Templo do Céu, Beijing
AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA
Excelência, Camarada Xi Jinping,
Embora tardiamente, mais
vale tarde do que nunca costumamos nós dizer e aproveitando o ensejo para felicitá-Lo
pela recente nomeação como Presidente
da República Popular da China desejando-Lhe todas as felicidades, queria,
nesta oportunidade, refletir Consigo a partir das linhas de força que, aqui,
nesta minha reflexão que desejaria partilhada, Lhe sugiro.
As ideologias que não
professam Deus, ao não professa-Lo, logo, Nele não acreditando assentes em
mundividências integristas, isto é, apegadas exacerbadamente a princípios e
dogmas, não deixam de ser confissões.
Aquelas que Nele não
acreditando se revelam, portanto, confissões que professam acreditarem em Nele
não acreditar.
Constituindo-se em poder
não salvaguardando os seus limites, imiscuindo-se, portanto, na esfera
confessional ou naquela do poder intemporal ou com ele confundindo-se
tornam-se, assim e ainda que simetricamente, em estados confessionais.
Há-os desta natureza,
confessionais ateus, mais ou menos mitigados.
Nuns casos, idolatrando de
tal forma os seus líderes que equivalem a monarquias mais do que absolutas e
teocráticas.
Noutros casos, mais
mitigados, interferindo diretamente na escolha dos representantes religiosos de
que religiões o forem e mantendo-as sob sua estreita alçada.
Em todos eles,
seguramente, revelando uma insegurança, receios mais ou menos extremados do vírus de Deus ou do, assim chamado e
ainda que apenas ideologicamente latente, ópio
do povo.
Tanta insegurança quanto o
receio dos estados confessionais religiosos, propriamente ditos, pelo contágio
do ateísmo ou da suposta dissolução dos costumes que, abrindo mão dessa sua
prerrogativa confessional, desencadeariam.
Em ambos os casos, repito
e pela insegurança que revelam, descrendo, afinal e por isso mesmo, na força
das mundividências que professam.
Eu acredito em Deus.
Tal facto, porém, em nada
me leva a recear daqueles que Nele não acreditam.
Mais, acho que têm pleno
direito a Nele não acreditarem sem que os meus fundamentos sejam, por isso,
abalados.
Eu próprio que já
professei o ateísmo, nele incluído o comunismo e como me lembro da fé
inabalável que por ele me fazia mover reconheço que, muitas vezes, estes, os
comunistas, acreditam e fazem mais por um futuro melhor do que muitos crentes
resignados, não conformados mas antes resignados, que nada fazem pela
prosperidade futura.
Eu acredito, Tu não e
depois?
O que nos impede de
conjugarmos esforços por um futuro de paz mais sorridente para todos?
As nossas convicções mais
íntimas?
Mais íntimas, ora aí está,
que direito me assiste a mim ou a Ti de as impormos, condicionarmos ou
interditarmos a terceiros?
Tal revelar-se-ia, aliás e
julgo que o partilhará comigo, uma impraticável possibilidade.
Que problema existe na
laicização do Estado?
Sim, porque a laicização
do Estado implica que este também se despoje de roupagens ideológicas.
Que medo no reconhecimento
da separação de poderes replicando, afinal, qual negativo fotográfico, receios
antigos e tentações de que as religiões foram ou continuam a ser tomadas
revelando, repito, uma profunda descrença nas suas próprias convicções?
Eu acredito em Deus e Tu
no paraíso na terra e depois?
Prefiro valorizar o que nos
une, a vontade comum de bem e melhor fazer.
Aquilo que não vale é Tu
impores-me o que eu, a Ti, não te imponho e o Estado, esse, deveria estar acima
dessas nossas idiossincrasias sob pena de vir a transformar a Terra não num
paraíso mas num autêntico inferno inquisitorial para todos como, aliás, a
experiência histórica nos ensina.
Nada como a liberdade
confessional da crença nela incluída a crença de a não ter!
Um país, dois sistemas.
Como, hoje, ainda me
ressoa a palavra de ordem lançada pelo Vosso predecessor Deng Xiaoping e que explica o boom
que a China, de então para cá, tão
prodigiosamente conheceu!
Um país, dois sistemas ou,
numa linguagem que a nós nos é mais familiar, um país e dois setores, o público
e o privado.
O público ou aquele que o Partido Comunista da China ocupa, o
privado ou o da economia de mercado e da propriedade privada.
Que monumental salto em
frente!
Como gostaria de revisitar
uma China que já não é senão a sombra, luz daquilo que era.
E como desse salto em
frente, ao contrário de outros que ficaram amarrados a dogmas e clichés, um
pequeno passo apenas falta, o da esfera íntima ou singular que a propriedade privada faz desabrochar, para desatar nós e desimpedir constrangimentos que
bloqueiam a sociedade que, tal como a nossa mas pela inversa ameaçam as
perspetivas de desenvolvimento futuro.
As perspetivas de
desenvolvimento entendendo-se este como pacífico e cada vez mais exponencial
sob pena de estarmos na iminência de uma monumental rutura de dimensões
catastróficas para não dizer apocalípticas.
Um país, dois sistemas!
Como cheguei a sonhar
aprender a jogar bridge, imagine, com
Deng Xiaoping.
Como Vos admiro nos passos
que destes.
Tal como escrevi ao Papa Francisco, falta o quase para a coragem
que falta!
Se o meu Amigo tiver
disponibilidade e a esta minha carta lhe juntar a leitura dos três textos que
neste meu blogue a esta a precedem, Ao Papa E Em Nome Próprio, Ponto De Equilíbrio e Fundamentação,
aliás, em linha com esta carta que a Si Lhe escrevo, ficar-lhe-ia muito grato.
Não sou de ter duas caras,
a realidade é que é, tanto numa como noutra perspetiva, bem mais complexa do
que, à primeira vista, a preto e branco, quantas vezes, a mim me incluindo,
eventualmente, na tentação de assim a ver, nos poderá parecer.
Com as minhas mais cordiais
saudações, felicitando-O uma vez mais, Vosso e com toda a estima
se o comunismo, saltando escusadas etapas, aprendesse com
o cristianismo que, afinal, também o enforma, todos teríamos a beneficiar muito
com isso
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Abril de 2013
interior do Templo do Céu, Beijing
3 comentários:
eu diria
que todos os esforços para direcionar o entendimento entre as confissões, são mui valiosos
e jogar por jogar,
preferia o mahjong e as suas pedras de honra
MANUELA BAPTISTA
Minha Querida,
De acordo mas, Mahjong, mais ou menos, já nós sabemos jogar enquanto bridge, nem tu, nem eu!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Abril de 2013
e o gato e o rato?
muito mais divertido
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