Anteontem, dia um de
Junho, no telejornal das vinte horas da RTP1
e a propósito do desemprego, José Rodrigues dos Santos e logo nos primeiros minutos após a sua abertura,
apontando para a curva do desemprego sempre crescente desde o ano de 2001 em Portugal e não desde que o país foi
intervencionado, numa notícia de choque para alguns, diria, apontava como
explicação para o facto esse ano coincidir com a adesão de pleno direito,
diga-se, da China à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Por outro lado, António Borges, ex-responsável do Fundo Monetário Internacional e atual Conselheiro do Governo para as Privatizações
afirmou, recentemente, que a diminuição
de salários não é uma política antes uma urgência.
Se a primeira das notícias
aqui reportadas e tal como foi apresentada teve um efeito de choque, pelo menos
assim a senti e pese embora em nada me parecer novidade embora ou por maioria
de razão 2001 coincida, também, com a então recente adesão de Portugal à moeda única que aplaudi mas que foi omitida, já a segunda e
vinda de quem vem, em não menor efeito de choque mas por razões de congruência,
a mim me pareceu carente de toda a autoridade uma vez que de pronto levanta a
questão de saber em que é que o próprio estará ou estaria disposto a concorrer,
não só pelo exemplo mas também chamando a si a iniciativa, na prossecução desse
seu tão inadiável como premente objetivo.
Há coisas que vindas de
quem vêm perdem toda a verosimilhança e se sujeitam, pura e simplesmente, ao escárnio
público.
Determinação.
Há muito que me parece, de
facto, ser insustentável a concorrência desigual que à China a colocou diante de todos os seus parceiros desde a adesão
desta à OMC e, sobretudo, persistindo
esta no dumping que à sua moeda a
mantém artificialmente baixa mas não menos me parece ser, igualmente e por
maioria de razão sustentável, quando outros e nomeadamente os europeus, à sua
própria moeda a mantêm artificialmente alta embora agora em progressiva quebra
nos mercados cambiais.
Em ambos os casos trata-se
de manter as moedas artificialmente longe do seu valor real e a isso chama-se,
curto o incisivo, dumping e não
apenas quando à divisa se mantém artificialmente baixa!
Para quem tenha dúvidas,
consulte-se um simples e conceituado dicionário de português.
Tenho escrito textos como
os que, cronologicamente, se seguem, Contração Monetária e Crescimento Económico, Efeito Dumping, Fiel da Balança e mais
recentemente Política ou Monetarismo, entre
outros onde, determinado, sublinho que sem haver equiparação das moedas também
não há comércio livre e a Europa, a quem
a curva do gráfico apresentado por Rodrigues dos Santos poderia, estou certo e
ajustada, ser genericamente aplicada, tem dessa distorção sido vítima,
autoflagelando-se como se dessa realidade crescente e incontornável que se vai
tornando a China se não desse conta
qual avestruz que persistisse em meter a cabeça na areia.
A verdade, porém, eu
poderei dizê-lo com outra autoridade já que o que aufiro seria motivo de
chacota essa, no entanto, comiserativa, é que ambos, afinal, Rodrigues dos Santos como António
Borges não deixam de ter ou espelham cada qual uma parte da razão que é
mais vasta e complexa e que a ambas as análises, parcelares que o são quando
assim apresentadas, as engloba.
Isto não sem que me sinta
à vontade para reafirmar que tudo vai, também, de quem o diz e que há quem não esteja
em condições profissionais, éticas ou deontológicas, de autoridade política, se
o quiserdes, para tão secamente, desta ou daquela maneira, sobre o assunto se
pronunciar:
Baixar salários?
Que atrevimento e mais a
mais quando, desigualmente, já baixaram tanto!
Subir salários?
Porque não!?
Esqueceram-se ambos, António Borges e Rodrigues dos Santos, de dizer que há outra maneira de a ambas as
coisas se fazerem sem que, internamente, uns e outros disso sofram tão
desigualmente as consequências e contrariando, a prazo, o desemprego:
Equiparando-se,
determinadamente, as divisas, isto é, baixando a cotação do Euro que se mantém artificialmente alto
e subindo a cotação do Yuan que se
mantém artificialmente baixo tendo o Dólar
como fiel da balança em benefício global e contrariando, por esta via, quer as
deslocalizações como o desemprego que consigo arrastam e criando assim
condições para que o comércio, globalmente, também floresça colocando a todos
em pé de igualdade e contribuindo, por essa via, para o crescimento económico
mais equilibrado, isto é, para uma política
global de desenvolvimento sustentável.
Essa sim, mais do que
urgente, verdadeiramente candente!
$1 = €1 = £1 = ¥1
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Junho de 2012
2 comentários:
eu de cotações, subidas e descidas artificiais
não me sei pronunciar
mas é fácil mandar os outros pagar os impostos
e ainda mais fácil, baixar o salário dos outros
a tua determinação é determinante
Jaime,
Eu, tal qual a Manuela,sobre esse assunto não sei opinar,mas fico aqui a escutar essa música de fundo, tão bonita...
Beijinhos que são dois,
Linda Simões
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