Há uma margem estreita
entre os fundamentalismos, com todos os choques e horrores que potenciam que
importa vencer, por um lado e, por outro, a abertura plena.
Os fundamentalismos são o
que são, interpretações literais dos textos sagrados, por isso mesmo, falsas e
vazias, ocas de conteúdo e, logo, despidas das dimensões da fé, sem pensamento
crítico acrescentado.
Quanto à abertura plena …!
A abertura plena não
corresponde, longe disso, a fazer tábua rasa dos Textos que o mesmo quer dizer
escamotear, pura e simplesmente, o que Neles está escrito.
Não, não corresponde a
isso e ainda que nos Textos não se acredite.
Corresponde, isso sim, a
partindo-se Deles, do que nos Textos está escrito, interpretá-los em perspetiva,
não escamoteando, tão pouco, a perspetiva histórica, não é por acaso que os
fundamentalismos não convivem bem com a memória histórica, perspetiva essa que aos
Textos os justifica e, também, explica mas acrescentando-lhes o que a partir
dessa mesma perspetiva, na atualidade, na modernidade se projeta.
A abertura plena
corresponde a aos Textos somar-lhes as perspetivas histórica e analítica
tão deficitárias.
Interpretando-os em
constante movimento que o mesmo quer dizer vivos como Eles deveriam ou têm de
estar na interioridade de cada um de nós e nem que mais não seja como
exuberantes poemas.
Relativismo absoluto?
Não porque, repito, não
devem ser escamoteados ou obliterados na sua letra de forma.
Relatividade, sim mas como
em todas as fórmulas, nelas incluída aquela da relatividade, o bico-de-obra
está na sua interpretação.
Na estreita mas
larguíssima margem que à interpretação a contempla.
Há um pote escondido onde
o arco-íris desagua e no qual se deposita um secreto tesouro.
Tão mais secreto quanto,
escancaradamente, o arco-íris assinala a sua localização.
Turning point.
Ponto de viragem e nesse
ponto o rubicão à passagem.
Passagem para uma outra
margem onde sem fazer tábua rasa do que quer que seja e sem a nada o
escamotear, é intencionalmente que repiso estas palavras tudo fica, de novo,
por abrir e reequacionar.
Em liberdade e como a
Liberdade.
Que construção essa mais
frágil mas potenciadora de energia.
De energias renováveis tal
como dia a dia o faço em tudo o que escrevo sempre em aberto ou não haveria
abertura e aplicado, aliás, à nossa vida em comum.
Nem de outro modo os
Textos, todos os textos sagrados, moldando-nos, sem essa estreita mas larguíssima margem de Liberdade ou abertura,
teriam chegado até aos nossos dias.
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Abril de 2016