sábado, 28 de abril de 2012

MEMÓRIA VIVA





Um dos ativos do 25 de Abril de 1974 é aquele que, tendo já passado tempo suficiente sobre o acontecimento, o faz permanecer memória viva e tanto mais quanto se tratou do derrube de um regime totalitário praticamente sem efusão de sangue e dando origem a uma nova vaga de democratização sem precedentes na Europa e, quem sabe, no Mundo.
À data tinha eu 20 anos, era um homem feito e com aguda consciência política e hoje, passados que são tantos anos, ainda não completei os sessenta anos de idade.
A memória do sucedido permanece, pois, viva assim como aquela do antes e do depois.
Ainda hoje conservo presentes os constrangimentos do antes, a euforia única que à sua data se viveu, as tentações que se lhe seguiram e a diferença que hoje, do antes nos separa.
Há muitos fatores que contribuem para a maior ou menor liberdade que se tenha e nem todos de ordem estritamente política, mas só esta possibilidade que hoje temos de exprimir o que nos vai na alma!
De exprimirmos, livremente, as nossas convicções políticas ou outras!!
De aqui poder, publicamente, dar asas ao meu pensamento que se traduz já num conjunto múltiplo e complexo de textos originais que se aproxima, a passos largos, das novecentas publicações!!!
Memória viva.
Memória viva na integração plena daqueles que a constituem e não apenas exaltação de ícones passadistas ou meramente situados no tempo que aqui, intencionalmente, eu não relevo sublinhando-a presente, atual e universal.
Memória histórica é uma coisa e memória viva, outra bem diferente!
A memória viva de um acontecimento tem da memória histórica uma diferença fundamental:
É que ela é sentida.
Sentida como se fosse de hoje e tal permanecerá assim enquanto dela forem vivos tanto os seus intérpretes como as suas testemunhas.
Tanto mais, diga-se em abono da verdade, quanto, repito, a efusão de sangue que, entre nós, praticamente não teve lugar.
Permitindo, deste modo, sarar as feridas que numa rutura como o 25 de Abril o foi, em tempo de vida útil pudessem cicatrizar.
O que aqui alego não é, de todo, despiciendo.
Bem como todo o meu percurso que refaria de novo sem esqueletos no armário que os não tenho.
O 25 de Abril de 1974 e fossem quais tivessem sido as suas motivações mais ou menos corporativas ou generosas, redundou na Liberdade que não existia e que, ainda ou por demais hoje, nos permite dizer de nossa inteira justiça.
É claro que hoje como sempre, é preciso saber como dizê-lo.
Não vale tudo.
Mas por sabê-lo, poder dizê-lo é uma bênção que só quem não pôde sabe o que é poder dizer!


 



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Abril de 2012

2 comentários:

Branca disse...

Muito lindo Jaime o testemunho que aqui nos deixa. Eu tinha 19 anos no 25 de Abril de 1974, uma memória bem viva em nós e penso exactamente o mesmo. Apesar de tudo nada é como antes, mas devemos estar atentos e usar a liberdade de expressão que adquirimos, para que nada volte a ser como em 24 de Abril desse ano.

Nâo podemos viver de um certo saudosismo dos primeiros dias da revolução, nem cristalizar ideias no passado, mas renovar sempre o sentido de liberdade e democracia, com firmeza e devoção, sobretudo pensando nos outros.

Beijinhos
Branca

manuela baptista disse...

a minha consciência política não era aguda

era afetiva

daí toda a efusão que foi para mim esse dia, nunca abracei tanta gente na vida!