An Almost Ephimeral Autumn by Luzinterruptus
Um jogo de futebol é o que
é.
Não que não goste,
eventualmente, de a um deles assistir mas ganha-se ou perde-se e tão depressa
quanto se converta em euforia coletiva, no momento seguinte, logo tudo se
desvanece.
Um jogo de futebol não
resolve, aliás, os problemas de cada um de nós, apenas contribuindo para,
momentaneamente, os esbater.
Não que, por vezes, como
terapia, não possa ser o mais indicado para contrariar uma depressão coletiva
em que nos afoguemos mas certo é que ele não nos resolve nada.
Se pode encher os cofres
da equipa em campo, a nós, apenas nos aliena.
Um jogo de futebol tem,
pois e por mais que digam o contrário, um interesse público muito relativo.
Um texto como este que
aqui escreva terá ele algum interesse público?
Por maior ou menor que
seja o número daqueles que o leiam ou por muito ou pouco que às audiências, num
dado momento, as possa cativar?
Qual é a sua valia pública
acrescida que um jogo de futebol não tem?
O jogo passa, o meu texto
fica;
O jogo, como escrevi, não
resolve nenhum dos problemas que nos angustiem enquanto este texto,
permanecendo, da sua leitura e simultânea reflexão ao longo do tempo, porque
ler implica refletir, nos pode, num como noutro sentido, predispor;
Predispor ou não a uma
outra atitude que da sua leitura se possa inferir;
Outra atitude que, quem
sabe, nos pode levar a encarar a nossa vida de uma outra maneira;
Sendo público, tão público
quanto um jogo de futebol e mesmo se independentemente das audiências que
cative o é, estando ao dispor, repercute-se, eventualmente, em quem o leia, hoje,
amanhã e sempre;
Permanece.
Um jogo de futebol
beneficia, sobretudo, os seus atores, os seus agentes diretos, não aqueles que
são os seus agentes indiretos, os espectadores a não ser pelo testemunho de
vida, pela biografia escrita e singular dos seus intervenientes que como
exemplo podem, indiretamente, inspirá-los.
Nunca um jogo que, por
maior que seja o clamor em campo, às suas quatro linhas as não ultrapassa.
Um texto como este
estabelece uma relação direta entre quem o escreve, o seu autor e quem o lê, o
outro autor sem o qual ele não faz o menor dos sentidos e a ambos, diretamente,
os beneficia por aquilo que atrás foi dito:
O autor pela realização
com que no texto que partilha se preenche;
O outro autor por nele se
identificar ou, pelo menos, por das pistas que do texto transpareçam e que
excedem, em muito, as quatro linhas do jogo poder, ele próprio, encontrar ou
não as suas próprias pistas de reflexão;
Hoje, amanhã e como sempre,
repito.
Um texto como aquele que
aqui escreva estabelece uma relação direta, íntima com o leitor e tem, por
isso, uma natureza que um jogo de futebol nunca pode ter:
Um jogo de futebol e para
o que de público interessa, sendo de natureza coletiva, logo se esfuma no dia
seguinte;
Um texto como este que
aqui escreva, estabelecendo, quiçá, uma relação íntima a partir do público que
ele não deixa de o ser, cria laços públicos de uma durabilidade que a sua
intimidade com o leitor, nele fazem prevalecer.
Eu podia morrer amanhã que
o meu eu, aqui plasmado, permaneceria vivo e para sempre.
O jogador também pode
permanecer vivo na genialidade do seu passe ou golo de magia, é certo, mas como
o seu espectador não é um jogador, o passe ou golo apenas beneficiariam,
diretamente, os seus pares ou candidatos a sê-lo, isto é, tudo o que se passa
entre as quatro linhas do campo em que se desenrola.
Os meus pares, porém, podendo
não dominar a escrita, nela podem, para sempre, repito cansativamente uma vez
mais, refletir e com ela de alguma coisa beneficiar.
Até porque quem lê e mesmo
que de uma biografia de jogador de futebol se possa tratar, intimamente, interioriza.
Donde, concluo, o
interesse público da escrita em muito supera aquele de um jogo que, a não ser
para a própria indústria, publicamente portanto, é efémero.
Tão efémero quanto de
relativo interesse público.
Assim, concluo que a
escrita e mesmo se de uma biografia ou testemunho direto de um jogador se
tratar, como folha perene, prevalece sobre aquela de um jogo de futebol que,
rapidamente, caduca.
no efémero, o interesse público desmorona-se
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Outubro de 2012
2 comentários:
muito bom!
.
mas um joguinho da 1ªdivisão e umas pipocas, animam, pois
Subscrevo este seu texto.
Um bj.
Irene Alves
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