George Frederic Watts, Hope, 1886
E se eu parasse de
escrever?
Deixaria de existir?
Perder-se-ia tudo o que
até aqui e do porquê do que escrevi?
Será que tudo o que até
aqui escrevi deixaria de fazer sentido?
Tornar-se-ia irrelevante?
Estas são interrogações que
me fazem, com denodo, prosseguir na escrita.
Como se uma réstia de
esperança, pela interrupção da escrita, se esvaísse.
Esfumasse de vez.
Réstia de esperança.
Esperança em quê?
Em que a força da palavra
prevaleça, em tempo de vida útil, sobre a palavra da força.
A força da palavra sobre a
palavra da força.
A que me refiro eu?
Refiro-me à força, ao
poder congruente das convicções expressas independentemente da palavra do poder,
da força.
Do peso da sua expressão
pública.
Da expressão pública ou da
força de mandatos, da adesão que ela, a palavra suscite num determinado momento
na certeza, contudo, que ela, a força da palavra não atropele, viole ou esmague
essa mesma força de mandatos ou adesão públicos e refutando inevitabilidades.
Que não viole as regras do
jogo democrático o que pressupõe, sublinho, a força que ela, a palavra, em
Democracia, de per si, possa e deva ter.
A força da palavra.
Aquela que deriva, tão só,
da argumentação despendida em que a Democracia, tão esquecida, maltratada ou
subvertida que é esta sua outra face, assenta.
E se eu parasse de
escrever?
Que seria da luminosidade em que
circulo?
Se eu parasse de escrever
o que seria de mim?
se deixasse de escrever
a vontade ditaria
não deixes esmorecer
o que te dá fantasia
E fantasio.
Impenitente, fantasio que
a força da palavra prevalecerá sobre a palavra da força.
Que esta, a palavra, não
se limita a ser um mero fator estatístico a ter relevância em função do seu
peso aritmético.
E nesse subtil,
evanescente recanto me aninho, resguardo e persevero.
como ato libertador de criação, escrever é viver
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Novembro de 2013
5 comentários:
se parasses de escrever,
deixarias de ser quem és
mas algures alguém escreveria, e assim por diante até um dia
e seria de festa esse dia
bonita a música!
ninguém te aturava!
Kriu!
Decerto terias mais tempo, para ajudares na lida da casa, não é, Jaime?
Porque limpares apenas o pó, não eleva a argamassa ao andaime!
Kriu!
Se parasses de escrever,
Eu permaneceria permanentemente onde estou,
Porque tu, já te estou a ver,
A implicares com este tanto que eu também sou!
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. quem escreve descreve e inscreve . a eternidade neste tempo breve . a memória como História . e toda a escória . que vá para o diabo que a carregue . :) .
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. abraço.OOO .
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