sexta-feira, 14 de setembro de 2012

EM NOME PRÓPRIO

maior virtude, pináculo do Arco da Rua Augusta, Lisboa
 

 

Para que ao discurso político democrático lhe seja conferida a adesão com a realidade que lhe falta e que resulta do facto de ser feito em nome de uma teoria, de uma perspetiva, de um modelo ou suportado por um grupo, em qualquer caso, feito no plural, a ele lhe tem de ser acrescentada a dimensão singular, virtude maior sem a qual as pessoas, de facto, acabam por não passar de números, de abstrações, de realidades descartáveis.
Sem o por em causa, nem aos grupos e muito menos às instituições, o discurso político democrático tem de sair da escola em que se encontra, de há muito, enclausurado.
O discurso político tem de se referenciar, ele mesmo, ao instituto soberano que é o cidadão comum.
Instituto soberano de referência.
O indivíduo pode, simbolicamente, deve mesmo, prevalecer sobre as instituições democráticas que, sem que as ponha em causa, têm de o ter, sob pena de se desumanizarem cada vez mais, como alvo e fim último.
E é esse caracter simbólico, o do instituto singular e soberano de referência, que pode salvaguardar esse desidrato.
O desidrato de que o discurso político, sem tacticismos nem demagogias, sem disfuncionalidades tão pouco, se dirige e visa resolver os problemas das pessoas concretas.
Já agora, também, só tendo em vista o cumprimento desse desidrato é que se fecha o cume do arco em pináculo que à República Democrática, como valia, plenamente a justifica e à Monarquia Constitucional a complementa.
O tempo das revoluções, entendidas como uso da violência para atingir os seus fins, no mundo democrático, acabou.
 
Em nome próprio.
É em nome próprio e por provas dadas que a Vós me dirijo.
Vós, o coletivo nós, o institucional, o supranacional nós.
Olho para dentro e projeto-me para o exterior.
Sem escamotear o eu, o meu eu.
Conferindo-lhe dimensão própria.
A dimensão que ao coletivo lhe fornece enchimento, plausibilidade, salvaguardando sempre a equidistância de todas as legítimas diferenças, das múltiplas singularidades singulares ou coletivas.
Sem renegar, tão pouco, as minhas convicções embora frisando que são minhas e que, no respeito por todas as outras, a elas tenho direito.
Num permanente, sistemático esforço de convergência global.
Sublinhando o que nos une e pesem embora todas as nossas salutares diferenças.
Num discurso declinado na primeira pessoa do singular que em todas as outras se faz por rever.
Sem disfuncionalidades.
Num tempo de incontornável globalização, com todos os riscos de desumanização que, consigo, transporta, o sublinhar desta dimensão comum e singular torna-se tanto mais urgente quanto coletivos e democráticos, candentes são todos os nossos anseios que, neste quadro, se tornam mais expedita e efetivamente resolúveis ainda que possam obrigar a maiores ou menores sacrifícios sendo que mais a mais, para muitos já terá sido ultrapassado o razoável de todos os limites.
Tão expeditamente quanto a urgência dos desafios que temos pela frente e que à nossa sobrevivência comum, com qualidade, aquela que em décadas foi a pulso construída a fazem, sobremaneira, perigar.
Como, aliás, se constata.


na inabalável fidelidade democrática
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Setembro de 2012
 
 
 
 

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