segunda-feira, 16 de abril de 2012

QUANDO

Friedrich von Schiller ( 1759 — 1805 )




Quando, na página anterior e que aqui retomo, um conjunto de 10 000 pessoas interpreta a Ode da Alegria, fico a pensar em quem à ode de Schiller, Ode An Die Freude e hino da Europa a abraçará com maior convicção:
Os europeus ou, no caso, os japoneses?
Esta pergunta poderia ser feita na inversa, isto é, quem na Europa, com igual rigor não apenas musical em sentido estrito mas também naquele da convicção, da pronúncia e da língua, a um qualquer tema japonês equivalente seria capaz de, assim, o interpretar?
Quem?

Por outro lado, quem, na Europa, a esta mesma ode a interpretaria com tal força, vigor e monumentalidade e sem prejuízo, tão pouco, do seu rigor musical?

Estas perguntas que aqui levanto não são, propriamente, casuísticas …
Para ser franco, até me dá a sensação de que com ela, com esta massiva interpretação e independentemente do contexto que a ela presidiu, o extremo oriente de nós próprios a nós nos faz um ingente apelo a que acordemos da nossa letargia.
Da nossa própria decadência …!

Tudo o que aqui escrevo assume ainda maior relevância quanto, para mais, esta é uma performance habitual da Daiku, da Nona Sinfonia, assim lhe chamam os japoneses, levada a cabo todos os anos e mais ainda quando esta, em particular, foi dedicada em homenagem às vítimas do terramoto e do tsunami que se lhe seguiu, o ano passado, no Japão e que é nesse contexto que surgiu aquilo que, aqui, nos é dado ouvir e a pergunta torna-se, então, ainda mais pertinente:
Seríamos nós, europeus, em idêntico contexto, capazes de tamanha ousadia? 

Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos dá beijos e as vinhas
Um amigo provado até a morte;
A volúpia foi concedida ao verme
E o Querubim está diante de Deus!

… canta Schiller a dado passo e que tem a Europa, hoje e diante do tsunami económico e financeiro que a abala, uma simples brincadeira quando comparada com a catástrofe que assolou o Japão, a oferecer ao mundo e a si própria também?

Que tem a Europa a oferecer ao mundo para lá da triste prestação que desempenha confinada às salas de concertos?
Confinada à retórica que tarda em se traduzir no terreno?
Impotentemente fechada sobre si mesma?
Calando o que o mundo dela canta e em que deixou de acreditar?
Ou acredita!?

Quando, quando voltará a Europa a cantar os valores que ela própria, de si mesma comiserada, contribuiu para fazer despertar?
Resolvendo o luto das barbáries que, pelos piores motivos a celebrizaram e a que se confinou?
Num mundo em que se integre, seja parte entre iguais e contribuição ativa para a Paz, isto é, para a Liberdade, a  Igualdade e a Fraternidade, a Alegria de que, ela também,  não poderá, jamais, abdicar?

Quando!?



que Europa é esta




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Abril de 2011

4 comentários:

ARFERLANDIA disse...

A melodia e o sabor da palavra
na ode à Liberdade. O ouvir e o ler,
Trazem consigo o "recado"
Para quem quiser entender,
que o bem mais precioso e o SER,
a crise é de valores (o TER).
A vida é composta de mudança
e se a PALAVRA não bastar
vigora em nós a Esperança
de que algo há~de mudar.

Um abraço
Gostei!!!!

ARFER

ki.ti disse...

Imagina dez mil gatos europeus a miar assim!

manuela baptista disse...

a europa tem-me a mim

um dia, não abdicaremos de nada

quando, não sei

Hanaé Pais disse...

Muito interessante o texto, voltarei mais tarde para comentar.