Michelangelo Buonarroti, Capela Sistina, Adão e Eva
( radicalidade é
um ela, um Outro e um eu ser )
Ou bem que há coisas que
fazem parte da ortodoxia, sublinho, da ortodoxia, da teimosia ou da
intransigência, não da dogmática católica que é outra coisa ou, pura e
simplesmente, elas apenas fazem parte da conveniência resultante de
circunstancialismos históricos ou outros.
Daquilo a que chamarei a
política da Igreja que a tem.
Se fazem parte da
ortodoxia no sentido daquilo em que não se transige, então, para quê um inquérito
tendo em vista medir o pulso dos fiéis em relação àqueles que se consideram ou
se insiste em considerar serem temas fraturantes nas sociedades abertas e modernas
dando, implicitamente e quer se queira como não, por essa via, por via do
anúncio desse inquérito, um sinal.
Um sinal que, convenhamos,
não deixa de ser tanto sintomático como louvável.
Que sinal é esse?
O sinal de que a ortodoxia
é-o até deixar de o ser porque se a fosse mesmo ao ponto de se confundir com a
dogmática não se justificaria qualquer inquérito qual sondagem de opinião.
Com o anúncio de um tal
inquérito, institucionalmente, a Igreja está, implicitamente, a responder ao
que ela própria através do inquérito, de antemão, já anuncia:
A Igreja e
independentemente dos resultados que venham a ser coligidos e trabalhados por
via do próprio inquérito, está a sinalizar que tais temas, longe de se
inscreverem em qualquer dogmática do catolicismo nas atitudes que em relação a
eles tem manifestado, correspondem tão só a conveniências nelas incluídas as
resistências, os grãos na engrenagem ou não se justificaria um inquérito ou
sondagem, qual simples organização política, que em si mesmo vêm por em causa
essa mesma e empedernida ortodoxia, leia-se intransigência da sua própria
práxis até aqui dominante, sempre e por demais institucionalmente conservadora.
Se assim é, se o que está
em causa logo aos olhos institucionais da Igreja é esse seu empedernido e
teimoso conservadorismo que durante tanto tempo justificou, inclusive, a sua
suposta durabilidade através dos séculos enquanto instituição milenar que é não
cedendo à espuma dos dias, então, para quê prevalecer em tacticismos que apenas
põem em causa a tão propalada radicalidade de que esta se julga, em simultâneo,
detentora?
Com o inquérito,
por ora, anunciado, se é certo que a Igreja dá o flanco, não menos certo é que
o tacticismo continua a prevalecer e como eu gosto das coisas preto no branco
no multicolor do real, por antecipação, com o meu texto anterior, a ele
resolvi, atalhando, responder de pronto sem me deixar, tão pouco, condicionar
por um qualquer questionário que, em si mesmo, sempre influencia, limita ou constrange
as respostas que se venham ou possam vir a dar.
Com todos os riscos
inerentes, julgo, a Igreja teria tudo a ganhar se tomasse a dianteira ou se se
constituísse, finalmente, em reserva estratégica da intemporalidade e se
deixasse de se intrometer nos hábitos e costumes ou na estrita moralidade o que
apenas conspurca a natureza da própria religião introduzindo-lhe imprópria e
ruidosa temporalidade, quanta lhe não foi introduzida ao longo dos séculos,
agarrando decidida a humildade e a abertura, a humanidade, a radicalidade da
caridade que, por isso mesmo, se quer e se diz cristã.
Sim, a Igreja ou se fecha
ou se abre deitando para trás o que é de um mesquinho antanho e entre uma e a
outra coisa a margem de manobra, à palma da ambiguidade que teima em insinuar-se,
vai-se estreitando cada vez mais.
Ortodoxia e conveniência.
Serão elas as duas faces
de uma mesma moeda?
Esperemos para ver.
amar é ser livre e na liberdade me escudo sendo que há coisas que são ou
não são e, para mim, são como são sem que sobre elas seja necessário medir o
pulso
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Novembro de 2013
5 comentários:
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. se a pergunta é sempre anterior à resposta . [na posse desta] . então . para quê perguntar ? .
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. um bom fim.de.semana .
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. abraço.O . Jaime .
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. e,,, deixo um beijinho . mais.do.que.especial . para a Sua Mãe .
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Não fosse a "reserva estratégica da intemporalidade" e a gente não se ria tanto, não é, meu querido familiar, de há tanto e para sempre?
Kriu?
Da ortodoxia ou a ela relativo, nada sei, pelo que, sinto-me assim, inortodoxa de todo!
Sabes, hoje estou com uma das articulações inferiores sintomaticamente ortocólon, do esforço que fiz a noite inteira para por um ovo, mas já cá está fora e é grande e cheio como o conteúdo dos teus textos...
Kriu!
PAULO
Querido Amigo,
Muito sensibilizado, acredite, enviarei a minha mãe os Seus votos que no beijinho que envia, sei, estão implícitos.
Grande Abraço
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Novembro de 2013
muito, bem! gostei do texto
sublinho: o inquérito está condicionado, antes de nascer
Francisco, o Papa, arrisca-se a cair na sua própria armadilha
pois os que confiadamente acreditam na mudança, não lhe perdoarão a ausência de respostas concretas
pessoalmente: a minha privacidade, tal como o nome indica, apenas a mim própria diz respeito
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