sexta-feira, 29 de abril de 2016

A PROPÓSITO DO DÉFICE DE ESPERANÇA II




uma vez mais por mão própria e para que conste








ou será que, pelo contrário e na medida em que não paro de alimentar a esperança, assim sendo, o Institucional, implicitamente, deduziria que em relação a mim próprio se poderia descartar de a alimentar?

nessa duplicidade de critérios, então e porque no singular se revê o inteiro, o Institucional mais não faria do que apartar o um de si mesmo com todas as consequências que, acentuando o défice de esperança que reconheceria querer combater, mais e mais o cava e, em crescendo, à Democracia a periga e fragiliza



deve e haver têm, entre si, uma relação dialética, porosa e, logo, comunicante













Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Abril de 2016




terça-feira, 26 de abril de 2016

A PROPÓSITO DO DÉFICE DE ESPERANÇA I




uma vez mais por mão própria e para que conste







se há vinte e sete anos alimento a esperança porque não paro de o fazer em cada um dos textos que escrevo e o institucional, finalmente e ao seu mais alto nível, nele reconhece existir um défice de esperança a suprir, sob pena de as palavras não passarem de inconsequente retórica, então e perante um tal reconhecimento que tamanho e qualitativo défice para comigo o Institucional não deverá saldar?















Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Abril de 2016




segunda-feira, 25 de abril de 2016

FUGA




Wassily Kandinsky, Fugue, 1914









para lá da politics ou da política do dia a dia, do económico ou do financeiro, a Liberdade reside na capacidade de fuga que se saiba preservar sem, todavia, perder o pé

a capacidade de fuga é a respiração que à Política como à Arte e a política é uma arte, à criatividade que mesmo na política, como arte que é, é cada vez mais imprescindível, as alimentam

essa capacidade de fuga ou respiração só o tempo a pode testar e eu desafio quem quer que seja, no meu caso, a contraditá-la



fugindo, intencionalmente, a estereótipos, a propósito do 25 de Abril de 1974













Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Abril de 2016




segunda-feira, 18 de abril de 2016

AINDA SOBRE A LIBERDADE




desenho de Manuela Baptista







a Liberdade começa na margem que a partir do que se escreve é concedida à interpretação

se essa margem for grande, em aberto, diria, então a Liberdade concedida atinge a sua plena maturidade

se, pelo contrário, essa margem não existir, reduzindo-se ao preto ou ao branco sem dar lugar à interpretação e do texto, portanto, não se projetarem entrelinhas ou conteúdos implícitos a partir dele sugeridos, o que se escreve é pobre, redutor, agrilhoado e mesmo que se lhe façam juras de fidelidade será
 avesso à Liberdade

a Liberdade, logo no que se escreve, dá muito mas mesmo muito trabalho













Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Abril de 2016







sábado, 16 de abril de 2016

DA MÁ E DA BOA NOTÍCIA




memory box





Se um jornalista se pusesse a investigar o que vou escrevendo desde os seus mais recuados meandros, investigar no duplo sentido de lhe seguir o rasto o que, aliás, não seria assim tão difícil de fazer uma vez que as pistas, às claras, são todas dadas, por um lado e, por outro lado, de medir o alcance dos seus conteúdos, a que conclusões ele não chegaria?
Mas esse tipo de investigação, tá quieto ó mau, dá muito trabalho logo a começar pela análise e interpretação dos meus documentos e não é certo que, sem mais, se venda a informação recolhida.
Vender-se-á ou não?
Na verdade ainda ninguém me conseguiu explicar porque é que só a má ou supostamente má notícia é que faz manchetes.
Eis uma das maleitas ou tabus que ainda hoje inquina o filtro mediático, aliás, com pesados custos para todos nós.



a crise não é apenas a resultante de fatores objetivos, os subjetivos relacionados com os critérios mediáticos têm nela maior peso do que alguma vez se poderia pensar













Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Abril de 2016 




quarta-feira, 13 de abril de 2016

PAPEIS













Há papeis e papeis.
Sendo todos bem vindos há papeis que denunciam, há papeis que decretam e há papeis que fazem mexer.
Há papeis que criam factos políticos, longe de mim duvidar que assim seja e que contribuem, até, para a transparência dos sistemas.
Há papeis que falam em nome próprio como são os meus por maior ou menor impacto não concertado que possam gerar.
Há papeis que da montanha deles, concertadamente e a conta-gotas disponibilizados a lembrar uma gigantesca manobra de marketing mediática, para lá das aparentes cortinas de fumo que trazem a lume, mais parecem parir, sobretudo, ratos.
Peixe miúdo é o que é e pode sempre conduzir a peixe graúdo ou será que somos todos mais impolutos do que, alguma vez, se pensaria?
O tempo e as investigações o dirão mas a Política tal como a Democracia, se não podem ficar reféns da economia nem das finanças, também não o podem ficar de justicialismos.

Eu não duvido que a corrupção que a montante quando não a juzante se entronca com os mais abomináveis tráfegos e com o terror, pela denúncia e pelo decreto dos esquemas que, mais do que ilícitos espezinham a ética e delapidam os patrimónios públicos e privados, eis aqui as vantagens de todos os Panama Papers, possam e nem que mais não seja, contribuir para a criação de condições globais de transparência e verdadeira licitude.
Mas que consequências apriorísticas deles retirar?
Na minha ótica a consequência central só pode ser uma:
Se é, sobretudo, pelo exemplo que se combatem todas as opacidades, então, que não se deixe de reconhecer o exemplo de quem, pela transparência, sacrifício pessoal em nome da causa pública como pública é a minha causa, ao longo de anos e anos a fio, não se deixa intimidar nem corromper.

