Um dos ativos do 25
de Abril de 1974 é aquele que, tendo já passado tempo suficiente sobre o
acontecimento, o faz permanecer memória viva e tanto mais quanto se tratou do
derrube de um regime totalitário praticamente sem efusão de sangue e dando
origem a uma nova vaga de democratização sem precedentes na Europa e, quem sabe, no Mundo.
À data tinha eu 20 anos,
era um homem feito e com aguda consciência política e hoje, passados que são
tantos anos, ainda não completei os sessenta anos de idade.
A memória do sucedido
permanece, pois, viva assim como aquela do antes e do depois.
Ainda hoje conservo
presentes os constrangimentos do antes, a euforia única que à sua data se viveu,
as tentações que se lhe seguiram e a diferença que hoje, do antes nos separa.
Há muitos fatores que
contribuem para a maior ou menor liberdade que se tenha e nem todos de ordem
estritamente política, mas só esta possibilidade que hoje temos de exprimir o
que nos vai na alma!
De exprimirmos,
livremente, as nossas convicções políticas ou outras!!
De aqui poder, publicamente,
dar asas ao meu pensamento que se traduz já num conjunto múltiplo e complexo de
textos originais que se aproxima, a passos largos, das novecentas publicações!!!
Memória viva.
Memória viva na integração
plena daqueles que a constituem e não apenas exaltação de ícones passadistas ou
meramente situados no tempo que aqui, intencionalmente, eu não relevo
sublinhando-a presente, atual e universal.
Memória histórica é uma
coisa e memória viva, outra bem diferente!
A memória viva de um
acontecimento tem da memória histórica uma diferença fundamental:
É que ela é sentida.
Sentida como se fosse de
hoje e tal permanecerá assim enquanto dela forem vivos tanto os seus
intérpretes como as suas testemunhas.
Tanto mais, diga-se em
abono da verdade, quanto, repito, a efusão de sangue que, entre nós, praticamente não teve
lugar.
Permitindo, deste modo,
sarar as feridas que numa rutura como o 25
de Abril o foi, em tempo de vida útil pudessem cicatrizar.
O que aqui alego não é, de
todo, despiciendo.
Bem como todo o meu
percurso que refaria de novo sem esqueletos no armário que os não tenho.
O 25 de Abril de 1974 e fossem quais tivessem sido as suas motivações
mais ou menos corporativas ou generosas, redundou na Liberdade que não existia
e que, ainda ou por demais hoje, nos permite dizer de nossa inteira justiça.
É claro que hoje como
sempre, é preciso saber como dizê-lo.
Não vale tudo.
Mas por sabê-lo, poder
dizê-lo é uma bênção que só quem não pôde sabe o que é poder dizer!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Abril de 2012
2 comentários:
Muito lindo Jaime o testemunho que aqui nos deixa. Eu tinha 19 anos no 25 de Abril de 1974, uma memória bem viva em nós e penso exactamente o mesmo. Apesar de tudo nada é como antes, mas devemos estar atentos e usar a liberdade de expressão que adquirimos, para que nada volte a ser como em 24 de Abril desse ano.
Nâo podemos viver de um certo saudosismo dos primeiros dias da revolução, nem cristalizar ideias no passado, mas renovar sempre o sentido de liberdade e democracia, com firmeza e devoção, sobretudo pensando nos outros.
Beijinhos
Branca
a minha consciência política não era aguda
era afetiva
daí toda a efusão que foi para mim esse dia, nunca abracei tanta gente na vida!
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