Umberto Boccioni , States of Mind II: The Farewells
Portugal é um país sob
resgate financeiro.
Pesam sob os seus cidadãos
crescentes sacrifícios e anunciam-se, em cascata, para o ano em curso, se
possível, sacrifícios ainda maiores.
O desemprego alastra e a
miséria também.
Anuncia-se borrasca à
volta do Orçamento aprovado para 2013 e os pedidos de fiscalização sucessiva deste
ao Tribunal Constitucional,
sucedem-se uns após os outros.
Os portugueses vivem cada
vez mais afogados nas suas angústias e incógnitas e a falta de perspetivas não
para de crescer.
Entretanto …
Entretanto correu a
notícia de que um dos seus governantes, no período das festas, teria ido passar
férias no estrangeiro instalado numa luxuosíssima estância turística e o
assunto, ao contrário do que, anteriormente, noutras circunstâncias havia já
acontecido e mesmo em relação a esse governante preenchendo a espuma dos dias,
morreu por aí.
Fico atónito e não é de somenos!
Senão, vejamos:
Governante é governante e,
no caso, representante daquele governo a quem compete executar o Memorandum a que o país se encontra
obrigado e que justificará todas as medidas que aos seus concidadãos, como
enunciado acima, avassaladoramente, os constrangem;
Sendo assim, se é certo
que há uma fronteira entre a vida pública e a privada dos membros desse
governo, na situação que vivemos, ambas não podem deixar de ser conformes à
situação de emergência a que o país se encontra sujeito;
Para mais, aliás, são as
figuras de topo do Estado, que fazem apelo a todos para que, mesmo em férias,
os que as tenham, as façam cá dentro, concorrendo, desse modo, para o índice de
exportações tirando a economia do marasmo, pior, da depressão em que se
encontra mergulhada;
Para além disso e sujeito
a um apertado escrutínio, pelo menos assim o deveria estar, o mínimo que se
exige a quem faça parte desse governo é ao recato e à moderação, à congruência
que, pela ausência de ostensiva obscenidade que uma tal estadia representa e
projeta, não fira a sensibilidade geral do seu povo sujeito que está a tantos
sacrifícios.
E, já agora e para o
exterior, que sinal é este pois se um governante, em férias e nestas
circunstâncias, se pode dar a um tal luxo?
Se assim se portam os seus
governantes, então é porque o país pode levar com muito mais em cima!
À mulher de César, cesarito no caso, não lhe basta
ser, tem mesmo de parecer ser séria sob pena de aos seus súbditos não ser
possível chamar, envolver, mobilizar muito menos, para o que lhes é exigido,
rompendo-se, pela falta de congruência, o contrato que a ambos, governantes e
governados, os vincula.
No entanto …
No entanto o assunto que
aqui me traz, como um flop, na apatia
e resignação geral, pois eles, os políticos, são todos iguais, dir-se-á, parece
ter morrido.
São os governantes que
merecemos, acrescentar-se-á!
Assim parece.
Sobre este assunto,
escrevi primeiro um Libelo no mural do meu facebook e, logo a seguir,
espicaçando os meus leitores, um outro post
ainda no facebook, Gostava De Perceber Mas Não Entendo,
onde, entre outra coisas solicitava ao tal governante, ou uma justificação
plausível ou um desmentido formal sobre o sucedido, tendo provocado amorfas
reações da parte de quem me lê.
Que eu saiba, nem
justificação nem desmentido tiveram, tão pouco e até hoje, lugar.
Porém, não me conformo e
aqui estou uma vez mais, agora, dando particular destaque a este assunto no meu
blogue.
Faits divers?
Confesso-vos que não sou
dado a eles e, julgo, já o tereis reparado.
Quixote, chamar-me-ão.
Pois que o seja!
O que neste episódio,
afinal, me angustia ao não suscitar um coro consequente de indignação tanto da
parte dos média como dos políticos ou, em geral, dos meus leitores é que,
passando em branco, como atestado de irresponsabilidade recaia sobre toda a
classe política democrática sem olhar a quem e envolvendo-a numa perigosa
generalização já que, o que não mata, mói, corrói como joio e tanto mais quanto
a Democracia, pela austeridade a que está obrigada, já se encontra tão
fragilizada.
O assunto que aqui me
traz, essa é que é essa, quer pela ausência de justificações ou desmentido por
parte do próprio, devia ter sido estancado, cortado pela raiz pela mais que
justificada e célere demissão do governante em causa.
Um assunto como este,
porém, só morre quando todos o deixarem cair e a este, hélàs, combatente das causas perdidas, chamar-me-ão, não só nele
insisto como aqui fica.
Será que é este o tipo de
governantes que, pela ausência de clamor que deveria ter desencadeado mas não
suscitou, afinal, nós merecemos?
para que não vos deixais atordoar ou vencer, aos meus
leitores, aqui deixo o repto da mais sentida e acalorada das indignações
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Janeiro de 2013
1 comentário:
lá fora, há um corta-relvas...
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