na noite europeia, fotografia via satélite
A fragmentação da Europa constitui a principal força de
bloqueio da sua própria união e do ataque efetivo à crise que a ela e à moeda
única as assolam.
Para além do que a sua
unidade representa em termos políticos e institucionais, lembremo-nos que nunca
a Europa conheceu um período que com
o contributo institucional decisivo se encaminha para as sete dezenas de anos
de paz na sua história, o que significa que há cada vez menos testemunhas
vivas, presenciais, do período que a este o precedeu, quando falo de
fragmentação a que é que me poderei estar a referir?
Falo das mentalidades
fragmentadas que, não acompanhando a sua construção, ao cidadão europeu fazem
percecionar o que nela se passa.
Independentemente da sua
nacionalidade, o cidadão europeu tem da Europa
a perceção distorcida que resulta do ângulo próprio da sua nacionalidade.
Exemplos:
Um cidadão do norte dirá
que não é justo ter de sustentar as debilidades de um país do sul da Europa;
Do mesmo modo, um cidadão
do sul dirá que não é justo que aqueles do norte da Europa não sejam mais solidários, isto é, que não desatem os
cordões à bolsa.
Dando de barato que tanto
o cidadão do norte como aquele do sul nada ou pouco sabem sobre o que de concreto se
passa nos países da contraparte, qual dos dois é que tem razão?
Ambos e nenhum.
Para além do problema
linguístico, em si mesmo uma vantagem enriquecedora mas também uma dificuldade
acrescida que cava a incompreensão que daí, entre ambos, resulta, existe um
problema de mentalidade ou de escala.
A escala nacional, diria,
que distorce, seja num como no outro sentido, aquele que é o interesse geral e
tanto mais quanto a globalização, com crescente agressividade, a olhos vistos
se aprofunda.
Ambos têm razão porque
visto da sua particular e distorcida perspetiva, por igual e perante as
assimetrias que a ambas as regiões as caracterizam, a ser assim, os dois
cidadãos em causa sentem poder vir a ser ou estar a ser já, por elas,
prejudicados.
Nenhum deles tem razão
porque um, seja ele qual for, já não pode passar sem o outro, isto é, pertencem
ambos a um tecido integrado e que se integra cada vez mais e até porque essas
assimetrias, bem vistas as coisas, são, eminentemente, europeias.
Tecido que, face a
globalização imparável, não tem outro remédio senão aprofundar a sua integração.
Já não há como voltar
atrás e pesem as mentalidades que não acompanham as necessidades de união.
We are all connected!
No entanto e uma vez que
as nacionalidades e com exceção para o Parlamento
Europeu, são, em si mesmas, o garante do tecido democrático do rendilhado
europeu, acresce que os políticos continuam a jogar, sobremaneira e pela
natureza das coisas, nos tabuleiros domésticos acentuando ainda mais a ilusão
de que o que se passa no interior dos respetivos países é decisivo e o que se
joga fora, no tabuleiro europeu, é secundário o que acentua ainda mais esse
bloqueio de que falo e que, qual fosso, tanto emperra a Europa como um todo.
Paradoxo dos tempos que
passam.
Os média, também eles,
pouco ajudam a contrariar este bloqueio de que falo, isto é, as perspetivas
distorcidas de que cada cidadão europeu parte.
Muito antes pelo
contrário:
Os episódios da vida
doméstica de cada Estado que à Europa
a constituem assumem um tal peso e dimensão que o resto parece ser secundário
quando o que se passa é exatamente o inverso.
Como ultrapassar esse
bloqueio que, antes de mais, o é das mentalidades?
Há apenas uma maneira e
partindo do princípio incontornável mas cada vez mais difuso o que, em si
mesmo, é muito preocupante, de que todos temos a beneficiar reforçando a
unidade e de que todos, fragmentados, não apenas sairemos prejudicados como não
iremos a lado nenhum.
Olhe-se para o mundo e deixemo-nos
de comportar, teimosamente, como avestruzes com as cabeças enterradas na areia.
Essa maneira consiste em,
rapidamente, nos anteciparmos politicamente fechando o edifício que deve
encimar a União Europeia!
Como?
Criando uma instância
simples e ágil, pelas suas convicções eminentemente representativa, insuspeita,
sem o ser executiva e de referência, preenchida por quem tendo dado provas de
estar do lado, indefetível, da Democracia e da União Europeia, como um novo impulso, a aprofunde cada vez mais e à
Europa, decidida e resilientemente,
aproximando pontos de vista, contribua para a integrar, rematando e blindando o
edifício político em que esta se tem, sem outra alternativa, de constituir.
Tão decidida e resilientemente
como a atitude a que, de há muito, na equidistância que sempre me tem caracterizado,
permaneço fiel!
Equidistância quer em
relação às instituições, às nacionalidades e às forças políticas, sem filiação
partidária mas no respeito de todas elas, garante dessa mesma equidistância, na
salvaguarda da separação de poderes e do Estado de Direito que não me inibe,
como o poderia, de expressar as minhas convicções e que pelo meu percurso
público, tanto aqui como ali, me torna, por insuspeito, suscetível de
congregar a confiança tão necessária mas em tão tamanho défice.
Saibamos, todos, agir com
rapidez, blindando politicamente a Europa!
Escrevo, é certo, em
português mas o português é parte integrante do mosaico linguístico europeu.
se conseguires harmonizar a tua Casa poderás vir a estar
em condições de harmonizar a Casa Comum
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Setembro de 2012
1 comentário:
Seria lindo Jaime, sim, um sonho que sempre tive, um mundo, neste caso uma Europa sem sentimentos nacionalistas, embora preservando as culturas, mas sem fronteiras e grandes assimetrias, que todos pudéssemos ter esse espírito livre e generoso de que nos fala aqui.
Vou passando e vou-o lendo, embora o tempo não cresça muito para escrever.
Um abraço.
Branca
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