domingo, 30 de outubro de 2011

LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA - III -





Há um estreito caminho, o da defesa dos direitos humanos, orientado pela geoestratégia global que se confunde com o indivíduo singular e só esse, que urge implementar.
Manter aberto!
Estreito caminho que importa salvaguardar …
Teimosamente percorrer porque só assim esse caminho, com o tempo e na sua constante, legítima e legitimada reafirmação, se alargará!
Um estreito e criterioso caminho de rigor na palavra dada e na sua criteriosa utilização que, persistentemente percorrido com sucesso, fixando metas balizadas na sacralidade, na inviolabilidade da pessoa humana, paulatinamente, o ampliará e ainda que, nos seus estreitos limites, porque há limites para tudo (!), importa sublinhar à outrance o que, em si mesmo, é salvaguardar a soberania individual.
Um estreito caminho …
Um estreito caminho de responsabilidade, ética pública, de congruência na palavra.
Palavra que os políticos ao cidadão comum a dirigem e nem com outro propósito neles ela se justificaria …!
Na globalização ou esfericidade do tempo que percorremos, o macro e o micro confundem-se com o cidadão singular, parâmetro avalizador sem o qual, tudo o mais é irrisório!
Há um estreito caminho …!
Há um estreito caminho em Democracia que se quer cada vez mais integrada e garante desses mesmos direitos que importa defender, para poder ultrapassar a austeridade que não apenas se abate sobre o cidadão comum como se faz, qual espiral infernal ou ciclo vicioso, ainda mais anunciar.
Estreito caminho no qual jogos de palavras e promessas vãs, utilização da palavra sem critério, apenas o estreitam cada vez mais.
Há um estreito caminho!
Caminho esse que perdendo de vista a pessoa humana, com elaborados mas indecifráveis discursos, ao cidadão concreto o aliena mais e mais.
Há um estreito caminho …
E enquanto os agentes políticos democráticos dele não tiverem a aguda consciência crítica pautando-o com o seu próprio exemplo, poderão estar a cavar um fosso intransponível.
Fosso esse que sem dele se darem conta, tão pouco, julgando-se do lado certo da barricada no errado se colocam delapidando a legitimidade democrática!
No rigor e transparência da palavra, há um estreito caminho, caminho esse que, em si mesmo, é respeitar integralmente os direitos humanos …
porque enganar ou confundir já é violá-los!
Na minha precariedade de sempre, termino esta série, ironicamente, fazendo figas para que esse caminho seja percorrido com sucesso!





Jaime Latino Ferreira
Estoril, 30 de Outubro de 2011

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA - II -




Por outro lado, venho chamar a atenção para aquilo que me parece, também e na linha do que escrevi no texto anterior, uma não menos relevante contradição nos termos:
Como será possível, em tese, que quem não tenha negociado embora tenha podido fazê-lo venha, a posteriori, exigir uma renegociação!?
Como!?
Se eu não negociei podendo tê-lo feito, como poderei querer ou exigir renegociar!?
Se eu me abstive, sequer, de conhecer os termos da negociação como se estes, em si mesmos, perniciosamente me   contagiassem de uma malfeitoria qualquer, que autoridade me assiste para exigir uma renegociação!?
Se eu não negociei, o que posso, quanto muito, é negociar e não reincidir no que não negociei o que, verdadeiramente, já foi ultrapassado pela minha própria demissão …
E tanto mais quanto, aliás, se pretende fazer tábua rasa de qualquer negociação tida, anteriormente, por terceiros que ao risco de negociar o assumiram!
Isto para dizer, pura e simplesmente, que quem se recusou a participar numa negociação, demitindo-se, a priori, da responsabilidade de o poder ter feito, perde, eticamente, a autoridade e logo porque se absteve de a assumir, ficando fora do quadro de qualquer renegociação, perde a autoridade, escrevia, de à negociação exigir renegociar.
Isto parece-me claro como a água e não dá para fugir à responsabilidade, qual seja, de uma negociação ficando sempre sem o seu ónus para, por outro lado, julgar poder ter  a pretensão à autoridade da qual, livremente, quem seja se tenha demitido!
E tudo, neste como no texto anterior, para frisar, uma vez mais, a leviandade com que se empregam as palavras …
Pelo que se impõe, no conjunto bem medido destes dois textos, duas chamadas de atenção aos agentes políticos no seu conjunto, da esquerda à direita ou, se quiserdes, dois  avisos à navegação:
1 - A palavra, mais do que um sufrágio e até porque ela entronca com a representatividade, é fogo que arde sem se ver e que, conforme seja utilizada, credibiliza ou descredibiliza a Democracia!
2 - A palavra, tanto no que se promete em vão como na incongruência e falta rigor com que seja utilizada, fere a Democracia na sua legitimidade:
A falta à palavra dada e tanto mais quanto proferida por um responsável político numa escola e a uma criança, se mina a autoridade dos professores enquanto agentes do processo educativo, fecha uma janela de esperança que a Democracia promete;
Tal como a falta de rigor na gramática, se cria todas as confusões, apenas isso (!), não resolve problema algum!





Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Outubro de 2011

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA - I -



no rescaldo de mais uma Cimeira da União Europeia e não assim tão a despropósito, uma reflexão sobre o falido paradigma das promessas vãs e da incongruência na palavra


De dois dos factores que aferem da legitimidade democrática de um determinado candidato ao desempenho de um cargo político, apenas um deles é tido, automaticamente, em linha de conta:
Aquele que resulta do escrutínio que deriva da aplicação do  sufrágio secreto e universal.
Este é, como sabemos, uma incontornável ferramenta sem cuja aplicação, em rigor, não se pode falar de democracia representativa e em relação a ele, julgo, estamos conversados.
Mas ele há um outro factor que, normalmente, não é tido em linha de conta e, sempre que possível, com a força de lei de aplicação imediata que o primeiro tem, a saber:
O cumprimento das promessas feitas em campanha eleitoral!
Quem será que nos dias de hoje as cumpre e tanto mais quanto se agravam as perspectivas de crise generalizada quanto aquelas com que nos confrontamos e que levam mesmo ao desmoronar daquelas que eram tidas como conquistas irreversíveis e que a  própria gestão política desregrada faz, quantas vezes, perigar!?
O escrutínio do incumprimento das promessas feitas, com igual força de lei e tal como o sufrágio secreto e universal, deveria, pelo exemplo, sempre que possível e de pronto, determinar o destino do político eleito por via deste último.
Até porque o incumprimento da palavra dada esvazia de legitimidade e, logo, de representatividade o próprio contracto estabelecido entre o eleito e o eleitor e já para não falar na abstenção que, à palma de tantas expectativas goradas, cresce ferindo, por si mesma, a legitimidade dos próprios sufrágios!
Dir-se-á que o sufrágio seguinte funcionará como a prova de fogo aferidora desse mesmo cumprimento ou incumprimento mas, entretanto …
Entretanto a memória esquece, a palavra desgasta-se, a confiança mina-se e o afastamento entre eleitos e eleitores acentua-se na erosão provocada por essa mesma quebra de confiança!
Confiança tão em tamanho défice e, estou em crer (!), raiz de tantos outros défices e dívidas por saldar …!
Entretanto e ainda, as campanhas eleitorais, nas dinâmicas circenses que geram, transformaram-se, desde há muito, em momentos propícios a tudo menos à verdadeira reflexão sobre aquilo que está em causa.
Nelas passa-se de tudo menos verdadeiro esclarecimento:
Oportunismo, demagogia, populismo, caciquismo, em suma, não uma campanha eleitoral austera, responsável, adulta e esclarecida mas, apenas, eleitoralismo no pior dos sentidos que a palavra possa ter  …!
Quem se atreverá, interrogo-me, a contradizer-me!?
E assim se subvertem na forma como no conteúdo esses dois factores, a força da palavra e a expressão pelo voto sem os quais não se pode, em rigor, falar de Democracia e  implementá-la de tal modo que seja contrariada a distância que se cava mais e mais entre eleitos e eleitores, situação que ajudará e de que maneira a explicar o ponto a que chegámos.
Com força de lei deveria passar a valer como já vale:
Por um voto se ganha e por um voto se perde!
Mas também:
Pela palavra dada se fica como, no seu pronto incumprimento, automaticamente, se põe o lugar à disposição!
Aí sim, abstendo-se os candidatos de promessas vãs e perpassado que fosse o debate de ética republicana, seria recuperada a confiança que aos políticos e a quem os elege, porém, ao arrepio da ética e esvaziando-se de confiança, os torna reféns da especulação que os cavalga!
Finalmente:
Diz a voz do povo que já ninguém acredita nas promessas dos políticos …
Assim sendo, porque insistem estes em continuarem,  gratuitamente, a fazê-las!?











Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Outubro de 2011

terça-feira, 18 de outubro de 2011

SE NESTE ESPAÇO

Cruzeiro Seixas



Não pensando em nenhum país em particular
mas em todos no seu conjunto
sublinho
exalto
estimulo o entendimento europeu

Se neste espaço onde a música brota como manancial comum e universal
os seus membros constituintes não são capazes de se entender entre si
arrastando-se
para o pior
uns atrás dos outros
que entendimento esperar no contexto planetário 

Se neste espaço
cada qual pensar apenas em si mesmo ou obrigar o conjunto daqueles que o constituem a decisões unilaterais
que sobrará da música
traço constituinte que o molda

Se neste espaço
a música não prevalecer como sua marca identitária nos caminhos por ela desbravados
que inconsequência entre o que nele foi criado e essa realidade movediça
enganadora que à Europa a cega e diminui para desapontamento geral 

Para retrocesso dos que cá estão e dos vindouros 

Se este espaço
em si mesmo
definhar
que poderemos esperar

Ouvi
ouvi a música seu património e sendo seu do universo
e aplacai o ruído que se faz sentir e que a todos nos constrange e aflitivamente sacrifica 

Amo a Europa
porque amo a grandeza da sua alma vagabunda
a sua verdadeira viagem
a sua música




expectante e numa das línguas constituintes da Europa, fico a aguardar a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Europeia do próximo dia 23 de Outubro


 





Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Outubro de 2011

domingo, 16 de outubro de 2011

E AGORA

Cruzeiro Seixas


E agora 
Onde fica essa janela de esperança
de oportunidade

Diante dos sacrifícios que são exigidos aos mesmos de sempre
vox populi dixit
onde não sobra a possibilidade de redenção que a Democracia
que não pode ser decapitada
 tem de oferecer

Sob pena de esta se instilar
contaminar ainda mais da ácida desconfiança corruptiva que aos mesmos de sempre diz poupar
não nos poupando estes
supostamente pagos a peso de ouro
às suas intermináveis sentenças

E agora 

Que novas derivas ao sabor dos por demais conhecidos desmandos participativos
que a História
à saciedade
ensina onde conduzem

E pese a necessidade da crescente participação cidadã

E agora Europa
Mundo que te observa
por onde quereis ir

Escrevo por mim

Guardo-o
congruente e de há muito
aqui comigo




diante da interminável austeridade cada vez mais exigida, na austeridade de pontuação que Vos desafio a subentender


 





Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Outubro de 2011

sábado, 15 de outubro de 2011

APARENTEMENTE

Jaime Latino Ferreira, Aparentemente Imutável



Esta é a vista de uma janela de minha casa, aquela em frente da qual, de manhã, ao pequeno almoço me sento e cuja vista dela abarco.
Sempre foi assim …
A sua vista permanece desde que tenho memória, apenas com a mudança de cor das casas e, talvez, das plantas e das árvores que floriram e cresceram ou foram, entretanto, substituídas.
Nestes últimos cinquenta e muitos anos e diante desta vista aparentemente imutável, assistimos à asfixia que a ditadura exercia, ao crescimento do país, à instauração e estabilização da Democracia, aos amanhãs que cantam, à integração do país nessa ideia generosa da Europa, ao seu alargamento pela queda de quantos muros, à engorda dessa mesma Democracia, à criação da moeda única e dos instrumentos de integração crescente num espaço único europeu e, agora, qual hora da verdade e aparentemente (!), ao emagrecimento drástico dessas mesmas e generosas ideias.
Diante desta vista aparentemente imutável, acordámos para um país, tal como uma Europa envelhecidos, tanto na quebra de natalidade como em matéria de pujança económica, para uma Europa minguante, à aparente inoperacionalidade desta última e dando-nos conta, subitamente, do crescimento e pujança dos outros que por ela, legitimamente, não teriam de esperar.
Assistimos à falta de autoridade e razoabilidade na gestão de fundos, reivindicações e não menos investimentos …
Diante desta vista que daqui abarco, habituamo-nos, aqui em casa, a viver daquilo que tínhamos, que temos e nunca mais deixámos de apertar o cinto exaltando a Democracia e sem pedir nada a ninguém!
Cultivámos sempre a esperança de a Democracia ser mais do que pedir sempre mais, antes a possibilidade da livre reflexão sem constrangimentos e no contraditório que esta sempre implica …!
E a ver nela, na liberdade de expressão e pensamento, essa diferença básica e fundamental que, afinal, a deveria distinguir, acima de tudo, de uma qualquer ditadura:
Ditadura política, ditadura de interesses, individuais e  colectivos ou a ditadura dos números que vão asfixiando a verbe!
Somos uma sociedade velha e envelhecida, agarrada a clichés, papões e fantasmas …!
Diante desta vista que permanece, aparentemente, imutável interrogo-me sobre o que, entretanto, mudou e tal como a vista que daqui abarco, permaneço desenvolvendo sempre, mutante, a reflexão que, como um rio, corre da nascente à foz!
E interpelo-Vos, a Vós todos, também:
Esta possibilidade de pensamento livre que a falta de pão, é certo (!), vai limitando é ou não ela ideia alimento que importa, acima de tudo e pesem todos os constrangimentos, salvaguardar!?
E que estais, Vós todos, dispostos a fazer por isso!?








Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Outubro de 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

OUSADIA




Ousadia extravagante esta a minha
de achar poder-vos dar o que continha
na escrita o que sou como semente
a germinar igual à minha mente

Como se nela coubesse de repente
inteiro e a desaguar em tanta gente
como se não mudasse aquilo que tinha
por garantido e imóvel na escrivaninha

Pura extravagância que sozinha
pudesse aprisionar escrito o que tente
sem mais vazão a dar ao que se invente

Já que toda a água do rio sente
que uma vez passada adivinha
não poder voltar como antes vinha








Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Outubro de 2011

terça-feira, 11 de outubro de 2011

UM EPISÓDIO REVELADOR

flor da paz



Hoje de manhã, deu-se comigo um episódio revelador que não gostaria de deixar passar em branco, pese embora aqui fazer questão de salvaguardar as identidades das pessoas ou organizações intervenientes.
Circulava eu no mural do meu facebook quando alguém, privadamente, me veio perguntar se estaria disposto em lhe conceder o meu voto a um seu poema apresentado a um  concurso …
Ainda antes de seguir o site que juntamente me enviava, logo prontamente lhe respondi entender não ser um poema susceptível de um qualquer sufrágio como se a sua qualidade, através deste, pudesse ser aferida, pelo que, logo lhe disse não me encontrar, para esse efeito, disponível.
Só depois, seguindo o site, percebi, então, tratar-se de um poema em inglês, cabendo a iniciativa do concurso a uma prestigiada organização internacional …
E mais lhe disse então:
Disse-lhe que pesasse embora o mérito da iniciativa, sendo ela pela Paz, não percebia como é que os candidatos se tivessem de predispor à condição de escreverem em inglês já que a Paz, sendo ela um anseio universal, pressupõe o respeito, diria mais, a salvaguarda, a defesa mesmo, das diversidades e, neste caso e em particular, das diversidades linguísticas.
O que então lhe disse, disse-o com a minha prontidão, mais, com a minha espontaneidade habitual e sem qualquer chauvinismo que é coisa que não só a mim me é estranha como  liminarmente repudio, como com o à vontade de quem, aqui e ali, também já poemou em inglês.
Sei que essa pessoa, prontamente se desfez daquele vínculo que se tem por amigo e que àqueles que circulam pelo facebook, supostamente, os liga.
Fiquei incomodado e por uma dupla ordem de razões:
A primeira resultante das relações meramente de interesse, tu dás-me e eu te darei que, quantas vezes, à comunidade internáutica a caracteriza e isto tanto no facebook como na blogosfera!
As coisas não valem por si, como se não bastasse tudo o que em ambos os suportes dou e vou dando sempre e mais (!), antes pela troca directa que, eventualmente, possam, oportunisticamente proporcionar …
A segunda e não menos relevante, prende-se com a obrigatoriedade de, para concorrer a uma iniciativa pela Paz, se ter de escrever numa língua padrão.
Eu bem sei do carácter pedagógico de um concurso como este.
Como imagino dos problemas logísticos acrescidos que, a não ser adoptada uma língua padrão, tal acarretaria.
Mas também sei que imposta a condição de uma língua padrão, todos aqueles que não comunguem dessa como sua língua materna ou em que se exprimam com fluência, à partida, ficam em desvantagem concorrencial absoluta.
Como sei, repito, da importância da diversidade na efectivação plena da Paz:
A Paz não se faz pela uniformização antes implica, repito, valorização da diversidade!
Sei, finalmente, que se os concursos desempenham um papel no estímulo literário e, neste caso, na implementação de um espírito de Paz, uma obra de arte que é aquilo que um poema é, de facto, não se sufraga.
Está nela, num poema que o seja e apenas o tempo lhe confere qualidade digna desse nome!
Sei ainda:
Afinal, que grande generosidade esta, a desta minha amiga e que espírito tão pacificador ela não acabou, ao interromper a conversa e os supostos laços que tínhamos abruptamente, por revelar!






