sexta-feira, 1 de abril de 2016

ESTREITA MARGEM













Há uma margem estreita entre os fundamentalismos, com todos os choques e horrores que potenciam que importa vencer, por um lado e, por outro, a abertura plena.
Os fundamentalismos são o que são, interpretações literais dos textos sagrados, por isso mesmo, falsas e vazias, ocas de conteúdo e, logo, despidas das dimensões da fé, sem pensamento crítico acrescentado.
Quanto à abertura plena …!

A abertura plena não corresponde, longe disso, a fazer tábua rasa dos Textos que o mesmo quer dizer escamotear, pura e simplesmente, o que Neles está escrito.
Não, não corresponde a isso e ainda que nos Textos não se acredite.
Corresponde, isso sim, a partindo-se Deles, do que nos Textos está escrito, interpretá-los em perspetiva, não escamoteando, tão pouco, a perspetiva histórica, não é por acaso que os fundamentalismos não convivem bem com a memória histórica, perspetiva essa que aos Textos os justifica e, também, explica mas acrescentando-lhes o que a partir dessa mesma perspetiva, na atualidade, na modernidade se projeta.
A abertura plena corresponde a aos Textos somar-lhes as perspetivas histórica e analítica tão deficitárias.
Interpretando-os em constante movimento que o mesmo quer dizer vivos como Eles deveriam ou têm de estar na interioridade de cada um de nós e nem que mais não seja como exuberantes poemas.

Relativismo absoluto?
Não porque, repito, não devem ser escamoteados ou obliterados na sua letra de forma.
Relatividade, sim mas como em todas as fórmulas, nelas incluída aquela da relatividade, o bico-de-obra está na sua interpretação.
Na estreita mas larguíssima margem que à interpretação a contempla.
Há um pote escondido onde o arco-íris desagua e no qual se deposita um secreto tesouro.
Tão mais secreto quanto, escancaradamente, o arco-íris assinala a sua localização.

Turning point.
Ponto de viragem e nesse ponto o rubicão à passagem.
Passagem para uma outra margem onde sem fazer tábua rasa do que quer que seja e sem a nada o escamotear, é intencionalmente que repiso estas palavras tudo fica, de novo, por abrir e reequacionar.
Em liberdade e como a Liberdade.
Que construção essa mais frágil mas potenciadora de energia.
De energias renováveis tal como dia a dia o faço em tudo o que escrevo sempre em aberto ou não haveria abertura e aplicado, aliás, à nossa vida em comum.


Nem de outro modo os Textos, todos os textos sagrados, moldando-nos, sem essa estreita mas larguíssima margem de Liberdade ou abertura, teriam chegado até aos nossos dias.














Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Abril de 2016




2 comentários:

manuela baptista disse...

é isso mesmo, Textos vivos na interioridade de cada um de nós!



. intemporal . disse...

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. entender a Palavra sacra como uma dádiva e a janela escancarada sobre a filosofia . é urgente .

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. um abraço .

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