria também?
Que tem a Europa a oferecer ao mundo para lá da triste
prestação que desempenha confinada às
salas de concertos?
Confinada à retórica que
tarda em se traduzir no terreno?
Impotentemente fechada sobre
si mesma?
Calando o que o mundo dela
canta e em que deixou de acreditar?
Ou acredita!?
Quando, quando voltará a Europa a cantar os valores que ela própria, de si mesma comiserada, contribuiu
para fazer despertar?
Resolvendo o luto das
barbáries que, pelos piores motivos a celebrizaram e a que se confinou?
Num mundo em que se
integre, seja parte entre iguais e contribuição ativa para a Paz, isto é, para
a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade,
a Alegria de que, ela também, não poderá,
jamais, abdicar?
Quando!?
que Europa é esta
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Abril de 2011