Entorpecidos por uma certa práxis dominante, alguns há que consideram
natural a quebra das promessas feitas durante as campanhas eleitorais não
constituindo esta, em si mesma, rompimento do contrato e, logo, da legitimidade
para se governar.
Não sou dos que assim pensam e num tempo em que tanto se fala, pelos
melhores e pelos piores motivos, em coesão intergeracional, chamo à colação um
exemplo concreto e extremo, já recuado no tempo, disso mesmo:
A expressa garantia e a implícita promessa eleitoral feita em campanha
eleitoral por Passos Coelho, vai para
dois anos, a uma jovem adolescente, aluna de uma escola secundária e para a
qual, aqui, de novo vos remeto.
Já é grave quando ao eleitorado se ludibria, dando o dito pelo não dito,
antes e depois de se ser eleito.
Mas quando tal acontece, como neste exemplo que aqui tão bem surge
ilustrado, envolvendo uma jovem aluna adolescente, repito, a gravidade do ato
acresce ainda mais.
O Primeiro-Ministro dar-se-á conta de que já não é assim tão novo?
De que se estava a dirigir a uma adolescente?
De que, ao dizê-lo assim, logo do que disse fazendo letra morta uma vez
tendo sido eleito, está, não apenas a semear a desconfiança como a minar o
terreno de todos os agentes educativos e, logo, a romper a coesão de que tanto
fala e diz defender?
O que pensará hoje, dois anos volvidos, essa jovem sobre o que, na altura,
pelo Primeiro-Ministro lhe foi garantido?
Ou todos aqueles jovens que tendo ouvido este diálogo, hoje, com ela, se
sentem por ele ludibriados?
Por ele e, por tabela, pelos seus pares bem como pelas instituições
democráticas que representam?
E que autoridade sobra ao Primeiro-Ministro quando hoje, em nome da coesão
intergeracional, chama a atenção para os encargos que as reformas dos mais velhos,
diz, fazem recair sobre os mais novos?
No seu íntimo, perante os crescentes e imparáveis sacrifícios que anuncia,
com que cara se olhará ele, o Primeiro-Ministro e como se reverá ela naquilo
que nos tem a propor?
Porquê voltar a este assunto quase dois anos volvidos?
Porque me preocupo, sobremaneira, com o estado da Democracia que já na
minha página anterior, por caricata e empolada mas significante amostra, diagnosticava;
Porque o ponto a que chegamos tem tudo a ver com as promessas que ao longo
do tempo, em sucessivos sufrágios e por sucessivas gerações de políticos, nos
foram vendidas e que hoje, pesadamente nos estão a ser cobradas;
Porque, pese muito embora a situação aflitiva em que nos encontramos,
muitos políticos e independentemente da sua cor, parecem não ter ainda aprendido
a lição;
Porque sou professor.
No meu microcosmos estou face a face e não distante do meu público-alvo,
ele também composto de adolescentes e ai de mim se eu lhe faltasse a uma
promessa que lhes tivesse feito.
Com que cara fica e sai um putativo governante de uma escola não sabendo ou
agindo como se não soubesse a quem se está a dirigir onde, como aqui,
aconteceu?
Investindo como elefante em loja de loiça fina?
Sem se dar conta de que é para o futuro, esse sobre o qual tanto diz preocupar-se,
que está a olhar e ao qual, mal vira costas, espezinha como se nada fosse?
A ele, ao futuro e por ao terreno o minar, a quem dele cuida?
Porque, hélàs, a Democracia, em
todos os seus tempos e momentos, não é, não pode ser palavra vã!
a Democracia não se pode confundir com um concurso de conjunturais e
demagógicos impulsos de ocasião
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Janeiro de 2013
1 comentário:
é sempre tempo de não esquecer
e,
em virtude do acréscimo de admissões,
a superfície do inferno tem vindo a ser aumentada
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