quinta-feira, 15 de março de 2012

CEGO, SURDO E MUDO - I -




Escrevo este soneto surdo e mudo
cego ao que me chega e não é tudo
preso ao que a cantar num dedilhar
vos trago para lá de um triste olhar

Se vê aquilo que canto é um radar
que vê mais do que vejo por pensar
nas ondas deste mar encapelado
que a todos nos atingem lado a lado

Se ouve o que não ouve quero e mudo
aqui neste lugar sem ter lugar
as coordenadas rígidas deste fado

Se canta não se ouve mas ao teu fardo
mais leve o quer tornar quer sejas surdo
ou mudo ou cego inspira-me o meu estar


 

aos que da ausência destes sentidos padecem
e numa paralisia anestésica


 
escrito ontem de madrugada sem outra música que não esta


 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Março de 2012

2 comentários:

manuela baptista disse...

muito bonito!

talvez haja luz
depois do túnel

Mª João C.Martins disse...

Jaime
Meu anigo

E o que nos traz, do triste olhar É tanto, e muito mais que o velho fado.
Pode ser mudo e surdo o despertar
Mas sem o ler, não se lê tudo.