domingo, 3 de junho de 2012

DETERMINAÇÃO




Anteontem, dia um de Junho, no telejornal das vinte horas da RTP1 e a propósito do desemprego, José Rodrigues dos Santos e logo nos primeiros minutos após a sua abertura, apontando para a curva do desemprego sempre crescente desde o ano de 2001 em Portugal e não desde que o país foi intervencionado, numa notícia de choque para alguns, diria, apontava como explicação para o facto esse ano coincidir com a adesão de pleno direito, diga-se, da China à Organização Mundial do Comércio (OMC).
Por outro lado, António Borges, ex-responsável do Fundo Monetário Internacional e atual Conselheiro do Governo para as Privatizações afirmou, recentemente, que a diminuição de salários não é uma política antes uma urgência.
Se a primeira das notícias aqui reportadas e tal como foi apresentada teve um efeito de choque, pelo menos assim a senti e pese embora em nada me parecer novidade embora ou por maioria de razão 2001 coincida, também, com a então recente adesão de Portugal à moeda única que aplaudi mas que foi omitida, já a segunda e vinda de quem vem, em não menor efeito de choque mas por razões de congruência, a mim me pareceu carente de toda a autoridade uma vez que de pronto levanta a questão de saber em que é que o próprio estará ou estaria disposto a concorrer, não só pelo exemplo mas também chamando a si a iniciativa, na prossecução desse seu tão inadiável como premente objetivo.
Há coisas que vindas de quem vêm perdem toda a verosimilhança e se sujeitam, pura e simplesmente, ao escárnio público.

Determinação.
Há muito que me parece, de facto, ser insustentável a concorrência desigual que à China a colocou diante de todos os seus parceiros desde a adesão desta à OMC e, sobretudo, persistindo esta no dumping que à sua moeda a mantém artificialmente baixa mas não menos me parece ser, igualmente e por maioria de razão sustentável, quando outros e nomeadamente os europeus, à sua própria moeda a mantêm artificialmente alta embora agora em progressiva quebra nos mercados cambiais.
Em ambos os casos trata-se de manter as moedas artificialmente longe do seu valor real e a isso chama-se, curto o incisivo, dumping e não apenas quando à divisa se mantém artificialmente baixa!
Para quem tenha dúvidas, consulte-se um simples e conceituado dicionário de português.
Tenho escrito textos como os que, cronologicamente, se seguem, Contração Monetária e Crescimento Económico, Efeito Dumping, Fiel da Balança e mais recentemente Política ou Monetarismo, entre outros onde, determinado, sublinho que sem haver equiparação das moedas também não há comércio livre e a Europa, a quem a curva do gráfico apresentado por Rodrigues dos Santos poderia, estou certo e ajustada, ser genericamente aplicada, tem dessa distorção sido vítima, autoflagelando-se como se dessa realidade crescente e incontornável que se vai tornando a China se não desse conta qual avestruz que persistisse em meter a cabeça na areia.

A verdade, porém, eu poderei dizê-lo com outra autoridade já que o que aufiro seria motivo de chacota essa, no entanto, comiserativa, é que ambos, afinal, Rodrigues dos Santos como António Borges não deixam de ter ou espelham cada qual uma parte da razão que é mais vasta e complexa e que a ambas as análises, parcelares que o são quando assim apresentadas, as engloba.
Isto não sem que me sinta à vontade para reafirmar que tudo vai, também, de quem o diz e que há quem não esteja em condições profissionais, éticas ou deontológicas, de autoridade política, se o quiserdes, para tão secamente, desta ou daquela maneira, sobre o assunto se pronunciar:
Baixar salários?
Que atrevimento e mais a mais quando, desigualmente, já baixaram tanto!
Subir salários?
Porque não!?
Esqueceram-se ambos, António Borges e Rodrigues dos Santos, de dizer que há outra maneira de a ambas as coisas se fazerem sem que, internamente, uns e outros disso sofram tão desigualmente as consequências e contrariando, a prazo, o desemprego:
Equiparando-se, determinadamente, as divisas, isto é, baixando a cotação do Euro que se mantém artificialmente alto e subindo a cotação do Yuan que se mantém artificialmente baixo tendo o Dólar como fiel da balança em benefício global e contrariando, por esta via, quer as deslocalizações como o desemprego que consigo arrastam e criando assim condições para que o comércio, globalmente, também floresça colocando a todos em pé de igualdade e contribuindo, por essa via, para o crescimento económico mais equilibrado, isto é, para uma política global de desenvolvimento sustentável.
Essa sim, mais do que urgente, verdadeiramente candente!


$1 = €1 = £1 = ¥1
 



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Junho de 2012

2 comentários:

manuela baptista disse...

eu de cotações, subidas e descidas artificiais

não me sei pronunciar

mas é fácil mandar os outros pagar os impostos

e ainda mais fácil, baixar o salário dos outros


a tua determinação é determinante

Linda Simões disse...

Jaime,

Eu, tal qual a Manuela,sobre esse assunto não sei opinar,mas fico aqui a escutar essa música de fundo, tão bonita...


Beijinhos que são dois,

Linda Simões