O ambiente anda crispado,
os nervos estão à flor da pele.
Falta um sentido que
justifique todos os sacrifícios que a austeridade impõe, equidade que deles transpareça
e, sobremaneira, esperança.
O povo sai à rua em crescente
clamor e o governo, invetivado, parece cada vez mais sitiado.
Anuncia-se para hoje um
novo pacote de austeridade, antes do próximo e do que se lhe seguirá, e de
outro mais e mais ainda.
Até quando e por quanto
mais tempo, com que possível civilidade, o povo, resiliente, resistirá?
No meio disto tudo e no mural do meu facebook não paro, entretanto, de refletir e a
reflexão conduz-me, por vezes, quantas vezes, a situações que a mim próprio me
surpreendem.
Calculem que me pus a
advogar e, logo, a fundamentar uma esmagadora manifestação pública mergulhada
num não menos esmagador, retumbante silêncio.
Não como em tempos uma
outra houve, de uma suposta maioria silenciosa e apolítica, mas uma
manifestação mergulhada num silêncio comprometido, musical mesmo e que de tão
silenciosa se tornasse profundamente ensurdecedora sem deixar de cumprir todos
os trâmites da civilidade sem mácula.
Uma manifestação pejada de
tarjetas de conteúdos como os que se seguem:
o silêncio é mais
o silêncio cria mais
o silêncio junta mais
o silêncio
mobiliza mais
o silêncio traz
mais
o silêncio faz
mais
o silêncio diz
mais
não violento, o silêncio é-o ainda mais
Uma manifestação no
estrito comprometimento com a não-violência e, logo, com a Democracia.
A violência verbal é meio
caminho andado para a violência física e ambas não conduzem a parte alguma ou
melhor, mais depressa poderão concorrer para não chegarmos a parte nenhuma.
Poderemos, que o estamos,
estar a ser sujeitos a uma enorme violência mas somada essa violência à
violência verbal ou física como resposta, entra-se numa espiral recriminatória
sem mais ter fim e no fim todos estaremos muito piores do que já estamos hoje.
Agora o silêncio, o
silêncio musical, a sublimação do que nos vai na alma excedendo-nos pela
positiva, que impacto não poderia ter e tanto maior quanto ainda mais
esmagadora do que todas as que a precederam, a manifestação o fosse?
Quando falo de impacto,
falo não apenas do impacto à escala doméstica que ela poderia ter mas, sobretudo, do
impacto no exterior e, ainda mais, se no exterior, por múltiplas, replicada o
fosse.
Que repercussões em cadeia
e entre os decisores políticos, em particular, ela(s) teria(m) sabendo nós de
quão sensíveis ao peso da opinião pública o são e tanto mais quanto
realizada(s) com toda a dignidade e sem réstia de agressividade!?
Procura-se
desesperadamente uma saída e aqui está uma com potencial que de tão ruidoso sem
o ser, se pode tornar esmagador já que, sendo o silêncio musical porque não há
música sem silêncio, dela ele já é portador de esperança.
soberano, o silêncio diz tudo e muito mais
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Outubro de 2012
3 comentários:
Verdade que o silêncio pode ser de uma tremenda força uma vez que pode ser interpretado de formas diferentes. O silêncio pode significar, condescendência, concordância, tristeza, inatividade... mas se o silêncio for acompanhado de ações conscientes, responsáveis, livres, talvez se torne num silêncio construtivo.
É mais que óbvio que o capitalismo e esta sociedade de consumo que erguemos está a chegar ao fim. Alguns escolhem o suicídio silencioso como forma desesperada de fugir à pobreza sobretudo para quem em algum tempo foi rico.
Tenho pessoas constantemente a pedirem-me à porta, alimentos, simplesmente algo para comer. Tenho pessoas conhecidas que tendo no passado recente, sido diretores de empresas, optam por irem para o estrangeiro lavar escadas ou distribuir jornais. Com a agravante de terem filhos para alimentar. Esta é a sociedade em que se vive. Todos ou a maioria vai morrendo lentamente. Morrerão outros tantos por falta de assistência médica, por falta de dinheiro para medicamentos dos quais dependem. Não estamos em guerra mas é como se estivéssemos. É certo que a violência não nos trás o pão! Mas as pessoas que estão nos governos têm de facto de mudar as suas posturas! Uma sociedade não pode dividir escravos para um lado e senhores para outro! Todos trabalhamos e temos dignidade humana e como tal temos de assim ser tratados. E é o Estado que deve garantir isso! Senão não estará a desempenhar as suas funções e é perda de tempo permanecer em tal cargo! É impensável que só quem tem dinheiro tenha acesso aos estudos. Pode então ser um medíocre a nível de inteligência mas se os papás tiverem dinheiro para pagar, pode ter um futuro mais aprazível. Aquele que não dispõe de dinheiro apenas trabalha para sobreviver, mesmo que seja um génio em determinada matéria!
O mesmo se passa na saúde. Morre indignamente quem não tem dinheiro para pagar operações ou tratamentos!
Talvez o silêncio sirva para refletirmos e para alterarmos o que está incorreto! Nenhum ser humano é ou deve ser escravo de outro. E se é para acabar com a escravidão então que venha a revolta! O governo está a exercer violência sobre aqueles que vivem do magro salário que nem dá para fazer face às despesas mensais. E vêm aí mais impostos? Então vai o dinheiro que ganhamos com suor e lágrimas para os impostos??? E comemos o quê?
Me perdoem! Mas há uma irracionalidade descarada e imbecil na arte de governar!
Gostei do texto pois apela à esperança. E tal atitude é de louvar! Mas só pode haver esperança se tivermos comida nos pratos todos os dias! Senão vai-se a esperança e a sensatez!
Abraço
Ana Maria Oliveira
seria bonito de ver
teria impacto, sim
e agora calo-me
O Jaime é um sonhador e este é um lindo sonho que também eu gostaria de ver realizado. Quem sabe?! Se todos tivessem bom senso e conhecessem a força do silêncio...mas a humanidade é composta por muitas contradições e temos que aprender a viver com elas, não deixando contudo que os nossos sonhos e a nossa esperança caiam por terra.
Beijinhos
Branca
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