Desde que há vinte e três
anos me dirigi, diretamente, às mais altas instâncias da representação política
democrática em Portugal, na simbólica
de todas elas à escala global, que um silêncio esmagador se instalou à minha
volta.
Em resposta, porém, sempre
em resposta a esse silêncio, o meu silêncio tem sido, não apenas reflexivo
recusando qualquer resignação, não violento por certo, mas sempre mais e mais
redistributivo.
O que aqui escrevo, sendo
silencioso como a escrita o é por natureza, redistribui:
Não se rende, não se
resigna, leva quem me lê, proactivamente, a pensar e persiste com toda a
resiliência.
É um silêncio cheio,
inconformado e assim me mantenho na convicção de que a Democracia não é,
apenas, a salvaguarda dos instrumentos que garantam a sua representatividade
formal mas, também, aquilo que resulta do livre contraditório que se explane,
desenvolva e demonstre.
É também uma atitude que
permanece e que às instâncias democráticas lhes conferem todo o benefício e
pese embora o silêncio e a aparente indiferença que se obtenha como resposta.
Há vinte e três anos.
Quem aguentaria tanto
tempo sem partir a loiça, não exercendo, por isso mesmo, a violência verbal ou
física, sendo que, muito pelo contrário, ao benefício o reforço neste meu
silêncio tão intensamente preenchido.
Tanto mais quanto, é bom
de ver, a situação crítica que se abate, implacável, contra eleitores,
contribuintes e cidadãos livres que o são cada vez menos.
E tanto e tanto mais ainda
quanto, como eu, gozo, ironia das coisas, desde há tantos ou mais vinte e três
anos, de uma situação profissional sempre mais e mais precária.
Não foi por acaso que
escrevi o meu texto anterior, Um Esmagador Silêncio, ele espelha,
certamente, a minha situação que, no entanto, se preenche de uma obra que
cresce sem parar e que vai buscar a sua sustentabilidade à música que sempre a
acompanha.
A música das palavras é a
expressão livre do meu silêncio.
A Democracia é a nossa
maior riqueza mas ela ou se aprofunda ou está condenada, na melhor das
hipóteses, a tornar-se numa farsa.
Aprofundar-se significa desenvolver
o livre contraditório longe da pressão ou das demagogias mediáticas ou eleitoralistas:
Escrevo sempre na
esperança de uma resposta mas sendo a resposta o silêncio, refiro-me ao
silêncio dessas mais altas instâncias que referi, o meu silêncio, como
resposta, preenche-se, teimosamente e por cada texto que escrevo, cada vez
mais.
Preenche-se cada vez mais
e sempre na tentativa de ao silêncio que recebo como resposta, o interpretar,
positivamente, de volta.
Na tentativa de o
contrariar, fundamentando-o e salvaguardando o benefício que a elas, a essas
instâncias, porque a elas não há alternativa democrática, lhes estou sempre
pronto a conceder.
E pese como pesa, embora,
tudo!
Não vejo, confesso-Vos,
como se possa viver senão em Democracia e ela vai estando cada vez mais sitiada
e comprometida.
Fragilizada por consequência.
E no dia em que à palavra
a deixarmos de poder ter, livremente, como pão para a boca …
Aí morreremos triplamente:
Morreremos porque a morte
é o destino mais democrático que a todos, por igual, nos espera;
Morreremos à míngua de pão,
o pão nosso de cada dia;
E morreremos porque sem o
exercício livre e aprofundado da palavra, deixaremos de ter, livremente, a
capacidade de nos reinventar.
neste 5 de Outubro o meu é, seguramente, um esmagador silêncio
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Outubro de 2012
2 comentários:
Nem sempre o silêncio é uma boa solução.
Porque existem respostas que carecem de justificação.
O silêncio pode ser considerado um acto de pouca coragem.
A palavra tem um poder destruidor ou regenerador.
Temos sempre a opção de um profundo solilóquio ou usar a palavra e o silêncio num tempo coalescente de inteligente interação.
Sem a morte por perto como um axioma de impossivel contradição.
Morte a única verdade irrefutável, incontestável.
Haja tempo para a reflexão...
as altas instâncias actuais andam a falar sozinhas
mas a liberdade, a democracia, uma vez experimentada
apenas à força nos será tirada e aí,
continuará a ser livre como o vento, uma e outra e mais outra vez
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