Rafael, Escola de Atenas, 1506 – 1510
No que se escreve existe o
explícito, o escrito propriamente dito e o que ao que escrito lhe fica implícito, o que lhe subjaz nas entrelinhas.
Tal como um desenho, a
escrita pode ser um traçado bidimensional ou com profundidade, o que está para
lá da altura e da largura, da profundidade estrito senso mesmo, o implícito.
O explícito é o explícito,
a evidência.
O implícito é o que está
para lá das evidências, do imediatamente percetível e que é sugerido pelos
contornos, o traçado da própria escrita.
Na escrita, o implícito
não se estabelece à vontade de cada qual, antes a partir daquilo que a própria
escrita sugere ou permite elaborar.
A evidência, o explícito
está na cara, é evidente e perdoem-me o pleonasmo e o implícito interpela o
leitor, exige-lhe o esforço de, a partir do seu traçado, do traçado da escrita,
ir para lá dele e dar-lhe, chegar-lhe ao conteúdo, ser coautor interativo
juntamente com o autor que ao escrito o concebeu.
O implícito exige do
leitor que em simultâneo, num esforço interpretativo, à escrita a complemente
do que dela se depreende.
O escrito é o que escrito
está, o visível e não obriga a mais do que à passividade que nada ou quase
nada senão a soletrada leitura retém.
O não escrito é muito mais
do que o escrito, é o invisível e obriga à atividade retentora, redentora mesmo
de quem lê.
A eficácia do implícito
ultrapassa em muito a ineficácia unidimensional do explícito sendo certo que na
escrita como em tudo, sem o explícito, a forma, não se chega ao implícito, o
conteúdo.
O explícito é o imediato,
a sombra e o implícito, sendo o mediato, a luz, não se compadece com a vertigem
da informação.
o implícito é o pano de fundo, o silêncio em que a palavra,
iluminando-se, ganha música
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Outubro de 2013
5 comentários:
Kriu?
A minha palavra ganha asas... Sempre!
Kriu!
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. o explícito está para a forma como o implícito está para o conteúdo . "quasi" sempre . :) .
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. abraço.O .
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A esta hora é evidente que já tenho fome, está bem explícito no meu rosto afunilado...
o implícito na literatura, sim
como forma poética, para o outro imaginar e desenvolver
em política, para mim, nada é explícito
agora aquelas pessoas que só falam por implícitas palavras, e dizem, estás a ver? e nós não estamos a ver nada
se lhe associarmos uma cotovelada, então, eu abomino-as explicitamente
:)))
eu tenho uma vertigem de informação,
quando implícito gatos lá fora
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