"Quem escreve de um modo claro tem leitores. Quem
escreve de um modo obscuro, comentadores."
( citação atribuída a Albert Camus )
Leio esta citação, olho
para as minhas caixas de comentários e fico bem contente!
Terei razões para isso?
Será assim como o escreve,
supostamente, Camus e sem
desconsideração para quem quer que me comente?
Entre ter um comentário
redutor do que escrevi ou nenhum, de facto, antes não tê-lo.
Alturas houve em que
desejei que o contraditório, fundado no que escrevi, nas minhas caixas de
comentários se desenvolvesse e essa é a razão simbólica que me leva a manter
abertas as caixas de comentários mas o tempo vai-me demonstrando que tenho, de
facto e a ser como Camus o escreve,
mais leitores do que comentadores.
Albert Camus,
Paradoxalmente reflito,
comento esta tua citação e ao fazê-lo, implicitamente, não estou a insinuar que
ela seja obscura.
Não.
Como tudo, tudo tem a
parte da frente e o seu anverso, o direito e o avesso, o claro e o obscuro e
isto, independentemente da clareza ou da obscuridade com que se escreva.
Ter comentadores não é,
necessariamente, sinónimo de obscuridade como não os ter, de claridade.
Não que não perceba o
sentido do que tu escreves e pese embora se tratar de uma citação que nem sei
em que contexto surge uma vez que, na breve investigação que fiz, não consegui
apurá-lo.
Como todas as citações,
elas agradam a uns, àqueles que nelas, num dado momento se revêm e desagradam a
outros, àqueles que nelas, eventualmente, não se enquadram.
Mas daí até serem
definitivas, clarinhas como a água, inquestionáveis, vai uma grande distância.
Às vezes tenho a sensação
de que nos parecemos, cada vez mais, com aquelas antigas malas de viagens,
rotuladas das etiquetas das viagens que fizemos, delas forradas apenas porque
as fizemos, independentemente de termos ou não gostado das viagens nelas enunciadas.
Malas de etiquetas
preenchidas ad hoc, mutilações caricatas
das viagens que fizemos.
As viagens ou a obra, isto
é, o contexto em que se integra a citação, transforma-se, assim, num patchwork, numa manta de retalhos ou
adulteração das viagens ou do que foi escrito e deixa de ser a obra ou a viagem
para passar, apenas, a ser o que dela nos agrada ou aquilo com que dela, quantas
vezes com fraco critério, nos pavoneamos.
Esta citação, no entanto e
independentemente de ser tua, não deixa de ser clara, plausível, pese embora eu
a comentar coisa que, saberás, não me acanho de fazer.
Teimosamente, mantenho a
caixa de comentários deste meu blogue aberta.
Como se, implicitamente, reafirmasse
manter-me recetivo ao contraditório.
Não comento outros para
que, em troca, me comentem a mim.
Não, não entro nesse jogo:
O que escrevo ou vale por
si ou não vale.
Como não faço de uma
citação um dogma.
Nem recorro ao dogma para,
sistematicamente, me justificar ou a outros os silenciar.
Não sou, tão pouco, uma
mala de viagens.
Sou a minha viagem que,
por aqui e por ali, se desenvolve, com um princípio, um meio e um fim
que ela, seguramente, não deixará de ter, correndo, embora, o risco de me vir a
tornar, não na minha viagem mas no que dela, a terceiros, lhes aprouver.
A minha viagem, no
entanto, não deixa de ser a minha viagem e não a de outro, citado ou não,
qualquer que ele seja e por mais que com ele me possa, eventualmente,
identificar.
não é um citação que faz uma obra mas se à custa dela
alguém tiver refletido, a obra já terá valido a pena
- dá uma boa citação, não dá? –
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Setembro de 2012
4 comentários:
Jaime
Meu amigo
Heis aqui uma sua leitora e, porém, raras vezes comentadora.
Lei-o e aprendo sempre consigo uma outra forma de ver e sentir o que está à minha volta.
Cresço e agradeço-lhe por isso. Da minha incapacidade para um comentário que acrescentasse algo ao que escreve, que fique em si a certeza que o sigo, atentamente, e que a obra que vai construindo é fio condutor para que, em mim, aconteçam novas e enriquecidas viagens.
Um beijinho grande
Para mim é o seu melhor texto. Indubitavelmente.
E sem bajulação, apenas lhe digo:
"Gosto muito de viajar consigo"
Faz-me pensar e ajuda-me a criar.
(Camus...quem iria ter a ideia de que um filho não chora a morte da sua mãe?
Apenas Camus!)
não senhor, a citação não é obscura
sim, é redutora
Camus tendia para o obscuro, mas eu também
claro, claro, é este texto e mais vale dez pássaros a voar do que um na mão, se não
o que seria da liberdade?
e assim contradisse!
:)
E eu não digo mais nada!
Beijinhos
Filomena
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