 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Outubro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

ESPIGADOTES

Eduardo Batarda, Reserva, 1988


Qualquer dia, não faltará muito, sucumbirão as crianças ao empedernido que as não escuta!
Empedernido que, por medo do que nelas se contém e que, verdadeiramente, nunca encarou, foge sempre a ouvi-las …
Que insiste em formatar homenzinhos, homenzinhos e mulherzinhas, num molde que se esvai …
… esvai de tão gasto estar!
Esvai de nada mais ter para dar.
Esse empedernido de tanto se querer espigadote à força e com o qual já ninguém se identifica …!
Espigadote naquele molde definitivo dos que julgando-se grandes, supostamente, já não crescem mais!
Espigadotes compostinhos, assim, de corda ao pescoço, hirtos de não saberem onde pôr as mãos, as mãos ou o resto, muito institucionais e que trazem sempre consigo um batalhão de yes men feitos à sua própria imagem, a assentirem com as suas cabecinhas ocas ao mais despropositado bitate que os espigadotes, de propósito ou a despropósito, balbuciem.
Espigadotes de faz de conta que se esqueceram de ser crianças …
… esqueceram é pouco … nem se querem lembrar disso!
Por isso, por isso mesmo se tornaram tão crescidinhos …
Voz descolocada, calinadas à tripa forra na gramática e de vervezinha sempre prontita a saltitar.
Espigadotes daqueles que quando vêm uma criança logo estão prontos a dizer que engraçadinha!
Com um sorriso besta e uma tal desconformidade diante dela que ela própria se interrogará de onde veio um tal ET!?
Espigadotes …
Tão espigadotes e atinadinhos que metem medo ao susto!
Qualquer dia, de tão espigadotes e distantes, esses mesmos espigadotes sugarão a infância, reserva de esperança e de futuro, no turbilhão do tem de ser que eles próprios obstinada e persistentemente criaram …
… e de tão espigadotes que o são, esquecer-se-ão que mataram a criança!







Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Outubro de 2011

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

REINVENÇÃO E CULTURA

fotografia de mb


Para variar, analistas, comentadores e políticos, destacaram do discurso do Presidente da República do dia 5 de Outubro, de ontem portanto, tudo o que lhes convinha e deixaram de parte dois que reputo como significativos períodos que, pela minha parte e em meu benefício, destaco, a saber …
O primeiro:
( … ) É justamente por isso ( pelos tempos difíceis do passado ) que, nos nossos dias, se torna tão premente reinventar o republicanismo, fundar um espírito republicano ajustado às exigências cívicas do novo século. ( … )
E o segundo:
( … ) Em tempos de escassez económica, há também que redescobrir o valor da cultura e dar prevalência à dimensão espiritual sobre a dimensão material da vida humana. ( … )
Reinvenção e Cultura …
O que é ela, a Cultura, mais do que tudo, senão a capacidade aplicada do espírito, pelo apuro, perfeição e cuidado, que lhe permita reinventar?
E o que será reinventar o republicanismo, nos nossos dias, ajustados, portanto, às exigências cívicas do nosso século, senão estendê-lo, a ele como à coisa pública, nos meandros da cultura, num soneto que seja e que, nem por acaso ao discurso do Presidente o precedeu, por via das plataformas que ao espaço público, graças às novas ferramentas que temos ao dispor, ao cidadão lhe permitem, resiliente, amplificar-se com toda a dignidade e intervir sem esmorecer?
Num simples soneto, repito, essa forma literária, cultural que nos está no genes?
E que expresso numa das línguas universais, teria de ser em inglês (!?), à coisa pública a dignificam e isto já para não falar em tudo, tudo o que ao soneto, no tempo, o precede num contexto material de dificuldades que ao autor  lhe são familiares e que não são de hoje mas que de há muito o afligem mas não demovem …
Não me demovem, como sempre!
Demonstrando à saciedade, na pessoa do seu autor, como a dimensão espiritual à material a sobreleva …!
Demonstrando, por fim, a capacidade Política de antevisão do seu autor, de ao discurso do Presidente, publicamente, o anteceder, o soneto foi publicado às zero horas do dia 5 de Outubro (!), capacidade essa em défice profundo e que, hoje mais do que nunca, se impõe reconhecer!








Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Outubro de 2011

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

PÚBLICA

fotografia de mb
 

Pública é a coisa que vos trago
sentimentos meus que lanço ao largo
neles não iludo a minha história
uma vez sacada da memória

Nela vos confronto com a vitória
do amor no seu esplendor e em sua glória
transpiração e meu encargo
que desagua aqui e não apago

Não o faço por menos na ilusória
percepção que de sabor amargo
em toda a confusão reina irrisória

Pois público e mais forte é este estrado
sem ceder à depressão ou à euforia
que a mim se tentem grudar de lado a lado



na comemoração do aniversário da República






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Outubro de 2011