terça-feira, 3 de setembro de 2013

DA GUERRA

Salvador Dali, Premonition of Civil War





A guerra nunca é benfazeja mas será que se justifica nalguma circunstância?
A guerra pode-se justificar, por exemplo, para combater um estado de guerra.
O que é um estado de guerra?
É uma circunstância em que, ainda que latente, a guerra ameaça a paz.
Uma ditadura é um estado de guerra latente.
Uma guerra civil é um estado de guerra.
Uma situação em que se cometem crimes contra a humanidade tais como ataques químicos, em que se excedem, portanto, todos os limiares e convenções acordados pela comunidade internacional, pode, eventualmente, justificar a retaliação e, logo, a guerra contra a guerra.

Em que circunstâncias o desencadear da guerra contra a guerra se pode tornar admissível?
Nas circunstâncias em que esteja reunido o consenso necessário fundado no direito internacional.
Em nome de quem?
Em nome, portanto, da comunidade internacional corporizada, nomeadamente, na Organização das Nações Unidas.
E em nome de quê?
Em nome da Paz.

Nunca em nome de um Estado e dos seus melhores interesses, quantos não têm as suas mãos manchadas de crimes equivalentes, uma vez que qualquer Estado carrega consigo uma onda de suspeições resultante, precisamente, dos seus interesses específicos que nada garante coincidirem com o bem-estar geral e por muito que internamente o seu direito a intervir possa vir a ser legitimado.
Por mais poderoso que o seja ou por maiores que possam ser os seus pergaminhos, um Estado é sempre um Estado, é parte e não pode ser confundido com o todo, isto é, com o interesse geral.
Não há Estado que possa ser polícia senão dele mesmo e mesmo assim sabe Deus e o resto é propaganda.

A guerra nunca é benfazeja.
Traz consigo e por mais cirúrgica que em tese a possamos admitir, não apenas danos colaterais, isto, para usar a linguagem fria da guerra, réplicas que contra quem a pratica ou contra terceiros se viram bem como um coro de indignação e de indignidade contra quem a leva a cabo.

Podem os crimes contra a humanidade passar impunes?
Não, não podem!
Mas para os combater com eficácia, no respeito pela multilateralidade, é preciso reunir os consensos e a legitimidade internacional necessários.
E para os reunir a ambos é preciso ter a prova inquestionável da perpetração desses crimes e de quem os praticou.
É preciso dar tempo ao tempo e não fazer do tempo intolerável pressão sobre o próprio tempo.

Que fazer se as instâncias internacionais se mostrarem impotentes diante de crimes contra a humanidade tais como ataques químicos contra populações civis ou outras o são?
Agir a montante e preventivamente, tudo fazendo de tal modo que, pela concertação global, aquelas instâncias se venham a tornar operacionais e verdadeiramente efetivas.
Antes e não depois de a casa poder vir a ser assaltada.
Há quantos anos não se fala já da reforma das Nações Unidas?
E que efeito persuasivo contra a perpetração de tais crimes uma tal reforma não poderia vir a desencadear?



the best interest is not mine but ours  
or/ou
o melhor interesse não é o meu antes o nosso 





Jaime Latino Ferreira

Estoril, 3 de Setembro de 2013



2 comentários:

. intemporal . disse...

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. porque será que a humanidade para além de definir o conjunto dos homens . a natureza humana e o seu género é também sinónima da bondade . da benevolência e de compaixão? .

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. tivessem sempre presente . os "senhores da guerra" . este conceito (do latim "humanitas") . no qual e do qual fazem parte . embora . e apenas e só . em parte . e os seus propósitos cairiam por terra .

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. ou então que se dedicassem às humanidades . ao seu estudo . onde a cultura . a literatura . a poesia e a gramática . atenuariam decerto os seus intentos . e valorizariam esta efémera condição humana . a qual . pode e deve ser perpetuada . no tempo que resta . para além do nosso .

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manuela baptista disse...

a guerra contra a guerra

é como combater o fogo com o fogo,
resulta, mas depois é apenas terra ardida

muito bom o teu texto