Paula Rego, Natividade
Tal como na gestação e no
ato de parir há, na sua génese e no ato de criação artístico, com os primeiros,
vincadas similitudes.
Em ambos os casos de nós
se desprende um ângulo ímpar que conhece a luz do dia e ganha autonomia e esse
ato não é nem inócuo, nem indolor, nem pacífico.
Sendo um ângulo ímpar que
de nós mesmos se desprende e aos outros se oferece, o ato de criação artístico
disponibiliza o que antes dele não estava acessível.
É um ato que acrescenta
tal como, igualmente, uma nova vida que nasce mais ainda acrescenta.
Com ele vê-se o que antes
dele não se antevia e o que se vê soma valor.
Somatiza ou procria e
faz-se, ele também, acompanhar de sintomas psicossomáticos em muito idênticos
aos daqueles associados ao ato de parir e a tudo o que na sua gestação já o
precede e prepara.
Vertigem, estado de graça,
náusea e quantas vezes dor, não tanto física mas psíquica e que a ambos os
acompanham.
O ato de criar tal como
aquele de parir, o de dar à luz não é gratuito.
Ambos saem da pele e são
cobrados.
Realizam, é certo.
O ato de criar, tal como
para a mãe o filho que nasce, é aquele de, a ele somando-se-lhe toda a sua
génese, dar à luz o filho do artista.
O que pelo ato de criar ou
de, melhor dizendo, recriar conhece, por fim, a luz do dia desapegando-se do
artista, no entanto, vincula-o.
Tal como uma filha ou um
filho aos pais, sobremaneira, também os vincula.
E o que pelo ato de criar
ou de parir é concebido, tanto num como no outro caso, replica-se, reproduz-se aos
olhos de quem os admira.
Ganha vida própria e
floresce.
Na sua exposição o ato de
criar alimenta-se, engrandece-se, robustece-se.
O ato de criar tem uma
religiosidade muito própria:
O ato de criar é uma
metafórica parição e nessa parição há uma aparição que se desencadeia.
É um do nada ser que tudo
é.
O ato de criar é uma
desfloração tão imaculada quanto a mais casta das fecundidades.
O ato de criar é como ter
um filho fazendo-o sem o ter feito porque ele já se anunciava e aquilo que dele
resulta, porque é da Obra de Arte que escrevo e tal como a vida, ganha a
eternidade.
Entre esta e aquela outra
Eternidade não há assim uma tão grande diferença.
Ou se merecem e se
contemplam ou da contemplação, o ato de criar, não o sendo, dela não é
merecedor.
no ato de criação a génese da vida
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Novembro de 2013
4 comentários:
este,
é o Auto da Criação
a música, soberba
Kriu!
Apesar de contar já com três ovos neste ninho, improvisado por mim própria, sabes perfeitamente que prefiro sempre os desacatos a quaisquer atos que aqui possas explanar!
Porque, para mim, querido Jaime, não ter limites, é ter a perfeita noção de uma vida em pleno, que se quer melhor e para sempre...
Sei que não concordas comigo, mas olha, paciência, temos pena(s)...
Kriu!
Não ligues, Jaime, a Kika não sabe atender o telefone...
.
.
. a Criação . Jaime . é o produto da existência . se existe . Cria . e cria .
.
. um ronco de dentro . um sopro . uma brisa ou aragem . a Criação É . simplesmente . e . em tudo/todo o "resto" composta . :) .
.
.
. uma boa semana .
.
. abraço .
.
.
Enviar um comentário