Papeis.
Papeis há muitos mas os meus falam, escrevem por mim.
Nunca percebi, ainda hoje o não percebo, porque é que para atrair os melhores para a política, não vão cair em tentações, se lhes deve pagar a peso de ouro.
Por mais bem pago que se seja, a ganância, é isso que a define, nunca se satisfaz.
E a generosidade, qualidade ímpar do político, neste contexto onde é que fica?
A generosidade que explica como cheguei até aqui?
Sim, onde é que fica?
Na certeza de que a liberdade de investigação e de expressão são bens inestimáveis, papeis há muitos mas há papeis, virtuais mas pouco que falam, escrevem por si e sem quaisquer cartas ou opacidades escondidas na manga.
E a esses papeis, sem prejuízo nem desqualificação para todas as denúncias, também se devia, sobremaneira e concertadamente, quais incentivos, inputs positivos, catárticos, social e politicamente, valorizar.
Esperemos que os Panama Papers tenham, pelo menos, um efeito dissuasor.














Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Abril de 2016






segunda-feira, 11 de abril de 2016

NOVO PADRÃO




a rocha, meu escudo ou meu padrão







Que significado atribuir quando, de súbito e ainda que discreta porque privadamente, as mais altas instâncias do poder democrático e que eu não posso, senão, salvaguardar, ao que escrevo começam a enviar-me, contida mas expressamente, o seu próprio e positivo feedback por sua via se alterando um padrão ao qual e há tanto tempo já me habituara, aquele do silêncio sem que, por tal facto, ao longo dos anos me tivesse deixado corromper, intimidar ou demover nos meus propósitos?
Nunca me deixei corromper, intimidar ou demover, frise-se, ciente ou consciente porque, inclusive, capaz de distanciar-me de mim mesmo e, portanto, de medir o alcance do que vos vou escrevendo.
Mas há um padrão que sub-repticiamente se começa a alterar.
Pergunto, de novo, como o interpretar?

Acontece, até, a personalidade institucional, não a sua página pessoal mas a institucional, pedir-me amizade no facebook.
Coisa comum?
Não, não me parece nada comum.
Habitual, quanto muito, é o cidadão comum, esse sim, pedir amizade ao institucional e não o contrário.
Uma vez mais, repito, como interpretar esses sinais?

Porque o que escrevo mexe com quem me lê, estou em crer que os meus textos já não se conseguem conter entre as portas daqueles que também são os meus destinatários, refiro-me aos institucionais e dos mais diversos quadrantes político-parlamentares calando-lhes fundo, isto é, impressionando-os ao ponto do movimento que os meus documentos desencadeiam já me chegar, diretamente, até mim.
E estes novos dados, porque paulatinamente se vão repetindo, já prefiguram um novo padrão de reação.

Na certeza de que em relação a alguns desses destinatários institucionais o padrão que se prefigura indiciará mesmo que já estarei na sua agenda, que mais se seguirá?












Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Abril de 2016





sexta-feira, 1 de abril de 2016

ESTREITA MARGEM













Há uma margem estreita entre os fundamentalismos, com todos os choques e horrores que potenciam que importa vencer, por um lado e, por outro, a abertura plena.
Os fundamentalismos são o que são, interpretações literais dos textos sagrados, por isso mesmo, falsas e vazias, ocas de conteúdo e, logo, despidas das dimensões da fé, sem pensamento crítico acrescentado.
Quanto à abertura plena …!

A abertura plena não corresponde, longe disso, a fazer tábua rasa dos Textos que o mesmo quer dizer escamotear, pura e simplesmente, o que Neles está escrito.
Não, não corresponde a isso e ainda que nos Textos não se acredite.
Corresponde, isso sim, a partindo-se Deles, do que nos Textos está escrito, interpretá-los em perspetiva, não escamoteando, tão pouco, a perspetiva histórica, não é por acaso que os fundamentalismos não convivem bem com a memória histórica, perspetiva essa que aos Textos os justifica e, também, explica mas acrescentando-lhes o que a partir dessa mesma perspetiva, na atualidade, na modernidade se projeta.
A abertura plena corresponde a aos Textos somar-lhes as perspetivas histórica e analítica tão deficitárias.
Interpretando-os em constante movimento que o mesmo quer dizer vivos como Eles deveriam ou têm de estar na interioridade de cada um de nós e nem que mais não seja como exuberantes poemas.

Relativismo absoluto?
Não porque, repito, não devem ser escamoteados ou obliterados na sua letra de forma.
Relatividade, sim mas como em todas as fórmulas, nelas incluída aquela da relatividade, o bico-de-obra está na sua interpretação.
Na estreita mas larguíssima margem que à interpretação a contempla.
Há um pote escondido onde o arco-íris desagua e no qual se deposita um secreto tesouro.
Tão mais secreto quanto, escancaradamente, o arco-íris assinala a sua localização.

Turning point.
Ponto de viragem e nesse ponto o rubicão à passagem.
Passagem para uma outra margem onde sem fazer tábua rasa do que quer que seja e sem a nada o escamotear, é intencionalmente que repiso estas palavras tudo fica, de novo, por abrir e reequacionar.
Em liberdade e como a Liberdade.
Que construção essa mais frágil mas potenciadora de energia.
De energias renováveis tal como dia a dia o faço em tudo o que escrevo sempre em aberto ou não haveria abertura e aplicado, aliás, à nossa vida em comum.


Nem de outro modo os Textos, todos os textos sagrados, moldando-nos, sem essa estreita mas larguíssima margem de Liberdade ou abertura, teriam chegado até aos nossos dias.














Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Abril de 2016