sexta-feira, 8 de novembro de 2013

ORTODOXIA E CONVENIÊNCIA

Michelangelo Buonarroti, Capela Sistina, Adão e Eva

 ( radicalidade é um ela, um Outro e um eu ser )






Ou bem que há coisas que fazem parte da ortodoxia, sublinho, da ortodoxia, da teimosia ou da intransigência, não da dogmática católica que é outra coisa ou, pura e simplesmente, elas apenas fazem parte da conveniência resultante de circunstancialismos históricos ou outros.
Daquilo a que chamarei a política da Igreja que a tem.
Se fazem parte da ortodoxia no sentido daquilo em que não se transige, então, para quê um inquérito tendo em vista medir o pulso dos fiéis em relação àqueles que se consideram ou se insiste em considerar serem temas fraturantes nas sociedades abertas e modernas dando, implicitamente e quer se queira como não, por essa via, por via do anúncio desse inquérito, um sinal.
Um sinal que, convenhamos, não deixa de ser tanto sintomático como louvável.
Que sinal é esse?
O sinal de que a ortodoxia é-o até deixar de o ser porque se a fosse mesmo ao ponto de se confundir com a dogmática não se justificaria qualquer inquérito qual sondagem de opinião.
Com o anúncio de um tal inquérito, institucionalmente, a Igreja está, implicitamente, a responder ao que ela própria através do inquérito, de antemão, já anuncia:
A Igreja e independentemente dos resultados que venham a ser coligidos e trabalhados por via do próprio inquérito, está a sinalizar que tais temas, longe de se inscreverem em qualquer dogmática do catolicismo nas atitudes que em relação a eles tem manifestado, correspondem tão só a conveniências nelas incluídas as resistências, os grãos na engrenagem ou não se justificaria um inquérito ou sondagem, qual simples organização política, que em si mesmo vêm por em causa essa mesma e empedernida ortodoxia, leia-se intransigência da sua própria práxis até aqui dominante, sempre e por demais institucionalmente conservadora.
Se assim é, se o que está em causa logo aos olhos institucionais da Igreja é esse seu empedernido e teimoso conservadorismo que durante tanto tempo justificou, inclusive, a sua suposta durabilidade através dos séculos enquanto instituição milenar que é não cedendo à espuma dos dias, então, para quê prevalecer em tacticismos que apenas põem em causa a tão propalada radicalidade de que esta se julga, em simultâneo, detentora?
Com o inquérito, por ora, anunciado, se é certo que a Igreja dá o flanco, não menos certo é que o tacticismo continua a prevalecer e como eu gosto das coisas preto no branco no multicolor do real, por antecipação, com o meu texto anterior, a ele resolvi, atalhando, responder de pronto sem me deixar, tão pouco, condicionar por um qualquer questionário que, em si mesmo, sempre influencia, limita ou constrange as respostas que se venham ou possam vir a dar.
Com todos os riscos inerentes, julgo, a Igreja teria tudo a ganhar se tomasse a dianteira ou se se constituísse, finalmente, em reserva estratégica da intemporalidade e se deixasse de se intrometer nos hábitos e costumes ou na estrita moralidade o que apenas conspurca a natureza da própria religião introduzindo-lhe imprópria e ruidosa temporalidade, quanta lhe não foi introduzida ao longo dos séculos, agarrando decidida a humildade e a abertura, a humanidade, a radicalidade da caridade que, por isso mesmo, se quer e se diz cristã.
Sim, a Igreja ou se fecha ou se abre deitando para trás o que é de um mesquinho antanho e entre uma e a outra coisa a margem de manobra, à palma da ambiguidade que teima em insinuar-se, vai-se estreitando cada vez mais.
Ortodoxia e conveniência.
Serão elas as duas faces de uma mesma moeda?
Esperemos para ver.





amar é ser livre e na liberdade me escudo sendo que há coisas que são ou não são e, para mim, são como são sem que sobre elas seja necessário medir o pulso








Jaime Latino Ferreira

Estoril, 8 de Novembro de 2013



5 comentários:

. intemporal . disse...

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. se a pergunta é sempre anterior à resposta . [na posse desta] . então . para quê perguntar ? .

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. um bom fim.de.semana .

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. abraço.O . Jaime .

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. e,,, deixo um beijinho . mais.do.que.especial . para a Sua Mãe .

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Anónimo disse...

Não fosse a "reserva estratégica da intemporalidade" e a gente não se ria tanto, não é, meu querido familiar, de há tanto e para sempre?

Kika disse...

Kriu?

Da ortodoxia ou a ela relativo, nada sei, pelo que, sinto-me assim, inortodoxa de todo!

Sabes, hoje estou com uma das articulações inferiores sintomaticamente ortocólon, do esforço que fiz a noite inteira para por um ovo, mas já cá está fora e é grande e cheio como o conteúdo dos teus textos...

Kriu!

Jaime Latino Ferreira disse...

PAULO


Querido Amigo,

Muito sensibilizado, acredite, enviarei a minha mãe os Seus votos que no beijinho que envia, sei, estão implícitos.

Grande Abraço


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Novembro de 2013

manuela baptista disse...

muito, bem! gostei do texto


sublinho: o inquérito está condicionado, antes de nascer

Francisco, o Papa, arrisca-se a cair na sua própria armadilha

pois os que confiadamente acreditam na mudança, não lhe perdoarão a ausência de respostas concretas

pessoalmente: a minha privacidade, tal como o nome indica, apenas a mim própria diz respeito