quarta-feira, 11 de maio de 2016

DO CINZENTISMO DO (I)MEDIÁT(O)ICO




Gertrud Richter, 1917







Tirando essa doença pública inenarrável a que chamaria futebolite que sequestra, monoliticamente, canais públicos e privados de informação e para lá das catástrofes humanas e naturais que estão sempre a acontecer para as quais, por saturação, há um limite de receção, a velocidade a que se processa a informação e na ausência de investigação jornalística que se preze é de tal ordem que a partir da especulação ou da não notícia, ela própria, quantas vezes, cria a informação.
Excetuando, portanto, as catástrofes referidas, a informação corre o sério risco de se transformar em pseudoinformação, em si mesma o inexistente facto que se pretenderia noticiar.

Quanto aos critérios que permitem classificar um facto digno de ser noticiado, na matriz informativa, por natureza quando não por deformação, não isenta e desconfiada a que não é alheio aquilo a que chamaria o síndroma Watergate hoje, ainda, prevalecente, há clichés ou estereótipos de que se parte cuja assertividade, no entanto, me permito questionar a saber, o poder inerente a esse facto:
Poder económico, poder financeiro, poder circense, poder das ruas ou das corporações, poder da fama, poder político e à volta deles, sempre à volta de quaisquer desses poderes que se tomariam como decisivos e desde sempre adquiridos sem lhes ir à sua própria génese, parte-se desses clichés e está tudo dito:
Sendo qual seja cada um desses poderes, em si mesmos e pelo facto de o serem, potenciam-se em notícia.

Assim, a informação, melhor, o espetáculo degradante da pseudoinformação prevalecente, numa luta sem quartel e tanto maior quanto mais as redes informáticas se alastram e se impõem corre célere, a mais das vezes, critério supremo para fazer circular a dita informação, pelos piores motivos neles incluídos o empolamento que sempre lhe merecem fenómenos xenófobos e populistas de toda a casta ajudando-os, não intencional mas objetivamente, a singrar.
São eles, esses piores motivos e como já escrevi antes que fazem, por regra, a notícia.
A pseudoinformação ou o filtro (i)mediát(o)ico, o cinzentismo de que falo e que nos atola, esquece-se, porém, de um poder muito simples que à própria informação, implicitamente e por definição, lhe preside:
Que poder ela não tem e tanto mais quanto, sem baias nelas incluídas aquelas da concorrência desenfreada que à pseudoinformação a norteia, em liberdade que se desejaria plena!
E esse poder parte do nada, do quase nada que provém de quem a profere ou da vibração musical que a própria palavra emite, de quem a escreve ou diz ou do nada irrelevante, que poder o não terá, do que por ela, tendo sido feito, feito está.


Esse poder como giz
ao apagador o desdiz

O apagador é, aqui, o rolo compressor imediato do mediático onde à esperança que a mesma quer dizer confiança, com constrangedora parcialidade, não lhe é concedida qualquer soberania.



este meu texto publico-o na sequência de dias e dias, semanas a fio em que para lá das eventuais catástrofes enunciadas acima e da especulação desenfreada em busca de notícias, na ausência de investigação jornalística digna desse nome, nada mais terá acontecido, sinal de que, quiçá, muito haveria para contar como, por exemplo, a realização deste concerto digno de todas as parangonas mas que passou, pratica e intencionalmente, contra propagandisticamente desapercebido



PERGUNTA  DO  PAPA  E  RESPOSTA  DA  EUROPA ( MINHA )



- Contorcendo-me e recriminando-me, persisto em virar as costas a mim mesma! -











Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Maio de 2016





1 comentário:

manuela baptista disse...

o mundo saturado de informação

em que o que importa, não é mencionado


muito bem!