contrativa expansão
Vivemos cada vez mais em
menos tempo ou escrito de outra maneira:
Hoje em dia e numa
crescente vertigem, em mais tempo são-nos proporcionadas uma quantidade de
vivências que ao indivíduo, nem é preciso recuarmos um século, com uma
esperança de vida, é certo, muito inferior à nossa, falo das cada vez mais
vastas zonas do globo onde se vive com um mínimo de dignidade e qualidade de
vida, não lhes seriam, no entanto, minimamente concedidas.
É certo que a esperança de
vida vai, substancialmente, aumentando mas não menos certo é que o tempo de
vida útil também corre a uma velocidade cada vez mais estonteante e vertiginosa
proporcionando-nos uma miríade de experiências nunca antes, em tempo de vida
útil, vividas.
Dir-se-á que esta dupla e
paradoxal sensação decorre do exponencial desenvolvimento técnico/científico e
sem dúvida que este ajuda a explicar a perceção que das minhas constatações
anteriores decorrem mas esse desenvolvimento não explica tudo.
Se explicasse, tal
equivaleria a dizer que tudo depende da nossa capacidade inventiva e que a
realidade que a transcende da qual ela é reflexo, não só mas também já que não
me ocorre, tão pouco, escrever que não estejamos munidos do livre arbítrio ou
da capacidade de contrariar determinismos, não pode deixar, contudo e
contrariando por igual tecnicismos como antropomorfismos, visões centradas
exclusivamente em nós, de ser tida em linha de conta.
Tempo.
Tendo em consideração que
este se perceciona diferentemente em função da idade cronológica que se tenha e
das circunstâncias que decorram não menos certo é que, grosso modo, vivemos
cada vez mais anos e cada vez mais vidas embora a nossa vida, como um todo, decorra
num crescente ápice.
Espaço.
O mundo, tendo a dimensão
que sempre terá tido, será (?), parece que encolheu ou que a ele, individualmente,
o abarcamos cada vez mais amplamente ou que todas as distâncias se encurtaram
entre mim e o meu semelhante independentemente da distância ( abarcamos,
individualmente, cada vez maiores distâncias, sublinho ) que o separa de mim mesmo.
Dou-vos desta dupla perceção
apenas um exemplo que, ainda nestes últimos dias, tive ocasião de vivenciar profundamente:
Há muitos anos atrás, mais
de trinta, o que não eram trinta anos na vida de um antepassado nosso,
provavelmente todo o seu tempo de vida útil quando hoje, graças a Deus, à minha
a não dou por concluída, longe disso, deu-se um episódio entre um amigo meu e
eu próprio do qual, por minha responsabilidade mas não vindo, no concreto, para
aqui ao caso, não me orgulho mesmo nada.
Entretanto perdemos o
rasto um do outro e, outro dia, por via das tecnologias da informação mas por
mero acaso, voltámos a entrar em contacto um com o outro.
Tive, então, a
oportunidade que não desperdicei de, por escrito, com ele desfazer
autocriticamente os equívocos que nesses recuados tempos se geraram entre nós e
que não deixavam de manchar a minha, como dizer, reputação ou que imprimiam uma
nódoa que manchava a nossa e recíproca memória comum.
E, de repente, parece que
nos demos a abraçar e ainda que à distância, na catarse que, não apenas em mim,
julgo, por via da recetividade desse meu amigo e da minha própria iniciativa,
se desencadeou.
Desde quando é que noutros
tempos e deste modo, em tempo de vida útil, tal poderia ter assim acontecido?
Desde quando é que essa
memória comum teria sido possível tanto de digerir como de resolver por uma
como por outra das partes e sobretudo assim, de um momento para o outro?
Provavelmente o assunto
ficaria por resolver e nunca mais teria tido a hipótese, quem sabe, de com esse
meu amigo me voltar a cruzar e tanto mais quanto separados pela distância
física, quanto mais ainda de resolver o contencioso
que entre nós existia?
O tempo e o espaço
encurtaram, contraíram-se pese embora, à nossa escala, ambos, encolhendo se
tenham, simultaneamente, expandido.
Que sinal prodigioso dos
tempos que decorrem!
Encolhendo-se, quer na
esfera singular como para lá dela, o espaço/tempo expandiu-se.
No luminoso som que a
escrita imprime e onde confluem ambas, a velocidade da luz com a do som, assim
através dela se domine a sua arte, encurtam-se distâncias abrindo sempre novas
e imprevisíveis potencialidades num tempo que, contraindo, se abre e se
expande.
Como se tivéssemos dobrado
um cabo que, julgaríamos, numa enganadora ilusão espaço/temporal, estaria
completamente fora do nosso alcance vir a ultrapassar.
Se a uma porção de
espaço/tempo, pela travessia de um Buraco Negro, a sujeitássemos a
forças gravíticas de sinal contrário, aceleração/desaceleração, que a sua travessia
e o seu desfecho, sem mais, desencadeariam, o que é que a essa travessia
poderia, sem outras variáveis que nela interviessem, vir-lhe a acontecer?
Mas se a essa porção de
espaço/tempo, em contraciclo, lhe somássemos a velocidade da luz cristalizada
que pela sua verbalização ou consciencialização formulada por escrito, insuspeitada
força gravítica maior, a contrabalançasse, onde poderíamos, então, vir a
desembocar?
( a CG )
de quando o som atinge em cheio a luz ou de como agarrando
a luz pelo som, isto é, pelo que dele se visualiza a ambos os fazendo, pela
escrita, convergir, podemos ter entrado, com sucesso, noutra dimensão do
espaço/tempo
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Abril de 2013